sábado, 9 de setembro de 2017

Judô: O tatami - Agora é mole... Mas já foi dureza



Normalmente em português escrevemos e falamos tatame, mas a escrita e a pronúncia correta é tatami. Este termo deriva do verbo tatamu, que significa dobrar ou empilhar, muito provavelmente porque no início, os tatames eram um piso que caso não estivesse em uso poderia ser dobrado ou empilhado. O tatame (esteira) é um elemento chave da decoração nipônica. Faz parte da milenar cultura japonesa o ato de sentar e/ou deitar diretamente no chão em cima de esteiras. No início a palavra tatami era designada para descrever os objetos dobráveis ou os usados para aumentar a espessura para as pessoas poderem se acomodar em cima.

Sua origem remonta a era primitiva quando os japoneses tinham o hábito de trançar vegetais nativos. Os camponeses costumavam usar muitos trançados feitos com palha de arroz, pois era um material abundante nos campos de cultivo. Os trançados feitos com um junco chamado igusa, uma planta usada na confecção de têxteis no Japão há pelo menos dois mil anos, que por ter uma superfície lisa, resistência, flexibilidade e comprimento ganharam destaque na sociedade antiga e passaram a ser utilizados nas cerimonias religiosas e por nobres, inclusive eles começaram a ser chamados de goza, lugar de sentar, sendo destinados para os deuses e cerimonias antigas.

Foi a partir do período Heian (794-1192), que o tatami começou a tomar a forma conhecida nos dias de hoje. Naquela época as casa dos nobres tinham muitos aposentos e os tatamis (feitos de palhas de arroz firmemente atadas e cobertas com uma fina esteira de igusa) eram colocados sobre o assoalho de madeira nos locais onde eram necessários assentos. Eles ainda não eram utilizados para forrar todo o piso.
Mas só a partir do período Muromachi (1336–1573) os tatamis que originalmente eram um item de luxo exclusivo da nobreza, gradualmente tornaram-se acessíveis e comuns em todas as casas, principalmente também pela popularização da Cerimônia do Chá.

Um tatami tradicional japonês é feito basicamente de três componentes:
Tatami-omote – é o tecido da superfície, capa tecida de Igusa (Juncus Effusus) que é uma planta aquática que cresce melhor na parte sul do Japão,
    
Tatami-doko – é o núcleo, base feita comumente de palha de arroz compactada, pois esta oferece um perfeito grau de firmeza e também é muito durável,
Tatami-beri - é a borda decorativa de acabamento feita de seda, linho ou algodão e que corre ao longo da parte mais comprida. Além de dar o toque de requinte à peça, serve para prender o núcleo à superfície de esteira. No passado, o design multicolorido e atraente expressava o status social de uma família ou a posição social de um individuo na sociedade.
Na época em que Jigoro Kano treinava, os tatamis eram exatamente assim. Hoje em dia, um tatame desses custa uma pequena fortuna por aqui no Brasil, tornando absurdamente custoso manter um dojô de um tamanho razoável. Além da difícil manutenção, tem também o fato de que a palha da esteira dava algumas queimaduras se friccionada contra a pele. Ralar a cara na palha lutando não devia ser um negócio legal.

Aqui no Brasil, quem é mais antigo no judô, deve se lembrar de tatamis confeccionados também com núcleo de palha de arroz, mas recobertos com tecido (lona), no lugar da esteira de igusa. mas segundo os mais experientes, os tatames oficiais eram assim por aqui desde a década de 60.

Os tatamis oficiais de hoje são fabricados na medida de 2x1m com espessura de 40 mm de espuma de alta densidade, constituída de grânulos de poliuretano de 8mm aglutinados com adesivo especial com resistência a compressão de 600 a 400kg/cm², recobertos com uma lona de vinil com textura efeito palha natural com tecido de reforço de poliéster, especial para a pratica desportiva. que imita a textura do igusa no tatami tradicional. Algo parecido com isto, numa visão recortada:
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Já nos dojôs locais, era comum até não muito tempo atrás, o tatame todo ser uma grande área cujo núcleo era feito com raspas de pneu e coberto com uma lona. Ainda existem muitos dojôs de raspa de pneu com certeza.

Atualmente a grande utilização é o tatami fabricado com EVA, (é a sigla de acetato-vinilo de etileno que deriva do inglês: Ethylene Vinyl Acetate ou etileno acetato de vinila). Essa espuma sintética é produzida a partir de seu copolímero termoplástico. O baixo custo de produção deste material o torna muito útil para diversas aplicações, inclusive para a fabricação de tatamis, é uma resina termoplástica derivada do petróleo especialmente desenvolvida para absorção de impactos com ótima memória de retorno, atóxico, resistente a água, revestido com película siliconada antiderrapante, garantindo maior segurança e facilidade na limpeza.

Os tatamis de EVA. são fabricado em placas de 1x1m e 2x1m e apesar de serem apresentados em espessuras de 10mm a 40mm, os recomendados para prática de judô têm no mínimo 30mm de espessura para melhor absorção de impacto e costumam já ter os encaixes tipo “quebra-cabeças” pra facilitar a montagem e ficar com mais firmeza. Embora este material seja relativamente barato e prático, infelizmente não possui uma vida útil muito longa se não for muito bem cuidado. Se for montado e desmontado em todo treino com certeza não vai durar muito. A reclamação de quem utiliza os tatamis de EVA. é que não possuem uma rigidez adequada para que as quedas do judô sejam executadas da melhor forma. Eles têm muito rebote, isto é, você “quica” muito quando cai. Outra coisa que incomoda, é que eles também não oferecem um deslize fluido para o tsuri ashi, o passo arrastado do judoca.

Se você pratica katás num tatami desses, deve saber do que está sendo comentado aqui, mas apesar de tudo, se tem uma coisa que se possa falar com toda convicção sobre qualquer tipo de tatami é que, sem eles, praticar judô seria no mínimo, muito mais doloroso!

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