quarta-feira, 15 de março de 2017

Judô: A Faixa feminina


O comitê executivo da Federação Japonesa de Judô anunciou nesta data, 13 de março de 2017, nova regulamentação e aboliu a faixa preta feminina com uma listra branca usada em competições internas na terra do judô para diferenciar homens e mulheres no tatame. A partir de agora, tanto homens, quanto mulheres usarão a faixa preta normal, sem listra, nos torneios domésticos, como já acontece nas competições da Federação Internacional de Judô.

A prática de diferenciação de gênero pelo uniforme vem há muito tempo sendo criticada como uma medida sexista. A própria Federação Internacional de Judô aboliu a faixa listrada em 1999 em competições internacionais.

Antigamente as faixas femininas possuíam uma tira branca no meio da faixa no sentido longitudinal para diferençá-las das faixas masculinas, não se sabe ao certo qual a utilidade desse método, mas em algumas escolas japonesas, ainda hoje, se vê essa tradição.

    
Pesquisando um pouco sobre isso, encontrei um pouco sobre o assunto no capítulo II do livro “Mulheres no Tatame: O judô feminino no Brasil”, escrito por Gabriela Conceição de Souza e Ludmila Mourão, o qual reproduzo abaixo:

...Jigoro Kano respeitava os limites e os valores de sua cultura, que pregava ideias como: “As mulheres não são feitas para lutar, e sim, para procriar”; esta ideia também existia no Ocidente. Entretanto, Kano, como educador, questionava esses valores e se interessava em desenvolver uma arte que não tivesse cunho violento e, portanto, não pudesse pôr em risco as condições físicas das mulheres, caso essa fragilidade realmente existisse, ou sobrecarregar seus corpos. Além disso, acreditava que a suavidade e a delicadeza que a cultura feminina trazia para as lutas configuravam-se como características importantes para aquilo que considerava o ideal do espirito judoístico. Partindo desse principio, Kano dá início às aulas de judô para mulheres em sua própria casa (Sugai e Tsujimoto, 2000). Por outro lado, as diferentes características do treinamento feminino e do masculino eram representadas inclusive na vestimenta própria do judô. O quimono utilizado para a prática da luta era o mesmo para ambos os sexos. Entretanto, ao longo da faixa feminina, longitudinalmente, deveria haver uma lista branca, que não existia nas faixas masculinas (Kano, 1994)...

... A primeira aluna do mestre Jigoro Kano foi Sueko Ashiya, em 1893, mas também participavam das aulas a esposa de Kano, Sumako, e algumas amigas (Sugai e Tsujimoto, 2000)...

...Somente em 1926, Jigoro Kano criou uma equipe só de mulheres na escola Koubun Gakuin, em Tóquio – a JoshiBu -, e a primeira mulher faixa preta foi Kozaki Kanoko, em 1933, cuja faixa apresentava a listra branca no meio para diferençá-la das faixas masculinas...

No Brasil não há notícia do uso da listra branca na faixa de judô, se houve já caiu em desuso há muito tempo.


Vamos falar mais um pouquinho sobre faixa de judô:

Por que não se lava a faixa do judô? Essa pergunta quando feita traz respostas das mais variadas, como pelo fato dela desbotar, superstição, etc.

Desbotar é sempre possível, dependendo da qualidade da faixa e a forma de lavagem e em termos de superstição, não se pode lavar porque a faixa demonstra todo seu conhecimento e lavando ele vai embora junto com a água (depois de mais velhos nós sabemos que isso não existe, mas para as crianças funciona bem).

Entretanto, a origem desta tradição tem uma explicação até lógica. Durante muito tempo, no Japão só existiam duas cores de faixa: branca ou preta. No intervalo entre uma e outra não havia como fazer a distinção entre alunos mais graduados e menos graduados. Ou melhor, havia, o judô nessa época era praticado no chão duro, muitas vezes na terra, sendo que, quanto mais suja a faixa, significava que o aluno treinava há mais tempo. Lavar a faixa então representaria um retrocesso.

O aluno só passava da faixa branca quando esta literalmente estava marrom de sujeira, a faixa marrom então significava que o aluno já treinou tanto, que ela ficou daquela cor.

Com o passar do tempo, foi introduzida então mais uma cor de faixa e a escolha da cor é óbvia: a marrom. Até hoje no Japão só existem essas três cores de faixa: a faixa branca japonesa que corresponde até aos quatro primeiros graus brasileiros (branco, azul, amarelo e laranja), a faixa marrom que corresponde aos nossos três graus seguintes (verde, roxo e marrom) e a preta que corresponde igualmente à nossa preta.

A origem das faixas coloridas, bem como, o significado das cores particulares, ainda é encoberta de mistérios, e pode permanecer perdida na história. Embora não tenha deixado nenhuma razão registrada para as várias cores usadas, o Dr. Kano deixou alguns indícios. De acordo com sua doutrina filosófica, não há limites para as melhorias e para o progresso que se pode ter no seu treinamento de judô. Assim, o Dr. Kano acreditou que se alguém conseguisse um estágio mais elevado do que o décimo dan, retornaria consequentemente à faixa branca, terminando desse modo o círculo completo do judô, como o ciclo da vida.

No caso desta eventualidade, deve-se salientar que o Kodokan decidiu que a faixa usada por tal pessoa deveria ser aproximadamente duas vezes mais larga que a faixa comum, para impedir que os novatos confundissem o significado. Até agora, o Dr. Kano é a única pessoa com a graduação de décimo segundo dan e com o título de Shihan.

Eventualmente, a habilidade ou o nível do judoca vieram a ser denotados pelas faixas coloridas usadas em torno da cintura com o judogi. No Japão, as faixas brancas são geralmente usadas por todas as graduações de kyu, embora algumas escolas usem também a faixa marrom para indicar os níveis mais elevados do kyu. As faixas azul, amarela, alaranjada, verde, e roxa, usadas pelos níveis intermediários do kyu tiveram origem na Europa e foram importadas para o sistema dos Estados Unidos durante o início dos anos 50.

As faixas pretas são tradicionalmente usadas pelos praticantes competitivamente graduados, primeiro dan (shodan) até o quinto dan (godan). Uma faixa vermelha e branca é usada pelos níveis merecidos pelo serviço prestado ao judo, sexto dan (rokudan) até o oitavo dan (hachidan), e as faixas inteiramente vermelhas são reservadas para o nono dan (kudan) e o décimo dan (judan).