sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Cumprimentos no Judo




A prática do judô é regida por cortesia, respeito e amabilidade. A saudação é o expoente máximo dessas virtudes sociais. Através dela expressamos um respeito profundo aos nossos companheiros.

Por que temos que nos curvar em cumprimento? Esta é uma pergunta muito comum entre os novos judocas. O cumprimento não tem nenhum significado religioso. É simplesmente uma forma de demonstrar respeito e humildade. O cumprimento em japonês é “rei” e o padrão Kodokan de etiqueta para o Judô é que “O Judô começa com um cumprimento e termina com um cumprimento” (“re hajimari ni, rei ni owaru“). O rei personifica o segundo princípio de Kano Shihan – Jita Kyoei, ou seja, o respeito e benefício mútuo, o respeito que cada judoca mostra ao outro. É respeito pelo seu parceiro de treinamento e respeito por qualquer adversário, não importa qual o nível de habilidade. Ele demonstra apreço e humildade de um judoca para outro judoca que está lhe permitindo ter alguém para praticar.

É um sinal de respeito que faz parte da etiqueta do Judô permitindo a todos nós praticar e melhorar nossas habilidades de forma segura e de ensinar e transmitir conhecimento de uma forma respeitosa. A adesão de cada dojo para esta etiqueta formal do cumprimento varia muito, na costa leste [dos EUA]. Alguns fazem o cumprimento em pé, alguns se cumprimentam ajoelhado, enquanto outros não se curvam em nada. Alguns dojos exigem que se cumprimente quando se entra e sai do dojo e outros não. Na Costa Oeste [dos EUA], onde há uma forte herança japonesa, a maioria dos dojos adere às regras rígidas de etiqueta do judô e cumprimentam da maneira formal, incluindo o cumprimento, ao entrar e sair da área de treino.

A adesão ao cumprimento formal define o tom de respeito do dojo. Quando a tradição do cumprimento é relaxada, então a atitude e disciplina do dojo segue o exemplo. É recomendável que o cumprimento na etiqueta apropriada seja parte da experiência de judô em cada treino.

Como o cumprimento deve ser realizado? Começamos com a “posição de atenção” a posição chamada “Kiotsuke“, com a cabeça erguida e voltada para a frente, com as palmas das mãos voltadas para dentro, nas laterais do corpo. Além disso, há o “sentar-se em atenção”, que é a posição chamada “Seiza“.

O cumprimento tem duas posturas diferentes. O primeiro é o cumprimento de pé, chamado de “ritsu-rei” em japonês. O cumprimento em pé é iniciado a partir da posição em pé de Kiotsuke deslizando as mãos para cima do joelho ou ao lado do corpo e a cabeça inclinada para a frente em cerca de 20-30 graus. Ritsu-rei é comumente usado quando se pratica com um parceiro o tachiwaza.

O segundo cumprimento, a maneira mais educada e formal de se curvar sobre o tatame, é referido como “O cumprimento ajoelhado” ou Za-rei, que começa a partir da posição seiza kiyotsuke, a postura formal, ajoelhado. Aqui começamos ajoelhados na posição de atenção, seguimos em frente com as palmas das mãos sobre as coxas, viradas para dentro. Za-rei é feito através de, lentamente, abaixar a cabeça para frente e colocando as mãos sobre o chão, voltadas para dentro, com as palmas para baixo na frente dos joelhos. O Za-rei é comumente usado quando se pratica com um parceiro o newaza.

No início da aula, todos os alunos se alinham de frente para o sensei. A classe, em seguida, assume a posição de seiza, a posição de atenção ajoelhada. O estudante mais graduado pode então anunciar “kiyotsuke” e depois “sensei ni rei“. No final da aula todos os alunos se alinham com o aluno mais graduado anunciando “Kiyotsuke” seguido de “Mokuso“. Então o sensei bate palmas ou dá o comando de Yame e o aluno mais graduado anuncia “sensei ni rei“. Em alguns clubes, o comando “jyozan-ni-mukate” é o seguinte. Mais uma vez, todos cumprimentam no comando “rei” e, posteriormente, os alunos voltarão a se direcionar para o sensei e concluir a aula, curvando-se. Este cumprimento final é simplesmente uma forma de agradecer. Dependendo da tradição do clube, diferentes etiquetas de cumprimento são usadas.

Em competições, o cumprimento de pé é necessário no início da luta e no final. Este é formalizado nas regras da FIJ de competição.




Mas o que significa cada um dos termos ditos durante o início e final das aulas? A ordem e os termos apresentados abaixo não são necessariamente realizados igualmente por todos os dojos do mundo. De acordo com a região, cultura local, formação dos senseis, existem variações na forma como se iniciam e finalizam os treinos. Portanto, se seu dojo não executa como descrito abaixo, não tem problema, é só uma variação cultural.

Em geral os treinos em grande parte dos dojos de judô espalhados pelo mundo usam esta forma, normalmente, no início do treino, o sensei solicita a todos que alinhem, por ordem de faixa. Em seguida, o sensei ou o mais graduado no momento inicia o procedimento de saudação, conforme abaixo:

Kiotsuke ! – Significa “atenção!”. Quando o sensei diz “kiotsuke“, todos devem parar, estar em formação e esperar pela próxima fala do sensei.

Shomen ni ! – Significa “virem-se de frente para a parte principal do dojo!”, o que significa olhar para o lugar de honra (“joseki“). A parte principal do dojo (shomen) é onde se encontra a bandeira do japão ou é onde a imagem do fundador do Judo, Jigoro Kano, é exibida, ou ainda, alguma outra homenagem aos principais mestres e fundadores do judô. A mesma ordem é dada em dojos de outras artes japonesas como o Karatê, então é na área principal do dojo (shomen) em que se encontra a homenagem aos fundadores da arte.

Rei ! – Significa “cumprimentem!”. Alguns dojos realizam as saudações ajoelhados (za-rei). Outros realizam as saudações em pé (ritsu-rei).

Sensei ni ! – Significa “virem-se para o Sensei!”. Neste momento, todos viram-se de frente para o sensei principal que se encontra no dojo.

Rei ! – Novamente, uma ordem para que todos cumprimentem o sensei. Neste momento, por ser o início do treino, os alunos cumprimentam e juntos falam: “onegai shimasu”

Onegai Shimasu – É um termo às vezes difícil de traduzir literalmente para o português. Uma tradução próxima seria algo como “Por favor, permita que eu treine e aprenda com você”. É um termo que é carregado de valores como respeito, humildade e honra. Quando isso é dito no dojo pelos alunos, em direção ao sensei principal, significa que o aluno está se colocando na condição de aprendiz, que está aberto para ver, ouvir e prestar atenção em cada detalhe do que é ensinado pois ele reconhece a autoridade e experiência de quem está ensinando, e ele sabe que precisa caminhar muito para chegar neste nível.

Às vezes é possível também dizer “onegai shimasu” antes de fazer um randori ou um treino com um colega. Nesse caso, significa “estou disposto a aprender com você com muito respeito, honra e dignidade”. Alguns dizem que o termo “Oss” é uma abreviação de “onegai shimasu“, mas pela forma com que o termo “oss” é utilizado, principalmente no Brasil, isso não parece proceder.

Após o cumprimento ao sensei, a aula inicia-se de acordo com a dinâmica de cada dojo (aquecimento, alongamento, etc).

Novamente, ao final do treino, o sensei solicita que todos voltem à formação inicial, e o sensei ou o mais graduado inicia o procedimento para finalizar a aula:

Kiotsuke ! – “atenção!”.

Mokuso ! – É o comando que significa algo como “meditem!”. Mokuso” é o comando para fechar os olhos e começar uma forma de respiração e de meditação que visa a reduzir a freqüência cardíaca e limpar a mente. Muitos atletas relaxam e recordam as lições do dia e outros apenas relaxam da prática. Alguns dojos realizam o mokuso no início do treino também.

Yame ! - É o comando de voz para encerrar o Mokuso.

Kiotsuke ! – “atenção!” (novamente, para finalizar o mokuso).

Shomen ni ! – “Virem-se de frente para a área principal do dojo!”

Rei ! – “Cumprimentem!” – Novamente, pode ser za-rei ou ritsu-rei.

Sensei ni ! – “Virem-se de frente para o Sensei principal presente no dojo”

Rei ! – “Cumprimentem!”

E nesta hora, quando cumprimentam o sensei, os alunos cumprimentam e respondem “Arigatou Gozaimashita”.

Arigatou Gozaimashita – O termo “arigatou” significa um “obrigado” informal. Mais formalmente, ele pode vir acompanhado de “gozaimasu” ou “gozaimashita”. O que muda é apenas o tempo verbal. “Gozaimasu” é presente e “gozaimashita” é passado. Portanto, “arigatou gozaimashita” significa algo como “muito obrigado pelo que foi feito”. Dentro do contexto do dojo, esse termo é, assim como “onegai shimasu”, um termo carregado de valores. Significa algo como “Sensei, muito obrigado pela oportunidade que me deu de ter treinado e aprendido com você. Sou muito grato por isso.”

Terminado o cumprimento, em geral as pessoas cumprimentam umas as outras, e depois, começa o “Soji no jikan“, ou seja, a hora da limpeza. O momento em que todos os que usaram o dojo para treinar ajudam a varrer e limpar o dojo, para que ele esteja sempre limpo e higienizado.

Em geral, esta é a sequência de início e término de aula em dojos de artes marciais japonesas como Judô, Karatê, Aikido, Jiu-Jitsu, etc. Com algumas variações culturais, mas o procedimento geral se mantém, independente do lugar do mundo em que você se encontre.

Vocês sabem por que quando temos mais de um sensei no dojo, a saudação é feita com as palavras “Sensei Kata ni“?

Quando se diz “Shomen ni”, basicamente está se dizendo: “ao shomen” (parte frontal do dojo). Mas está implicito no comando que é para todos virarem-se em direção à parte frontal do dojo, para em seguida, vir o comando “rei”, para o cumprimento.

Então, também temos os seguintes comandos que podem ser utilizados durante o treino:

Sensei ni (ao professor) ou Senpai ni (ao mais velho). E, quando precisamos nos referir no plural, entra a palavra kata:

Sensei kata ni (aos professores) ou Senpai kata ni (aos mais velhos), ou seja, neste contexto é basicamente o plural.

Mas não se pode sair aplicando “kata” a todas as palavras para se tornar plural. Kata também possui diversos significados, como direção, um lado, um, etc. Exemplo: Kata-ha jime: estrangulamento com uma asa.

Não confundir “kata” com “kata”. Esse outro “kata” significa ombro: kata-guruma, giro sobre os ombros. Kata gatame, imobilização de um ombro.

Ah, e claro, para confundir mais um pouco:

Não confundir “kata” e “kata” com “kata”.

Este último significa “forma”: nage no kata – formas de projeção.

Parece confuso (e é) mas a lingua portuguesa também é cheia de armadilhas assim.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Judô: Técnicas de Sacrificio (Sutemi-Waza)


Baseado no artigo Técnicas de Sacrifício publicado por www.judoctj.com.br/

No Judô, existem várias técnicas de sacrifício que são as técnicas em que aquele que aplica o golpe (tori) precisa sacrificar sua posição de vantagem caindo junto com o oponente (uke). As Tecnicas de sacrifício (Sutemi-Waza) se dividem em dois grupos: As de sacrifício para a frente (Mae-sutemi-Waza) e as de sacrifício para o lado (Yoko-sutemi-waza).

O grupo das técnicas de sacrifício para a frente, conhecidas como Mae-Sutemi-Waza é composto pelas cinco seguintes técnicas:

Tomoe-Nage – Significa “arremesso circular”. O tori, ao sacrificar a sua posição, arremessa o uke na sua direção frontal.

Sumi-Gaeshi – Significa “reversão pelo canto”. Diferentemente do Tomoe Nage, o tori não coloca o pé no abdomem do uke, mas sim, o peito do pé na parte interna da coxa do uke, levantando-o e projetando-o em sua direção frontal.

Ura Nage - Significa “arremesso para trás”. Essa provavelmente foi uma técnica importada do Wrestling pelo Sensei Jigoro Kano, assim como o Kata-Guruma. Exige bastante força, e é muito utilizada até hoje também pelos Wrestlers.

Hikikomi-Gaeshi – Significa “puxada invertida”. Muito semelhante ao Sumi Gaeshi. Alguns dizem que a diferença é que as duas mãos do tori encontram-se no mesmo braço do uke, ou que para ser Hikikomi Gaeshi, é preciso segurar na faixa do uke. Alguns chamam esse golpe de obi-tori-gaeshi, por segurar na faixa. A Kodokan reconhece o obi-tori-gaeshi como Hikikomi Gaeshi.

Tawara-Gaeshi – Significa “reversão do saco de arroz”. Pelo nome da técnica, podemos imaginar uma pessoa carregando um caminhão com sacos de arroz. A forma como ele pega o saco de arroz e joga para dentro do caminhão é praticamente o mesmo movimento do tawara gaeshi. Excelente técnica para ser usada como contra ataque, quando o oponente ataca com um morote-gari.



O grupo das técnicas de sacrifício para o lado, conhecidas como Yoko-sutemi-waza era originalmente formado por quinze técnicas mas com a proibição das técnicas: Kani Basami e Kawazu Gake tanto para aplicação em Randori como em Shiai, acabou sendo composto pelas seguintes técnicas:

Uki-waza – Significa algo como “técnica flutuante” ou “técnica de flutuar”. Ao realizar um movimento semelhante ao yoko-ukemi na frente do oponente, ele “flutua”, é projetado pela força e peso do nosso próprio corpo ao cairmos no chão. O detalhe importante que caracteriza o uki-waza é que o oponente é projetado na direção frontal do seu próprio corpo.

Yoko-otoshi – Significa “queda de lado”. É uma técnica basicamente igual ao uki-waza. É o movimento do nosso corpo ao realizarmos o a queda lateral que projeta o oponente. A única diferença em relação ao uki-waza é a direção em que o oponente é projetado: enquanto que no uki-waza o oponente é projetado para a sua própria frente, no yoko-otoshi ele é projetado na direção lateral.

Tani-otoshi - Significa “queda no vale”. Exatamente a mesma mecânica do uki-waza e yoko-otoshi. O que o diferencia é a direção da projeção do oponente. Nessa técnica, o oponente cai para trás. A direção em que cai o oponente é a única diferença entre essas três técnicas.

Yoko-wakare – Significa “separação lateral”. Nessa projeção, utilizamos o peso do nosso corpo na frente do oponente para projetá-lo para o outro lado do nosso corpo. Como se o nosso corpo realizasse uma separação lateral: jogamos o oponente de um lado para o outro.

Yoko-gake - Significa “gancho lateral”. Uma técnica muito rara na prática, visto apenas em katas. Uma espécie de de-ashi-barai onde os dois caem juntos, lateralmente, sendo que a força da projeção está justamente no sacrifício realizado por quem aplica o golpe.

Daki-wakare – Técnica que significa “levantar e separar”. É uma técnica muito semelhante a técnica do wrestling. Como Jigoro Kano estudou muito o wrestling, inserindo movimentos dessa luta no Judô, é possível que essa técnica tenha sido aperfeiçoada tendo como inspiração essa luta, apesar de ser um golpe bastante intuitivo e natural.


Continuando...
Yoko Guruma – Significa algo como “giro de lado”. A sua aplicação lembra as técnicas de amortecimento laterais, como o Yoko Ukemi. Esta técnica é muito eficiente em lutas de jiu-jitsu, sendo que no jiu-jitsu, é importante que o tori não perca a posição, partindo para a montada (tate-shiho-gatame) logo após a projeção.

Soto-Makikomi – Significa algo como “enrosque por fora” O termo makikomi pode ser traduzido como enrosque, giro, volta, rodeio. A idéia é que o tori efetua a projeção utilizando um movimento circular em seu próprio eixo enrolando o uke em seu corpo, projetando-o.

O-Soto-Makikomi - É uma variação de Soto Makikomi quando a técnica é realizada com a perna do tori por fora do lado do uke.

Uchi-Makikomi – Enquanto “Soto” significa “por fora”, o termo “uchi” significa “por dentro”. É a mesma técnica, tendo como diferença mais significativa a posição do braço que auxilia o giro, que neste caso, estará por debaixo do braço do uke.

Hane-Makikomi – É uma técnica de makikomi que parte da posição e da movimentação técnica do Hane Goshi, ou seja, assim como no Hane Goshi, o uke é jogado para cima principalmente pela força do quadril, sendo que no hane makikomi, a partir daí, o tori passa o braço e realiza o giro de sacrifício.

Harai-Makikomi – É uma técnica de makikomi que parte da posição e da movimentação técnica do HaraiGoshi, ou seja, assim como no Harai Goshi, o uke é levantado e varrido pela perna do tori, mas a partir daí, o tori passa o braço e realiza o giro de sacrifício.

Uchimata-Makikomi – Assim como as duas técnicas acima, ele parte da posição e movimentação técnica do Uchimata.

Observação: O yoko-tomoe-nage é apenas uma variação do tomoe-nage. Ao invés de projetar o uke frontalmente, projeta-se lateralmente.



Algumas dessas técnicas são bem interessantes e podem ser utilizadas inclusive sem o judogi, como o yoko-wakare. Agora é só partir pra o treino e repetir muito, pois sem repetição, não há perfeição.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Judô: Fases de Aplicação de uma Técnica (golpe) e As Formas de Treinamento


As fases de aplicação de uma técnica são: Kuzushi (desequilíbrio), Tsukuri (preparação) e Kake (arremesso).


As teorias do Kusushi, Tsukuri e do Kake são expressões dos princípios do ponto de vista do Waza. O Tsukuri é construído a partir do Kuzushi, que significa destruir a postura de equilíbrio do seu oponente, e estando você equilibrado torna seu ataque mais eficiente. O Tsukuri consiste na preparação do golpe para a sua aplicação, e o Kake é o golpe em si.

O Kuzushi, Tsukuri e o Kake são os princípios técnicos do Judô, você pode aprender o princípio que pode ser aplicado a todas as fases da vida humana.

Na aplicação de uma técnica (golpe), há duas possibilidades: uma é preparar o adversário para receber a técnica escolhida puxando-o ou empurrando-o, conforme a direção em que se pretende projetar. A outra é aproveitar um desequilibro eventual ou aproveitando a própria força do oponente para aplicar a técnica mais oportuna.

Seja qual for o caso para essa quebra de equilíbrio do adversário, a essa preparação dá-se o nome de “kuzushi” que casa perfeita e harmoniosamente com a máxima que nos deixou Jigoro Kano – um mínimo de força para o máximo de eficiência – o “kuzushi” pode ser direcionado para qualquer um dos pontos cardeais ou colaterais, portanto pode ser realizado em oito direções possíveis:
- Mae kuzushi (à frente);
- Ushiro kuzushi (atrás);
- Migui-yoko-kuzushi (à direita, ao lado);
- Hidari- yoko-kuzushi (à esquerda, ao lado);
- Migui-uchiro (direita para trás);
- Hidari-uchiro (esquerda para trás);
- Migui-mae (frente à direita);
- Hidari-mae (frente à esquerda).


Este início (kuzushi) é muito importante, pois há uma técnica bem definida que virá a seguir, esta é a diferença entre uma bela projeção e uma projeção infeliz.
Continuando seu esforço, o judoca se coloca em posição para o arremesso, essa posição ideal para o lançamento do adversário se chama Tsukuri.
E o próprio momento do golpe, a execução final, damos o nome de Kake.
Uma vez dominado o Kuzushi, passa-se ao Tsukuri, que é o início do Kake. Após o atleta dominar uma técnica, automatizando-a, estas três fases não são notadas distintamente, tornando-se um todo, devido à rapidez na execução do movimento.

Preparar-se para o ataque significa preparar o próprio corpo e o do oponente para o golpe que virá.

Os principais pontos incluídos nas ações corporais preparatórias são:

1 - Não permitir que o oponente perceba claramente as ações que você está realizando.

2 - Desequilibrar o adversário com pequenos movimentos, forçando-o a fazer grandes movimentos. Esse é o princípio da força centrífuga: você se coloca no centro da ação e, com o mínimo de esforços, obriga o adversário se mexer à sua volta.
É preciso escolher a oportunidade certa para cada tipo de ação preparatória e aqui estão as melhores chances para o ataque ao adversário:
a - Ele está para vir à frente
b - Ele está para recuar
c - Ele vai desviar-se para direita ou para esquerda
d - Ele vai aplicar-lhe um golpe
e - O corpo dele está tenso e ele está tentando preparar uma ação
f - Ele se movimenta de modo apressado e impaciente
g - Ele aplicou um golpe
h - Ele tentou aplicar um golpe que falhou
i - Ele tentou aplicar um golpe e está agora procurando recobrar a posição.
j - No exato momento no que ele recobrou a posição inicial.

Lembre-se de um ponto importante: depois de realizar os movimentos preparatórios e ter levantado o oponente no ar, execute um movimento de arremesso, assim o golpe surtirá o efeito desejado.

O importante é você não ficar na defensiva. Se o oponente não pode atacar é porque está ocupado em se defender, isto significa que você está levando vantagem atacando. O ataque é uma defesa e a defesa deve ser um ataque:

1 - Se o adversário empurrar, puxe-o. Se puxar, empurre-o.
Suponhamos que o oponente tenha uma força igual a seis e você uma força igual a quatro. Se um estiver se esforçando para puxar o outro, em direções opostas, é lógico que o quatro perderá para o seis, mas se o mais fraco empurrar quando o outro está puxando em vez de tentar compensar a força do adversário estará somando quatro com seis e poderá derrubá-lo facilmente.

Tenha cuidado: Não tente puxar o oponente depois que ele o empurrou, pois será tarde demais. Do mesmo modo, não tente empurrá-lo quando ele ainda não o puxou, ou você ficará completamente vulnerável.

2 - Mantenha sempre o equilíbrio.
Como aplicar a força contra seu oponente com três variantes:
a) Empurrar, depois relaxar e em seguida puxá-lo.
b) Puxar, depois relaxar e então empurrar. O empurrão deve acontecer sem precipitação, no momento que ele revidar a puxada.
c) Arremessar o oponente é o modo mais eficaz de derrubar o adversário quando a proximidade é tanta que não se pode puxar ou empurrar. Todo o corpo deve ser usado para revirar o oponente e desequilibrá-lo, levantando-o do chão. Nesta ação usa-se a força dos dois braços e o impulso das pernas, joelhos e quadris. Você não deve colocar-se numa posição que o oponente não possa derrubá-lo, mas manter-se nesta posição desde o começo.

3 - Desequilibre o oponente com mínimo esforço.
Para concentrar a força em determinada parte do corpo, é necessário primeiro relaxar com a consciência alerta, sem afrouxar. A regra vital do desequilíbrio (kusuchi), ou seja, a ação que deixa o oponente numa postura fácil de derrubá-lo ou arremessá-lo: a chave é desequilibrar ou quebrar a postura do oponente. Daí pode-se derrubá-lo com o mínimo esforço.
Você pode deixá-lo numa posição instável deslocando o peso do corpo para fora da base de sustentação. Se ele tentar manter o equilíbrio enrijecendo o corpo, ficará em condições desvantajosas e não poderá recuar nem avançar.

O valor real do Judô somente aparece como resultado da prática regular. Para obter-se os benefícios físicos e mentais do Judô, a prática regular e contínua deve ser observada.

Existem várias formas de treinamento para as técnicas que compõem o Nage-waza, as quais são:

TENDOKU-RENSHIU - é a forma de treinamento solitário ou de sombra utilizando aparelhos ou espelho onde se procura lapidar os golpes e melhorar a rapidez.

UCHI-KOMI - é a forma de treinamento geralmente trabalhada aos pares, podendo ser em trio, onde o objetivo é aprimoramento das técnicas, da rapidez e da força localizada, é conhecida vulgarmente como entrada, pois realiza o trabalho de kuzushi e tsukuri, para e volta ao início rapidamente, sem entanto finalizar o movimento (kake).

YAKU-SOKU-GEIKO – é a forma de treino aos pares, livre e bem leve, sem defesa, movimentando-se solto, aproveitando toda e qualquer oportunidade de golpe. O objetivo principal é condicionar os sentidos para o aproveitamento das oportunidades que vierem a surgir durante o combate.

KAKARI-GEIKO - é a forma de treino onde ocorre o ataque consecutivo de esquerda e direita (hidari e migui) com leve defesa do companheiro que apenas utiliza o Tai-Sabaki. É excelente para o condicionamento físico.

RENRAKU-HENKA-WAZA – é a forma de treinamento que permite o estudo e o aperfeiçoamento das técnicas que em sequência se concatenam, se completam e se combinam.

KAESHI-WAZA - é a forma de treinamento que utilizam as técnicas usadas nos contragolpes, é quando o adversário depois de um ataque insuficiente abre a guarda e oferece oportunidade para ser contragolpeado.

RANDORI - é a forma de treinamento livre e completo, é onde o atleta emprega todo o seu conhecimento e capacidade. É onde se testa a própria eficiência e estuda as suas potencialidades e falhas. O Randori pode-se dizer que é a prova final para a luta em si, para o combate (shiai), é a meta final para a qual o atleta se prepara por longos períodos. É onde em poucos minutos ou mesmo segundos todo o esforço pode ser coroado de êxito ou momentaneamente posto por terra. No caso de derrota o judoca deve raciocinar, procurar a falha e corrigi-la, para na próxima tentativa obter a vitória.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Aquecimento no Judô – com certeza uma necessidade




Os exercícios de aquecimento são utilizados em todas as atividades esportivas e na dança como preparatórios ou introdutórios à atividade principal. Apesar dos atletas de baixa idade que ainda não assimilaram o espírito do judô achar que a atividade é só lutar e alguns instrutores, em função do treino que aplicam ser leve, não gostarem e acharem perda de tempo. Embora se discuta na literatura qual a melhor forma para "aquecer" parece ser consenso que ativar o organismo com exercícios gerais e/ou específicos antes da atividade principal em situação de treinamento, competição ou lazer é fundamental para um melhor desempenho esportivo e também para evitar lesões.

O aquecimento assegura a passagem do organismo do atleta da tranquilidade relativa ao estado de trabalho, superando dessa forma a inércia natural do organismo. Entre outros fatores os exercícios de aquecimento alteram: o volume circulante de sangue por minuto, a ventilação pulmonar e o consumo de oxigênio, que somente atingem seu nível máximo cerca de 3-5 min. após o início da atividade.

Na linguagem corrente dos atletas aquecer significa apenas evitar lesões, no entanto, participar da competição ou treinamento sem o devido aquecimento pode significar chegar ao final do combate com um resultado inferior ao seu potencial. Uma entrada em calor prévia com o aquecimento integral do corpo a uma temperatura ótima para a realização da atividade principal se justifica principalmente por trazer as seguintes vantagens:

a) Passa a existir menos perigo de lesões devido ao aumento da elasticidade do aparelho músculo-ligamentar e da mobilidade das articulações;

b) As reservas energéticas são mobilizadas para a carga que vem a seguir;

c) As reações bioquímicas são aceleradas pela atividade das enzimas para poder ressintetizar mais rapidamente a energia necessária para realizar a carga;

d) As funções orgânicas são elevadas a um nível mais favorável de forma que o organismo possa adaptar-se mais rapidamente à carga seguinte;

e) Prepara os processos nervosos para à carga através da repetição de reflexos específicos ao esporte praticado, bem como de ações voluntárias;

f) Prepara o organismo para ativar o metabolismo aeróbico para retardar o cansaço.

De acordo com o estabelecido acima o aquecimento pode cumprir diversas funções e portanto deve-se levar em conta: o tipo de atividade principal para a qual estaremos preparando os atletas, o nível dos atletas, seu estágio de preparação, em quanto tempo ele deverá ser submetido aos esforços máximos e ainda características individuais dos atletas como categoria de peso, técnica preferida (Tokui-Waza) etc. Assim um aquecimento antes de uma competição de alto rendimento deve diferir de um aquecimento de treino, bem como uma atividade de aquecimento no início de temporada deve ter intensidade diferente de uma pré competitiva. Outros aspectos importantes a serem considerados são o nível de treino dos atletas, idade dos mesmos, as condições de temperatura e pressão e ainda se for o caso de uma competição se é o aquecimento inicial ou entre combates.


Poucos autores se referem a um aquecimento específico para judô, sugere-se que um aquecimento siga em linhas gerais os seguintes passos.

1) Mobilização articular e alongamento - todas as articulações devem ser trabalhadas ordenadamente de cima para baixo (braços, cintura escapular, tronco, quadril e pernas e pé - 4 a 5 vezes cada) e a amplitude dos movimentos deve ser gradativa, os alongamentos musculares devem seguir uma ordenação e uma metodologia específica; nesta primeira fase sugere-se apenas a movimentação das articulações e não exercícios que exijam alongamentos sub-máximos [Tempo aproximado 1-2 min.] Obs: Esta fase é especialmente importante em temperaturas baixas;

2) Aquecimento orgânico (geral) que deve elevar a frequência cardíaca (F.C.) a pelo menos 120-130 batimentos por minuto (bat/min.), isto vai requerer um controle individual do esforço e pode ser feito com corrida, saltitamentos ou exercícios mistos como por exemplo alternar corrida com ukemi e ainda uchi-komi de sombra ou treinamento sombra que é o equivalente ao uchi-komi (entrada de golpes) porém sem parceiro - Tandoku-renshuo [Tempo aproximando 5-8min.];

3) Aumento da temperatura corporal e ativação da via energética anaeróbica lática - a intensidade deve aumentar de forma a ativar (exigir) a utilização da fontes de energia anaeróbica lática, que no judô é predominante no combate. Algumas atividades devem ser propostas com frequência cardíaca elevada próxima de 160 bat/min., são recomendadas atividades específicas de Uchi-komi com variações na intensidade (número de entradas, velocidade e repouso entre as séries). Neste ponto deve-se orientar a atividade de forma que atinja objetivos de preparação das habilidades motoras específicas e individuais, como Uchi-komi do Tokui-waza e em sequência (Renraku) -parado, em movimento e c/ projeção – após essa fase o atleta já pode executar exercícios de força, velocidade e flexibilidade sub-máximos; [Tempo aproximado 4-6 min.];

4) Ativação da via energética anaeróbica lática através de atividades de explosão de até 6-8 segundos e com intensidade máxima (Uchi-komi de velocidade e ou exercícios mistos de tachi-waza e ne-waza), nesta fase deve-se observar um repouso ativo maior para evitar a fadiga; [Tempo aproximado 2-3 min.];

5) Ainda quanto as habilidades motoras parece ser importante que sejam executadas algumas habilidades no solo (Katame-komi, viradas e passagens de guarda), disputa de pegada e ações de defesa de forma a ativar os processos nervosos para estes movimentos específicos. [Tempo aproximado 2-3 min.];

6) Finalmente o atleta deve estar preparado psicologicamente para a luta e este fator deve ser levado em conta durante o aquecimento, o que quer dizer que deve-se saber a ordem dos combates e o atleta que luta em primeiro lugar já entra em preparação para o combate, nesse caso o atletas deve antecipar (mentalizar) os seus primeiros movimentos na área de combate levando em consideração inclusive a adaptação de seu jogo com o do adversário - preparação tática.[Tempo aproximado 1-2 min];

7) O aquecimento deve encerrar com uma atividade de relaxamento, nos casos em que o atleta ainda deva esperar algum tempo antes de seu próximo combate ou de ativação individual e massagem quando for participar do combate nos próximos minutos. [Tempo aproximado 2-3 min.];

A temperatura corporal deve ter sido elevada (1 a 2 graus) de forma que as enzimas sejam ativadas devidamente.

Os resultados de Waldemar Sikorsky e colaboradores (pesquisadores poloneses) indicam que em média em um combate os períodos de ataque não são superiores a 30 segundos de atividade para 10 segundos de intervalo. As atividades propostas no aquecimento devem necessariamente incluir as ações que o atleta utiliza predominantemente, Tokui-waza, renraku-waza e também as atividades de ne-waza, pois somente dessa forma atingiremos o objetivo de preparar os processos nervosos para a carga específica – com exercícios específicos Uchi-komi - Nague -komi - kumikata - e Ne-waza pode-se atingir esse objetivo.

Essas são as linhas gerais que se acredita serem importantes para um aquecimento pré-competição. Sugere-se ainda que em alguns aspectos o aquecimento deva ser individualizado como, por exemplo: observar as diferença que existem entre os pesos pesados e os ligeiros e a preferência pelo combate em pé ou no solo, tipos de pegada e postura etc.

A padronização e a monitorização do aquecimento traz diversas vantagens para o treinador e sua equipe. Em primeiro lugar orienta o atleta de forma que assegure que a entrada em calor seja suficiente e ampla com a abrangência necessária conforme o estabelecido no planejamento. Depois de aprendido o aquecimento padrão, e na falta de um preparador físico, este pode ficar ao encargo dos próprios atletas. Seguindo-se as linhas gerais do aquecimento os atletas podem adaptá-los as suas reais necessidades, como Tokui-Waza, peso, condição física atual e o momento real de entrada em combate. Ainda que não possamos contar com um preparador físico específico no evento deve-se orientar/monitorar o aquecimento pela frequência cardíaca, pelo tempo das atividades propostas e/ou número de repetições de cada exercício. No caso de aquecimentos de treino é recomendável que ele seja variado na sua forma e também na dinâmica para evitar o "stress" mental da repetição constante de uma mesma atividade.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Dez coisas que você deve saber sobre o seu Instrutor de Judô (sensei)


Neil Ohlenkamp - Judoinfo



1. Seu sensei ama judô. Esta é a razão pela qual ele quer praticar e ensinar.
2. Seu sensei quer compartilhar judô com todos. É um presente valioso que deve ser compartilhado.
3. Seu sensei sabe que judô não é fácil de aprender. É preciso muito trabalho e uma quantidade considerável de tempo. Seu sensei gastou muito tempo neste treinamento e compreende o empenho necessário. Seu sensei quer que você se esforce para ser, e eventualmente venha a ser, melhor do que ele.
4. Seu sensei quer que o treinamento seja seguro porque há riscos inerentes na prática de judô, Todos os alunos devem colocar a segurança acima de todos os outros objetivos.
5. Você é importante para o sensei. Não haveria judô sem participantes de todos os níveis e cada um é importante. Isso faz parte do princípio do judô do bem-estar e benefício mútuo.
6. Seu sensei pode ser confiável para guiar sua instrução. Seu sensei prepara cuidadosamente lições e faz ajustes para os níveis de desempenho individuais e de classe. No entanto, no início tudo pode não ser claro para você, bem como ter a paciência necessária.
7. Uma vez que seu sensei quer melhorar, ele também se beneficia de ter a oportunidade de praticar judô com você. Um dos objetivos do judô é se esforçar continuamente para aperfeiçoar a si mesmo para que você possa contribuir com algo de valor para o mundo. Se você está tendo dificuldade no treino ou pensando em desistir, discuta isso com seu sensei para que ele possa ver o problema a partir do seu ponto de vista e poder ajudá-lo.
8. Seu sensei quer que você desenvolva seu judô fora do treino. Quanto mais você ler, praticar e aprender por conta própria, mais valioso será o seu tempo de treinamento. Mantenha-se fisicamente apto e, se possível, com condicionamento além do exigido. 9. Seu sensei precisa de sua ajuda. Sua turma só se beneficiará e se desenvolverá com a ajuda uns dos outros, zele pelo local, cuide dos tatames e do material de treinamento, ajude nos treinamentos e torneios, etc.
10. Para o seu sensei, judô é um modo de vida.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

OSS... O que significa?


Em textos sobre artes marciais você já deve ter lido, como também ter ouvido, em vários lugares ou treinos a expressão “Oss”. Mas afinal o que significa Oss?

A definição do famoso OSS tem muitas origens. Algumas pessoas erroneamente atribuem o Oss a abreviação de Ousadia, Superação e Sucesso. Apesar de ser uma tradução criativa e que se encaixa bem para o ambiente de luta, o real significado não tem nada a ver com isso.

Outra origem é numa primeira definição do OSS como a abreviação da palavra Onegai Shimassu, que se traduz como um pedido, uma solicitação, um convite como "por favor", "por gentileza" ou "com licença", muito utilizado p/ convidar o companheiro de treino p/ lutar.

A segunda definição de OSS que também conhecido como Ossu (não faz diferença de como se escreve em português), significa Oshi Shinobu, cuja idéia (pois a tradução ao pé da letra não condiz com o contexto) é a de "perseverar enquanto se é empurrado", ou seja, não desistir jamais, ter determinação, disposição e suportar o mais árduo dos treinamentos, continuar sem desistir, sob qualquer pressão (toda aquela idéia de força interior, típica da cultura oriental).

Por isso, no inicio da luta/combate, o atleta marcial grita, invoca, emana o OSS, como forma de liberação desse sentimento, muito embora em muitas fontes, o OSS é definido como uma manifestação da energia ki, ou seja, um kiai diferente, indicando que já se esteja pronto para a luta.

Segundo Miyamoto Musashi, no livro go rin no sho (livro dos cinco anéis), existiam 3 tipos de gritos utilizados pelo Samurai:
1 - Antes do combate, para mostrar energia,
2 - Durante o combate, na hora de atacar, para obter mais força (kiai) e,
3 - Depois da luta, para comemorar a vitória ou urrar a derrota.

O OSS além de demonstrar o espírito de força e a determinação antes da luta, é também utilizado para indicar ou confirmar uma informação, assim sempre que o Sensei perguntar ou informar algo, responde-se OSS, uma resposta que indicará o entendimento ou a confirmação do entendimento.

OSS é uma expressão fonética criada na Escola Naval Japonesa, e é usada universalmente para expressões do dia-a-dia, um cumprimento como “sim”, “por favor”, “obrigado”, etc…

Em japonês, sua transcrição correta é OSU, e seus dois caracteres representam “pressionar” (osu) e “suportar” (shinobu). Então podemos concluir que “Oss” implica em pressionar a si mesmo ao limite de sua capacidade. O “espírito de OSS” é retratado como a “perseverança sobre a pressão“. Além disso o OSS, é uma demonstração de respeito, não por hierarquia, mas pela admiração, pelo prazer da companhia, por simpatia, confiança e respeito por si mesmo.

“OSS” pode ser “Tenha Garra!“, onde mostramos nosso respeito e força, por isso nunca devem ser pronunciadas ao vento, sem um motivo certo ou mesmo sem que o corpo todo envie essa energia de motivação. Atitude, postura, estado de espírito são fundamentais para que toda a energia do “OSS” seja expressada corretamente.

No Judô, temos uma outra palavra de estímulo muito utilizada para darmos o “último gás” nas competições: o GAMBARE.

Gambare é uma palavra japonesa muito significativa. Comum no cotidiano, Ela expressa o espírito japonês de força, persistência e coragem. ela resume a mensagem de demonstração de apoio, de solidariedade e de esforço daqueles que compartilham os mesmos momentos. Quando você fala Gambare para alguém é como se estivesse desejando ao outro:
Força, Coragem, Firme, Tenha Garra, Estou com Você, Avante!

Não podemos negar que um “OSS“, “Gambare” ou mesmo um “Tenha Garra!” são palavras de prontidão, onde mostramos nosso respeito e força, por isso nunca devem ser pronunciadas ao vento, sem um motivo certo ou mesmo sem que o corpo todo envie essa energia de motivação.

domingo, 1 de novembro de 2015

O que nos leva a buscar aprender uma arte marcial?


Sensei Allan Franklin /Colunista Artes Marciais Fight



Oss! Para entendermos o que nos leva a buscar aprender uma arte marcial, devemos ver todo o panorama da nossa sociedade e analisarmos caso a caso, pois são muitos os motivos que nos levariam a um Dojo ou escola de qualquer arte marcial. Em primeiro lugar devemos ressaltar que hoje o panorama do mundo mudou e sendo assim, isso não seria diferente com as artes marciais. Hoje temos diversos profissionais de várias artes marciais extremamente qualificados como lutadores.

Temos grandes professores de Karatê, Kung Fu, Judô, Ju Jutsu, Aikido, Tae Kwon Do, Muay Thai, Krav Magá e até atualmente de MMA. Mas devemos lembrar que dependendo da idade que a pessoa tenha e a expectativa desta pessoa, algumas artes marciais se fazem mais adequadas do que outras. O aspecto competitivo, por exemplo, não cabe para todos nós.

Portanto pertencer a uma escola marcial que dê mais valor a uns do que outros só porque esses vão competir e outros não pode frustrar muitas pessoas.

Por isso não creio que essa política seja a certa. Conheço uma pessoa que estuda Judô e que tem um futuro promissor nesta arte e poderia ser um grande Sensei, mas que anda desmotivado por ter também uma idade madura a qual para o aspecto esportivo, é encarada como idade avançada. Por isso seu foco é mais a aprendizagem completa do Judô e não o foco esportivo.

Daí essa pessoa anda afastada de seu Dojo porque sua escola está muito envolvida com os campeonatos e sendo assim, tal amigo mesmo já tendo participado de alguns campeonatos, tem sua vida, sua esposa e não pode se focar em campeonatos. Segundo me disse desde a última vez que conversamos, seu Dojo por estar focado em campeonatos, tem deixado de lado outras técnicas que poderiam estar sendo passadas e que fazem parte do panorama e programa de aprendizagem do Judô, mas que acabam não acontecendo e ele não aprendendo.

Sem dúvida alguma seu Sensei é espetacular profissional e como pessoa, mas tal acontecimento faz com que meu amigo fique se sentindo de lado por não estar participando de campeonatos. Fui praticante de Tae Kwon Do durante uns quinze anos e neste período que treinava e parava por justamente falta de grana, sentia muito isso, pois o Tae Kwon Do da WTF que por sua vez é bastante focado no esporte, ou seja, hoje já é até um esporte olímpico, já trazia esse espírito de panelinhas aqui e ali e isso para mim desanimava muito.

Jamais gostei da idéia de campeonatos por não acreditar que esta fosse a melhor maneira de se viver a arte que praticamos seja ela qual for. O que eu queria era aprender a arte em si.

Sem dúvida em tudo há os dois lados e o aspecto competitivo também trás coisas boas e boas experiências, mas devemos entender que dentro de uma escola marcial deve haver uma seleção daqueles que gostam, querem e estão aptos a competir e uma seleção daqueles que simplesmente querem aprender tal arte que está estudando para suas vidas e dia a dia. Penso que no caso de meu amigo, não só tal Dojo como o Judô, correm o risco de perderem um grande representante.

Portanto aquele que busca uma arte marcial deve também entrar nessa escola que ele escolheu com as informações necessárias de como é a estrutura da arte marcial escolhida. Existem artes marciais que em sua metodologia de ensino há vinculado aspectos esportivos e que só se chega à faixa preta tendo curso de arbitragem, tendo participado de competições etc. Já outras ainda não são tão obrigatórias assim, mas sim mais opcional como no Karate-Do por exemplo. Mas isso não significa que não possa vir a mudar tal panorama e na nossa arte também tais exigências possam existir. Até porque lutam por aí diariamente pelo Karate nas olimpíadas.

Aqueles caminhos marciais que não possuem campeonatos acabam sendo mais atrativos para pessoas mais velhas e adultas, pois nem todos se vêem competindo por aí e muitos possuem uma vida que não comporta trabalhar, sustentar sua família e muitas vezes estudar e ainda competir.

É por isso que muitas vezes quem não está neste caminho, critica os que estão, pois inegavelmente os valores financeiros falam mais alto nos caminhos marciais que contam com competições que sabemos gerar muito dinheiro anualmente e esquecimento dentro dos Dojo de alguns alunos por parte do Sensei, Sifu ou Kiosanin.

Existem lugares onde a fome por dinheiro é tamanha, que adiantam alunos em termos de graduação para que os mesmos venham dar aulas representando esses professores e que desde a primeira faixa que permite o aluno competir, este professor coloca tal aluno para competir. Muitas vezes esses mesmos professores deixam de lado aqueles alunos com mais dificuldade na aprendizagem ou mesmo os mais inseguros.

Penso que as artes marciais não devam tomar o rumo que o Boxe tomou e querer investir em campeões, pois existem diversos tipos de pessoas e com idades variadas que podem ser bons profissionais e representantes das artes escolhidas por eles no futuro, mas para isso precisam aprender a arte que estão estudando e amadurecer dentro dela tendo a atenção de seus orientadores.

Neste processo muitas vezes independendo da idade, estes praticantes com menos desenvoltura ou inicialmente inseguros, necessitam se fortalecer e para isso precisam da atenção de seus professores.

Muitas vezes também aquele que despontou desde cedo no treino, pode dar um bom competidor, gerar fama para a escola, mas nem sempre um exemplo de professor.

Vamos nos preocupar com o panorama dos Dojo e escolas de artes marciais porque não devem ser uma fábrica de campeões, mas muito antes disso, deve ser um local de iluminação pessoal através das artes marciais. Quantos bons profissionais, ou seja, faixas pretas que nunca competiram mais estudaram pra si a arte escolhida, estão por aí vivendo suas vidas dignamente porque levaram o melhor da essência da arte para suas vidas, famílias e sociedade!


Quantos anônimos formados por mestres como Benedito Nelson ou Carlos Henrique de Melo o “Shihan Kung” ambos do Karate-Do, pela família Gracie ou pelo mestre Oswaldo Fadda também do Ju Jutsu, pelo Sifu Leo Imamura ou Sifu Marcos Abreu do Ving Tsun etc. que se defendem bem, são boas pessoas, bons exemplos para seus filhos e amigos e nem por isso tem seus nomes por aí? Nem todos nós buscamos competir, nos destacar e aparecer com medalhas ou troféus!

Portanto acredito que toda escola marcial deva sim ter e fazer uma entrevista com seus candidatos a alunos, pois uma arte marcial deve ser preservada e levada como algo muito importante pelas pessoas e os profissionais das mesmas, devem ser os primeiros a levantarem tal bandeira e ter tais cuidados na hora da aceitação do aluno. Pra isso o dinheiro deveria ficar em segundo plano, mas como vivemos num país onde dificilmente se vive do que gosta, a maioria se corrompe e acabam passando por cima dos valores, isso acaba sendo uma idéia utópica.

Deve se ter em mente que aqueles que competem podem ser muito bons em torneios e campeonatos, mas nem por isso necessariamente melhores alunos da escola em si, pois o foco da competição e forma que ali acontece à luta, muito difere da realidade. E vemos muitos que estudam pra sí, imaginando que se tiverem que lutar e defender suas famílias, lutando bem mais de modo agressivo do que o competidor. Portanto os professores darem mais atenção para aqueles que se destacam para campeonatos e desprezar os alunos que não têm tal foco competitivo é contrariar a filosofia das artes marciais.

As buscas também ocorrem por vezes de acordo com o biótipo dos candidatos a praticantes de artes marciais, esses acabam buscando artes marciais que se adaptam melhor. O problema que vejo nisso é quando alguém não se adapta a algum sistema e sai dele partindo para outro que se encontre mais, mas falando mal daquele outro o qual não se adaptou.

Isso é uma coisa que devemos cortar na nossa sociedade, pois é nessa que se criam os pensamentos preconceituosos contra os kata que na maioria das vezes devido à complexidade para aprender e entende-los, muitos crêem serem movimentos em vão e que em realidade não funcionam.

Devo dizer que para muitos o panorama das artes marciais se limita apenas as artes de lutar agarrado e em termos de lutar em pé, só contam com técnicas do Boxe. Quando falo isso alguns vêem como preconceito com tais artes, mas digo que estes que não entendem, não gostam ou não se adaptam aos kata, também acabam sendo preconceituosos com os praticantes de artes que possuem kata. Portanto que venhamos a respeitar as escolhas de cada um no que diz respeito ao que cada um quer para si. Eu pessoalmente vejo como todos os sistemas marciais possuem seu valor e eficiência. Tenho predileção pelo Karate-Do, mas vejo eficiência e admiro logicamente o Kung Fu pelo parentesco com o Karate-Do, admiro o Judô, Ju Jutsu, Aikido, Capoeira etc.

Vamos refletir esta semana sobre esses aspectos, pois ao mesmo tempo que muitos jovens buscam uma arte marcial para canalizarem suas energias e gostam muito de competir, nem todos tem seus dezoito ou vinte e poucos anos e buscam o mesmo. E devemos lembrar de respeitar as diferenças entre as escolas e estilos, como respeitar a escolha do outro sem ridicularizar essa escolha distinta da nossa.



quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Judô: Melhor luta do que a de muitos "barbados"


A melhor luta que já assisti!

Posted by Jadilson Pessoa on Quarta, 11 de dezembro de 2013

domingo, 27 de setembro de 2015

Será verdade? As leis de Murphy no judô.





A Lei de Murphy. O criador dessa lei foi o capitão da Força Aérea americana, Edward Murphy, e também foi a primeira vítima conhecida de sua própria lei. Ele era um dos engenheiros envolvidos nos testes sobre os efeitos da desaceleração rápida em piloto de aeronaves.

Para poder fazer essa medição, construiu um equipamento que registrava os batimentos cardíacos e a respiração dos pilotos. O aparelho foi instalado por um técnico, mas simplesmente ocorreu uma pane, com isso Murphy foi chamado para consertar o equipamento, descobriu que a instalação estava toda errada, daí formulou a sua lei que dizia: “Se alguma coisa tem a mais remota chance de dar errado, certamente dará”.

A Lei de Murphy não prova nada, não explica nada. Simplesmente expressa uma máxima: que as coisas vão dar errado. Mas nós esquecemos de que há outras forças em ação quando falamos da Lei de Murphy. Supostamente, foi o escritor Rudyard Kipling quem disse que não interessa quantas vezes você derruba uma fatia de pão no chão, pois ela sempre cai com a manteiga para baixo. Kipling, autor de "O Livro da Selva" entre outros, fez uma observação que a maioria de nós sabe: a vida é difícil, quase ao ponto de ser engraçada.

Mas quanto à fatia de pão com manteiga, devemos levar em conta o fato de que um lado está mais pesado que o outro. Significa que no seu caminho até o chão, o lado mais pesado vai virar para baixo graças à gravidade, e não vai virar para cima de volta justamente por causa da gravidade. Afinal o lado da manteiga é mais pesado do que o lado sem manteiga. Então Kipling estava certo - uma fatia de pão com manteiga vai sempre cair com a manteiga para baixo.

Abaixo estão listados os dez princípios científicos estudados que se aplicam às artes marciais, principalmente ao judô, sob a máxima de que: "Tudo que pode dar errado, dá ou dará errado:”

1 - O fraco adversário que não foi eliminado do torneio por sorte, de repente, se transforma em Bruce Lee quando tem que lutar com você.

2 - O árbitro sempre estará olhando para o outro lado quando você aplicar os seus golpes perfeitos.

3 - Você terá problemas com o cadarço de suas calças de judô quando houver visitas e estiverem presentes os membros do sexo oposto.

4 - No dia que você consegue deixar o trabalho ou a escola mais cedo para chegar a tempo antes do inicio do treino para tirar uma dúvida, o Sensei vai faltar por estar doente.

5 - O Sensei só vai usá-lo durante as demonstrações de técnicas comuns de imobilização, as técnicas difíceis serão feitas com os outros.

6 - Após uma demonstração impecável, você vai tropeçar e cair quando estiver voltando para o seu lugar.

7 - Após anos de treinamento sem uma única lesão, você vai puxar um músculo da virilha na noite anterior ao seu exame de faixa.

8 – O golpe preferido e único bem aplicado pelo seu adversário é aquele em que o contragolpe foi ensinado no dia em que você faltou.


9 - Não importa quantas vezes você foi ao banheiro antes de seu exame de faixa, mas você invariavelmente estará lá quando chegar a sua vez de ser chamado.

10 - Se você tem que usar seu treinamento em auto-defesa, o pai de seu atacante será um advogado.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Judô: KIAIIIIIII !!!! (O Grito)


Baseado em "Enciclopédia das Artes Marciais” publicado por Rafhael Sampaio em "Judô no Kenkiu"



Para aqueles que nunca tiveram contato com artes marciais, muito provavelmente estranharão o fato de os praticantes emitirem constantemente gritos enérgicos no desenvolver de suas ações, sejam elas de combate ou técnicas de treinamento. No Kendo isso é bastante verdadeiro e um espectador desavisado pode se espantar com a presença constante e obrigatória do kiai durante a prática.

Atletas de várias modalidades desportivas que utilizam da potência muscular gritam durante a execução do movimento, geralmente no momento de maior força. Este grito é muito utilizado em artes marciais como karate, Shaolin kung-fu e judô.

Os atletas de arte marcial usam o grito para promover suas performances aumentando a força e a técnica. Atletas de judô, geralmente no ato de realização das técnicas gritam, este grito é conhecido no esporte como kiai, que literalmente significa “convergência de espírito” que expressa a harmonia entre o corpo e a mente.

Alguns autores sugerem de forma empírica a existência do aumento de força na execução de movimentos de explosão muscular combinados com o grito do kiai, completando que este grito torna os músculos abdominais tensos pelo esforço extra e concentra a força para o instante específico da ação de derrubar o adversário. Ainda não foram verificados na literatura estudos sistematizados que comprovem o aumento de força ou do sinal eletromiográfico durante o grito do kiai.

Fisiologicamente poderíamos defini-lo como uma contração do diafragma com a qual acompanhamos um ataque ou defesa particularmente intensa. Em virtude da mesma expulsamos violentamente o ar retido nos pulmões, produzindo nesse instante um grito breve e profundo.

Na realidade este sistema de energia extra um fato comum em várias atividades que requerem um esforço final, pois com ele se consegue juntar todos os mecanismos musculares e articulares que atuam ao uníssono a partir de um sinal, ao mesmo tempo que se consegue eliminar uma câmara de ar que formaria um colchão absorvente do nosso esforço ao ser provocada a reação do objeto pelo choque da nossa ação.

Além de aproximar-nos ao objetivo, conseguimos provocar no adversário um "choque emotivo" que se traduz num fechar momentâneo dos seus olhos, numa taquicardia e descida da pressão arterial, dificultando-lhe assim o seu desempenho.

No entanto, esta mera análise externa não nos oferece nem a essência nem o significado real do grito nas artes marciais. Etimologicamente kiai (ki = espírito, ai = união) e ki-hap (ki = energia e hap = concentração) nos indicam a conjunção que se pretende conseguir e que não se limita a um mero mecanismo físico ou a um gesto surpreendente para ofuscar o contrário.

O grito pretende libertar a energia inerente do nosso organismo e que como força vital pertencente ao universo acumulamos no tandem, para desta forma conhecida e controlada, ser projetada junto às nossas ações. Mas mesmo tendo em consideração estas premissas doutrinais não devemos pretender alcançar o significado do grito só através de uma manifestação externa e vigorosa, como a de um grito, ou mediante a conjunção de forças implacáveis.

A atitude do grito deve oferecer uma profundidade psíquica íntima e pessoal ao mesmo tempo que intransmissível, a qual se inicia ao vencermos a nós mesmos, pois somos ao mesmo tempo o mais fiel aliado e o pior inimigo, para depois projetar-nos vencendo o contrário antes mesmo do grito, através do poder silencioso do próprio domínio. Conseguir este silêncio interno e poderoso será a causa de uma liberação (grito) intensa e oportuna, sendo o desenvolvimento e cultivo de ambos a base de início do caminho.

Há estudos que comprovam que determinada técnica de kiai potencializa a força de um golpe, agindo aí de forma motivadora para despertar e descarregar toda agressividade necessária para abater um oponente. .No entanto, existem técnicas respiratórias específicas para emitir o kiai de forma considerada adequada. O uso de respiração abdominal se faz necessário para prolongar o kiai, sendo que é desaconselhável apenas gritar usando a força das cordas vocais. É isso que os Sensei querem dizer com o “kiai tem que vir da barriga, de dentro”. Na verdade, a contração do diafragma, na altura do tanden (região abdominal 3 ou 4 dedos abaixo do umbigo), acompanhada da expiração e emissão do som é o princípio básico da técnica.

A devida preparação mental também é importante, pois gritar por gritar qualquer um faz, mas demonstrar força, presença e sentimento combativo frente a um adversário é o fator decisivo para um bom kiai.

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Judô: Shime Waza - Muito cuidado é pouco!


O judô apresenta muitas técnicas que podem ser agrupadas em Nage-waza (técnicas de arremesso) e Katame-waza (técnicas de domínio no solo).

As técnicas nage-waza (técnicas de arremesso) são compostas por dois subgrupos: tachi-waza (técnicas de projeção em pé) e sutemi-waza (técnicas de sacrifício).

A tachi-waza envolve técnicas de perna (ashi-waza), técnicas de braço (te-waza) e técnicas de quadril (koshi-waza) e a sutemi-waza envolve as técnicas de sacrifício laterais (yoko-sutemi-waza) e técnicas de sacrifício frontais (mae-sutemi-waza).

As técnicas katame-waza (técnicas de controle completo por meio da aplicação de golpes/técnicas sobre as articulações ou sistema circulatório do corpo), normalmente utilizadas no combate no solo, são compostas por técnicas de imobilização (ossaekomi-waza ou ossae-waza), técnicas de estrangulamento (shime-waza) e técnicas de chave articular ou chaves de luxação (kansetsu-waza).

Mas aqui só vamos tratar de Shime waza que é o nome do grupo de técnicas de judô e jiu-jitsu tradicional que engloba as técnicas de estrangulamento.
O shime waza do judô tem origem no foco das técnicas de katame waza (técnicas de domínio de solo) da escola kitō-ryū, uma das escolas de jujutsu estudadas pelo fundador do judô, Sensei Jigoro Kano.
Os estrangulamentos podem também visar pontos específicos, relacionados ao fluxo do ki (energia).

Demonstração da técnica hadaka kime.

O shime waza é uma técnica muito especial e que exige muitos cuidados na sua aplicação. Kano a explica da seguinte forma: "Você usa as suas mãos, braços ou pernas contra o pescoço de seu adversário aplicando uma pressão".

No Judô há 3 formas básicas de se aplicar o estrangulamento:

1. Compressão das artérias restringindo o fluxo de sangue e de oxigênio para o cérebro;
2. Compressão da traqueia parando ou restringindo o ar para os pulmões;
3. Compressão do peito e dos pulmões impedindo o adversário de inalar.

O primeiro método, restringindo o fluxo sanguíneo, é o mais eficiente sendo até seis vezes mais rápido do que os outros. O triângulo formado em volta do pescoço pressiona a carótida superior, artéria carótida comum e ramos, veia jugular interna, nervo Vago e ramos e também a artéria laríngea superior.

Imagens abaixo, representando a parte interna do pescoço e mostrando o local exato de onde a pressão é mais forte.

   
Para a realização do Shime Waza é necessário que se aplique uma pressão no pescoço do adversário através da gola do judogui ou diretamente com o antebraço fazendo com que seja obstruído o fluxo sanguíneo da carótida comum. A obstrução completa de sangue que flui para o cérebro ou a asfixia ocasionada pelo fechamento total da traquéia pode resultar em danos terríveis ao corpo e até mesmo à morte.

1. A inconsciência ocorre aproximadamente de 8 a 14 segundos da aplicação do estrangulamento;
2. Pode ocorrer convulsões parecidas com epilepsia.
3. Taquicardia e hipertensão causada pela estimulação do nervo Vago.

O Katsu (ressuscitamento):

Se após a aplicação de um shime Waza houver inconsciência é necessário que se aplique as técnicas de Katsu, ou seja, técnicas de ressuscitamento. Normalmente a pessoa desperta após uns 20 ou 30 segundos.

Primeiro se deve analisar se a vítima está ou não respirando e se tem pulso.
Manobras:
Massagem direta no triângulo Carotídeo Superior (para estimular o seio carotídeo);
Bater levemente na sola do pé e na testa;
Massagem no peito como se empurrasse o ar e o sangue em direção a sua cabeça;
Sente a vítima e coloque a patela diretamente na sua espinha dorsal;
Ajoelhe-se do lado da vítima e ponha sua mão no abdome em cima do umbigo causando pressão no plexo solar.
Se a vítima não tiver pulso é necessário fazer massagem cardíaca.

Segurança

Estrangulamento é uma técnica que deve ser ensinada e supervisionada por um professor qualificado. No ensinamento ou aplicação em crianças deve se saber das diferenças fisiológicas envolvidas em relação aos corpos.
Evitar períodos desnecessários de inconsciência, sinalizando para o adversário a desistência, soltar o adversário imediatamente após sua desistência.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

O Judô no Brasil


As primeiras referências que encontramos quanto à introdução do Judô no Brasil, datam de muitos anos após a criação desta arte-esporte no Japão, pelo mestre Jigoro Kano.

A história do judô no Brasil é tão antiga quanto a presença japonesa em nosso território. A arte marcial desembarcou por aqui junto com os primeiros imigrantes nipônicos vindos no navio Kasato Maru, que ancorou no Porto de Santos, litoral paulista, em 18 de junho 1908. Com os recém-chegados, o judô subiu a serra e foi parar nas fazendas de café do interior do Estado de São Paulo, onde muitos dos imigrantes trabalharam como lavradores. Nas fazendas, os japoneses formavam suas colônias e dentro delas, restritamente, cultivavam inúmeros hábitos típicos de sua terra natal; entre os quais, a prática do judô. Assim como os outros hábitos, o cultivo do judô dentro da colônia japonesa servia para que matassem a saudade da Terra do Sol Nascente. Mas nesse primeiro momento não havia a intenção de compartilhar a arte marcial com os brasileiros.

Com referência ao judô, entretanto não há registros de nomes, datas ou locais. Mas foi no início dos anos vinte que o judô chegou ao Brasil, impressionando os esportistas pela facilidade com que se venciam os desafios feitos aos nossos lutadores, há ainda quem cite um certo professor Miura que teria ensinado judô em nossa pátria por volta de 1903.

A multiplicidade de datas pela forma como foi introduzido o judô em nosso país é difícil de explicar, pois de um lado há uma corrente formada pelos pioneiros do Kasato Maru e subseqüentes, que se dedicando a outros misteres, principalmente a agricultura, faziam do judô um derivativo, uma atividade social, uma forma de manter laços e apagar a saudade da pátria longínqua. Poderia se dizer que praticavam um judô localizado, restrito a pequenos grupos e sem fins lucrativos. O primeiro registro com referência a esse grupo iriam para Tatsuo Okoshi, que chegou ao Brasil em 1924, seguindo-se Katsutoshi Naito, Sobei Tani, Ryuzo Ogawa e outros mais.

Por outro lado, o verdadeiro impulso foi no inicio da década de vinte, através de outra corrente onde estavam os "lutadores", isto é, aqueles que lançando e aceitando desafios, lutando publicamente, além de buscarem a implantação do judô entre nós, faziam disso uma forma de subsistência ou complementação financeira. Entre este colocaríamos Eisei Mitsuyo Maeda (Conde Koma) e Soishiro (Shinjiro) Satake, alunos de Jigoro Kano, Takagi Saigo, Geo Omori, Yasuichi Ono. O início do judô no Brasil ocorreu sem instituições organizadoras. Apenas na década de 1920 e início dos anos 1930 chegaram ao Brasil os imigrantes que conseguiram organizar as práticas do judô e kendô no país.

A primazia pode realmente estar com os japoneses do Kasato Maru, entretanto a forma mais válida e que melhores resultados trouxeram na época foi à atuação dos lutadores, que atingiam com seus espetáculos um número bem maior e de forma mais positiva os possíveis interessados. Com o passar do tempo essa situação inverteu-se, já não mais havendo os espetáculos como eram proporcionados naqueles tempos. Assim se uns chegaram primeiro, os outros atuaram de forma mais objetiva e eficiente para a implantação do judô naquela época.

Foi em 1914 que chegou ao Brasil Eisei Mitsuyo Maeda, tendo ele a seu crédito o primeiro registro nos anais da história do judô brasileiro, aceitando desafios e ganhando todos, promovendo assim esse esporte. Radicou-se finalmente em Belém do Pará, onde montou sua escola com algum sucesso.
Maeda nasceu em 18 de novembro de 1878, no povoado de Funazawa, cidade de Hirosaki, provincia de Aomori, (bem ao norte da ilha de Honshu) e não era de origem nobre. Frequentou a escola Kenritsu Itiu (atualmente Hirokou — uma escola de Hirosaki). Quando criança era conhecido como Hideyo. Quando adolescente, praticou sumô, mas sentia que faltava o ideal para prosseguir nesse esporte. Por este motivo e devido ao interesse gerado pelas notícias sobre o sucesso do judô, principalmente em competições entre judô e jiu-jitsu no qual na maioria das vezes o judô ganhava que estavam ocorrendo naquela época, ele então mudou para esse esporte. Em 1894, aos dezessete anos de idade, seus pais lhe enviaram a Tóquio para se matricular na Universidade de Waseda, onde começou no ano seguinte, a praticar o judô do Kodokan (numa tradução adaptada Instituto de Estudos do Judô).

Ao chegar no Kodokan, Maeda, com 1,64 m de altura e 64 kg, foi confundido com um garoto de entrega, devido a sua origem, tamanho e maneira que com se comportava. Então, o fundador do judô, Jigoro Kano prontamente lhe enviou à Tsunejiro Tomita (4 º dan), que era o menor dos professores do Kodokan. Essa atitude foi uma medida tomada para mostrar que, no judô, o tamanho não era importante. O sensei Tomita foi o primeiro judoca do Kodokan e era um amigo próximo de Jigoro Kano. Segundo a Koyassu Massao (9 º dan): "Entre os quatro do Kodokan, foi Tomita que recebeu a maior quantidade dos ensinamentos do sensei Jigoro Kano ... isso por que Tomita não foi um tão bem sucedido lutador como Saigo, Yamashita e Yokoyama, mas, foi excepcionalmente aplicado nos estudos, e foi também fluente em língua inglesa ...

Embora um dos mais fracos do Kodokan, Tomita era capaz de derrotar o grande campeão de jiu-jitsu desse tempo, Hansuke Nakamura, do estilo tenjin shinyō-ryū.

Juntamente com Soishiro Satake, Maeda foi um dos que encabeçaram a segunda geração do Kodokan, que substituiu a primeira até o início do século XX. Satake, com 1,75 m e 80 kg, era inigualável no sumô amador, mas admitiu que ele próprio não foi capaz de igualar a Maeda no judô. Satake, mais tarde, viajou a América do Sul com Maeda e se estabeleceram em Manaus, Amazonas, enquanto Maeda continuou viajando. Satake se tornaria o fundador, em 1914, da primeira academia historicamente registrada no Brasil. Ele e Maeda são considerados os pioneiros do judô no Brasil.

Naquela época, havia poucos graduados no Kodokan. Maeda e Satake foram os primeiros professores graduados na Universidade de Waseda, ambos sandan (3º dan), juntamente com Matsuhiro Ritaro (nidan ou 2º dan) e seis outros shodans(1º dan). Kyuzo Mifune, matriculado no Kodokan em 1903, atraiu a atenção de Maeda, que comentou: "Você é forte e competente, portanto, certamente vai deixar a sua marca no Kodokan..." No entanto, Mifune teve aulas com Sakujiro Yokoyama. Mais tarde, Mifune disse a Maeda que suas palavras foram fundamentais e de um grande incentivo para ele, e que ele tinha Maeda como a maior admiração, embora Yokoyama fosse seu sensei (instrutor).

De acordo com Mifune, em 1904, Maeda perdeu para Yoshitake Yoshio, depois de derrotar três adversários em sucessão, mas em uma sequência tsukinami shiai derrotou oito adversários em seguida e recebeu a categoria de 4º dan (yondan). Ainda em 1904, Mestre Jigoro Kano aconselhou Maeda a viajar para os Estados Unidos a fim de mostrar aos americanos as habilidades das artes marciais japonesas. Antes de partir, recebeu o quarto grau das mãos de seu mestre. Tomita, Maeda e Satake partiram de Yokohama, em 16 de novembro de 1904, e chegaram a Nova York no dia 8 de dezembro de 1904. Quando Maeda deixou o Japão, o Judô era ainda conhecido como “Kano Ju-Jutsu" ou ainda, mais genericamente apenas “Ju-Jutsu”.


Yasuichi Ono, Soishiro Satake, Tokugoro Ito e Mitsuyo Maeda em 1912

Maeda viajou para diversos locais realizando lutas e demonstrações, entre eles: a Espanha, Rússia, Alemanha, Itália e Inglaterra, México, Cuba, América Central e a América do Sul em 1913 e 1914.

Mifune, afirmou que Maeda foi um dos maiores promotores do judô, não através de ensinamentos, mas através de seus combates, muitos destes, com competidores de outras disciplinas.7 Maeda tratava alunos experientes e inexperientes, da mesma forma, tratando-os como se fosse um combate real. Ele argumentou que esse comportamento era uma medida de respeito para com seus alunos, mas foi muitas vezes incompreendido e assustou muitos jovens, que o abandonavam em favor de outros professores.

De acordo com uma cópia do passaporte de Maeda fornecido por Gotta Tsutsumi, presidente da Associação Paramazônica Nipako de Belém, Maeda chegou ao Brasil, vindo da Argentina, pela cidade de Porto Alegre, estado do Rio Grande do Sul, em 14 de novembro de 1914, porém a história contada no site da CBJJ que foi na cidade de Santos São Paulo onde ele desembarcou primeiro ao chegar no Brasil. Foi na própria Porto Alegre que fizeram, então, sua primeira demonstração de judô. Depois disso, Maeda e seus companheiros se apresentaram ao longo do país: passando por Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Recife, São Luiz, Belém. Em 18 de dezembro de 1915 em Manaus. Em 20 de dezembro de 1915, chegaram a Belém, onde se apresentaram no Theatro Politheama. Na ocasião da primeira apresentação em Belém, o jornal da cidade "O Tempo", anunciou o evento, afirmando que "Conde Koma" iria mostrar as principais técnicas do "jiu-jitsu" exceto aqueles proibidos. Maeda também demonstrou técnicas de auto-defesa. Depois disso, o grupo começou a aceitar desafios da multidão, e a pedido de todos, houve uma luta "sensacional" de "jiu-jitsu" entre Shimitsu, campeão da Argentina, e Laku, militar peruano e professor.

Em 22 de dezembro de 1915, de acordo com o jornal "O Tempo", Maeda enfrentou Satake, numa "sensacional luta". No mesmo dia, Nagib Assef, um campeão australiano de origem turca de luta greco-romana, desafiou Maeda, que não quis lutar na ocasião. Em 24 de dezembro de 1915, Maeda derrotou em segundos o pugilista Barbadiano Adolpho Corbiniano, que se tornou um dos seus discípulos. Em 3 de janeiro de 1916, no Theatro Politheama, Maeda finalmente lutou contra Nagib Assef, que foi jogado por Conde Koma, para fora do palco. Em 8 de janeiro de 1916, Maeda, Okura e Shimitsu embarcaram no SS Antony, que partiu para Liverpool. Ito Tokugoro foi para Los Angeles. Satake e Laku foram para Manaus, onde ensinariam jiu-jitsu. Após 15 anos juntos, Maeda e Satake haviam finalmente se separado. Desta última viagem, pouco se sabe. Maeda viajou da Inglaterra para Portugal, depois foi para Espanha e, em seguida, para França, voltando para o Brasil em 1917 sozinho. De volta ao Brasil, Maeda fixou-se em Belém do Pará, onde casou com May Iris. Depois adotou Celeste e Clívia, suas únicas filhas.


Maeda, May Iris e uma das filhas

Em 1917 Carlos Gracie, 14 anos, filho de Gastão Gracie, assistiu a uma demonstração dada por Maeda, no Teatro da Paz, e decidiu aprender judo (conhecido na época como "kano jiu-jitsu"). Maeda aceitou Carlos como um estudante. Carlos passou, então, a ser um grande expoente da arte e, finalmente, com o seu irmão mais novo, Hélio Gracie, tornou-se o fundador do gracie jiu-jitsu, ou modernamente chamado de "brazilian jiu-jitsu" ou, "jiu-jitsu brasileiro". Entre estes alunos, estava também Luiz França que, mais tarde seria mestre de Oswaldo Fadda. Ambos seriam os responsáveis pelo surgimento de outro ramo do jiu-jitsu no Brasil.

Maeda era popular no Brasil, e reconhecido como um grande lutador, mas ele lutou apenas esporadicamente após o seu retorno. Entre os ano de 1918-1919, Maeda aceitou um desafio do famoso capoeirista brasileiro conhecido como "Pé de Bola". Maeda, permitiu até que Pé de Bola usasse uma faca na luta. O capoeirista tinha 1,90 m de altura e pesava 100 kg. Mas, mesmo armado, Maeda venceu a luta facilmente usando o judô. Em 1921, Maeda fundou sua primeira academia judô no Brasil no Clube do Remo, bairro da cidade velha, e sua construção foi num galpão de 4m x 4m. Mais tarde, a escola foi transferida para a sede do Corpo de Bombeiros, e depois para a sede da Igreja de Nossa Senhora de Aparecida. Desde 1991, a Academia situa-se no SESI, a saber, é dirigida pelo sensei Alfredo Mendes Coimbra, da terceira geração de descendentes do Conde Koma.

Em 18 de setembro de 1921, Maeda, Satake, e Okura foram brevemente para Nova York. Eles estavam a bordo do navio a vapor Booth Line SS Polycarp. Todos os três homens foram listados em suas profissões como professores de "juitso". Depois de deixar Nova York, os três homens foram para o Caribe, onde permaneceram de setembro a dezembro de 1921. Em algum ponto nesta viagem, Maeda foi acompanhado por sua esposa. Em Havana, Satake e Maeda participaram de alguns torneios. Seus adversários incluíram Paul Alvarez, que lutou como "Español Icognito". Alvarez derrotou Satake e Yako Okura, antes de ser derrotado por Maeda. Maeda também derrotou um boxeador cubano chamado Jose Ibarra, e um lutador francês chamado Fournier.

Na década de 20 Maeda se envolveu na ajuda a imigrantes japoneses perto de Tomé-Açu, quando teve início o processo da imigração japonesa, participou ativamente do projeto servindo como intérprete e mediador do interesse japonês e do governo do estado. Continuou também a ensinar o judô, principalmente para os filhos dos imigrantes japoneses. Em dezembro de 1928 quando foi fundada em Belém a Companhia Nipônica de Plantações do Brasil S/A, fez parte da sua diretoria assumindo o cargo de conselheiro fiscal. Que foi parte de uma grande extensão da Floresta Amazônica reservada para o estabelecimento de japoneses pelo governo brasileiro. No inicio as lavouras cultivadas pelos japoneses não eram populares entre os brasileiros, na época, a colônia de imigrantes japoneses foi vista pelos antinipônicos como estratégia do Império do Japão em utilizar seus imigrantes instalados em "verdadeiros latifúndios" para promover, no futuro, o domínio político e militar sobre o Brasil.

Em 1929, o Kodokan lhe promoveu ao sexto dan. Em 11 de março de 1930, naturalizou-se brasileiro com o nome de Otávio Mitsuyo Maeda. E em 27 de novembro de 1941, o Kodokan lhe promoveu ao sétimo dan. Mas Maeda nunca soube desta promoção, porque faleceu em Belém, em 28 de novembro de 1941, aos 63 anos. A causa da morte foi doença renal, sendo sepultado no cemitério Santa Isabel. Em maio de 1956, um memorial para Maeda foi erguido em Hirosaki, Japão. Cerimônia de inauguração contou com a presença de Risei Kano e Kaichiro Samura.

Ainda em 1924 ou 1925 chega Takagi Saigo, instalando-se em São Paulo e como não obteve bons resultados, prontamente voltou ao Japão.

Nessa mesma época chegou também Tatsuo Okoshi, membro do Kodokan e kodansha (nono dan, faixa vermelha, distinção máxima do esporte), que teve participação bem maior no desenvolvimento do judô brasileiro. Foi o fundador e primeiro presidente no Brasil da Associação dos Faixas Pretas do Kodokan e em 1958, também ajudaria a fundar e seria o primeiro diretor técnico da Federação Paulista de Judô (FPJ), a primeira federação estadual do País.

Mas Okoshi teve muita ajuda. E um dos seus aliados na difusão do esporte foi a chegada, em 1928, foi de Katsuoshi Naito, 7º dan, que se radicou em Suzano, São Paulo. Sua participação na organização e consolidação do nosso judô foi marcante. Ocupou pela primeira vez a função de diretor do departamento de judô da Federação Paulista de Pugilismo, então mentora oficial do nosso esporte, antes da fundação da Federação de Judô. Por estar numa cidade do interior, Naito era a principal figura do que à época se chamava Kodokan do interior, enquanto Okoshi era o homem-forte do kodokan da capital.

Seria também em 1928 que chegou Geo Omori, lutador extraordinário, que lançando e aceitando desafios, muitos deles no antigo Circo Queirolo, em São Paulo, a exemplo de Mitsuyo Maeda, ganhava sempre e assim chamando a atenção e contribuindo à sua maneira para manter viva a tênue chama que mais tarde viria transformar-se num dos maiores esportes brasileiros.

Outro a chegar em 1928 foi Yasuichi Ono, então 3º dan, que também aceitando desafios e trabalhando com extrema dedicação pelo judô, fez jus a que seu nome fosse inscrito com todo mérito e justiça nas páginas da história do nosso esporte. Em 1932 abre a sua primeira academia, mãe de muitas outras que prosperaram e dão continuidade ao trabalho do grande mestre, hoje 9º dan.

Somente nas décadas de 1930 e 1940 alguns professores se dedicaram à divulgação e à prática do judô, com a corrente migratória japonesa que se instalava em São Paulo, muitos outros mestres surgiram iniciando a prática do judô nas colônias interioranas de São Paulo, na Cidade do Rio de Janeiro, na Baixada Fluminense e em Itajaí.

Grandes mestres se destacaram, mas, persistiam alguns mantendo a antiga denominação de ju-jutsu, originando discussões, dissociando uma denominação da outra, obrigando aqueles que se empenhavam na divulgação do judô a um exaustivo trabalho de doutrinação chegando, muitas vezes, ao extremo de aceitar desafios, para confronto entre seus participantes. Ainda na década de 1930, mais precisamente em 1931 chega Sobei Tani, 6º dan, estabelecendo-se com sua academia em Jaraguá, São Paulo, de onde saíram grandes campeões como os irmãos Shiozawa, Koki Tani e outros. Outros mais foram chegando e localizando-se no interior, levando para diversas regiões onde a imigração japonesa era mais intensa, o esporte que só mais tarde iria frutificar e tornar-se popular. Chegava ainda ao Brasil em 1934 o mestre Ryuzo Ogawa, 8º dan, fundando a academia Ogawa (Budokan), com o único objetivo de aprimorar a cultura física, moral e espiritual, através do esporte de quimono (keikogi), obedecendo aos princípios morais e filosóficos pregados pelo mestre Jigoro Kano. Não se poderá deixar de reconhecer que o grande passo para o crescimento do judô no Brasil foi iniciado com o mestre Ogawa, em 1938, quando o mesmo juntamente com um grupo de idealistas oriundos do longínquo Japão, começaram um trabalho de amplos ideais, que visava projetar este nosso esporte na preferência dos brasileiros, separando-o definitivamente do ju-jutsu. Esse trabalho foi à conquista final para a confirmação do judô no Brasil, sobrepondo-se ao ju-jutsu e expandindo-se rapidamente para o interior, onde em algumas regiões, embora muito discretamente já era praticado. Com a mesma intensidade e rapidez investiu também para outros estados, alastrando-se praticamente por todo Brasil.

Na década de 1940 consolida-se o prestígio do judô em todo o Brasil, esclarecidas as dúvidas quanto às suas origens do antigo ju-jutsu, propagando-se a sua prática no Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, dentre outros estados, fundando-se novas academias e crescendo o número de seus praticantes.

Assim a mercê do esforço e dedicação de japoneses e brasileiros, o judô progride a passos largos. Em São Paulo, no ano de 1951 foi realizado o seu primeiro campeonato oficial. Em 1954 o Rio de Janeiro também realiza o seu. Ainda em 1954, realiza-se o primeiro Campeonato Brasileiro, tendo como sua maior expressão o judoca Massayoshi Kawakami, campeão nas categorias 3º dan e absoluto. Em 1956, o Brasil participa pela primeira vez de uma competição no exterior, mais precisamente do II Campeonato Pan-Americano, realizado em Cuba, ficando em honroso segundo lugar. Formavam a equipe os judocas Massayoshi Kawakami, Sunji Hinata, Augusto Cordeiro, Luiz Alberto Mendonça, Hikari Kurachi e Milton Rossi.

Continuando com mais força nos anos 50 o já vigoroso crescimento da década de 40, necessário se faz à criação de um órgão mentor para dirigir, coordenar as atividades judoísticas em franco desenvolvimento. Para essa coordenação funda São Paulo a sua federação em 17 de abril de 1958, e o Rio de Janeiro em 09 de agosto de 1962. Dirigia na época o judô no Brasil a Confederação Brasileira de Pugilismo. Dia a dia acentuava-se a necessidade de um órgão nascido nos próprios meios judoísticos, dedicando-se exclusivamente ao judô, que o representasse a nível nacional e internacional. Assim em 18 de março de 1969 foi fundada a Confederação Brasileira de Judô, tendo como seu primeiro presidente Paschoal Segreto Sobrinho.

Em 22 de fevereiro de 1972, foi a Confederação Brasileira de Judô reconhecida oficialmente, sendo então o seu presidente até o início de 1979, Augusto de Oliveira Cordeiro.