quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Massao Shinohara



Condecorado com a Ordem do Sol Nascente e promovido a 10º Dan de Judô

O mestre Massao Shinohara, judoca de 92 anos, filho de imigrantes japoneses criado em Embu das Artes, São Paulo, começou a praticar judô em 1940, aos 15 anos. Sua forma de lutar chamou a atenção de Ryuzo Ogawa, um dos grandes mestres de judô do Brasil, com quem passou a treinar em São Paulo até se tornar professor.

Em 1956, fundou a Associação de Judô Vila Sônia numa garagem alugada e conciliava as aulas com o trabalho de transportador de legumes. Com a ajuda do amigo Jorge Tatsumi e dos pais de seus alunos, angariou recursos para comprar um terreno maior e construiu sozinho o que é hoje o atual dojô da Associação de Judô Vila Sônia, fundado em 1986.

Massao, um dos maiores senseis formadores de faixas pretas de judô no Brasil e mentor de grandes nomes do judô nacional como Aurélio Miguel, Luis Onmura, Carlos Honorato, Cristhiane Parmigiano, entre outros, formou grandes faixas pretas brasileiros, entre eles seu próprio filho, Luiz Shinohara, técnico da seleção masculina do Brasil desde 2002.

Foi técnico da seleção brasileira de judô nos Jogos Olímpicos de Los Angeles 1984, onde Douglas Vieira conquistou a prata, além de Luiz Onmura e Walter Carmona que conquistaram o bronze. Em sua trajetória como professor.

Massao Shinohara foi homenageado pelo Consulado Geral do Japão em São Paulo no dia 14 de novembro deste ano, recebendo a “Ordem do Sol Nascente – Raios de Prata”, a segunda maior honraria outorgada pelo governo japonês. Estabelecida em 1875 pelo Imperador Meiji, a condecoração é, tradicionalmente, entregue em nome do Imperador àqueles que prestaram longos e meritórios serviços ao país, sendo destinada a civis, militares, japoneses e estrangeiros.

O senhor Massao Shinohara, como professor de judô, atuou durante longos anos na difusão do judô e na capacitação de sucessores, formando muitos medalhistas e contribuindo grandiosamente para o fortalecimento do Judô no Brasil. O fato do Brasil ser hoje conhecido no Judô seguramente se deve aos esforços do senhor Shinohara", destacou o cônsul-geral do Japão, Takahiro Nakamae. 

O mestre do judô nacional, entrou para a história do esporte brasileiro na noite do dia 17 de novembro último ao receber a faixa vermelha 10º Dan, em cerimônia realizada na sua Associação de Judô Vila Sônia, em São Paulo. O 10º Dan é o grau mais alto que um judoca pode alcançar e Massao é o primeiro do Brasil a ostentar esse título. Em clima de harmonia e festa, o acolhedor dojô da Vila Sônia recebeu familiares, amigos, alunos, ex-alunos, professores kodanshas, medalhistas olímpicos, como Aurélio Miguel, Rogério Sampaio, Carlos Honorato, Luiz Onmura, Henrique Guimarães, Rafael Silva “Baby”, Leandro Guilheiro e autoridades, como o presidente da CBJ, Silvio Acácio Borges, e o presidente da Federação Paulista de Judô, Alessandro Puglia, responsáveis por entregar o diploma e a faixa ao sensei Massao.

“É preciso sempre reverenciar Massao Shinohara por sua conduta e pelo que ele representa para o judô brasileiro. Sua história está escrita em cada um de seus alunos, de seus amigos e de sua família. Só me resta agradecer por poder participar desse grande momento do judô nacional, realizando a merecida outorga de 10º Dan ao sensei Massao Shinohara”, pontuou Silvio Acácio.

“Foi um trabalho árduo em busca desse reconhecimento ao sensei Massao Shinohara, que formou diversos atletas aqui neste dojô e transformou o judô de São Paulo. É um momento histórico para um mestre incontestável”, afirmou Puglia.

O primeiro campeão olímpico do judô brasileiro e aluno forjado pelo rigor e técnica de Shinohara, Aurélio Miguel foi o responsável por falar em nome de todos os alunos e pelo kampai, o brinde em homenagem ao mestre.

“Nós, alunos do sensei Massao, tivemos a oportunidade de aprender judô aqui na Vila Sônia. Sensei Massao sempre nos ensinou com muita disciplina e buscava sempre resgatar o verdadeiro judô. É um exemplo, uma inspiração para todos nós. O judô brasileiro está em festa”, resumiu o campeão.

Foto: Everton Monteiro/Boletim Osotogari

sábado, 21 de outubro de 2017

Sensei e Shiran



SENSEI
Não há termo mais utilizado e, possivelmente, menos entendido do que o termo japonês Sensei.

A sua utilização indiscriminada com infinitos significados no meio das Artes Marciais ensinadas no ocidente, confere-lhe um status místico-transcendente, elevando o seu "usuário" a um patamar acima dos demais mortais, sem que, de fato, seja real merecedor.

A palavra Sensei, quando escrita em japonês, é composta por duas ideias distintas:
SEN (Saki) - "antes, à frente, precedente, prévio, etc."
SEI (Umareru) - "viver, nascer"

Conclui-se que Sensei literalmente significa "Aquele que nasceu/viveu antes (de mim)" e, consequentemente, implica "ser mais velho", "ter mais experiência".
Contudo, a condição de "ser mais velho" em determinada área de atividade pode ser atingida por meio de educação, conhecimento efetivo sobre determinada matéria, profissão e também por idade, no Japão é extremamente comum referirmo-nos às pessoas mais velhas, devido ao respeito que temos por elas, pela designação Sensei. Neste mesmo contexto, dentro da sociedade japonesa, certas pessoas com status social definido como médicos, advogados, professores, etc. frequentemente são chamados de Sensei, praticamente da mesma forma como são usadas as expressões: "doutor", "engenheiro" e assim por diante.

Isso leva-nos à questão da palavra Sensei utilizada dentro das Artes Marciais praticadas nos dias de hoje. Em primeiro lugar, e que isso fique bem claro, ter uma faixa preta, não faz de ninguém um Sensei, e, por isso, é errado e completamente fora de contexto obrigar os alunos a tratarem os faixas pretas por esta denominação.

Vejamos um exemplo prático: uma pessoa, com uma certa idade, com família para sustentar e que é 2º ou 1º Kyû, ser obrigado a tratar um faixa preta, mais jovem que ele, pela denominação Sensei. É ir muito além do que este termo representa e é uma falha grosseira de etiqueta tradicional japonesa (onde os mais jovens devem respeitar aos mais velhos).

Assim, quem seria um Sensei dentro das Artes Marciais ensinadas no ocidente?
A denominação Sensei é, em grande parte, uma medida de comparação entre indivíduos que possuem uma arte em comum e, neste aspecto, define o respeito que ambas têm entre si. O grau de conhecimento da cultura japonesa determina a utilização do termo dentro do círculo restrito de conhecimentos interno (independentemente das faixas ou graduações que possuam).

Isto já não é válido para elementos de Artes Marciais diferentes, onde não se pode determinar com precisão o conhecimentos dos outros indivíduos ou sermos capazes de dizer definitivamente se este ou aquele nasceu antes de uma outra pessoa. Assim sendo, o termo Sensei não pode ser usado neste contexto sob pena de cair no erro de "subestimar" ou "superestimar" o conhecimento real de determinado indivíduo que provém de fora do círculo de conhecimento interpessoal.

Contudo, uma vez que as Artes Marciais Japonesas são um guia de comportamento baseado nos ensinamentos de condutas marciais Japonesas, onde a humildade, simplicidade, retidão e o "não apego ao ego" são fatores determinantes, vê-se a cada dia que passa um crescente número de indivíduos que se apresentam como "Sensei, tal Dan de tal Arte". Tal comportamento apenas demonstra a falta de conhecimento por parte destas pessoas no que diz respeito ao significado real desta palavra e vai diretamente contra os ensinamentos básicos de humildade e simplicidade ensinados em qualquer Arte Marcial Japonesa, pois o esforço deve ser feito na compreensão da Arte, seja ela qual for, e não no acúmulo de títulos, por pura vaidade.

Desta forma, um melhor entendimento do termo em questão, uma melhor compreensão de condutas culturais estabelecidas pela prática das Artes Marciais e uma maior reflexão sobre o verdadeiro significado da palavra "humildade" talvez mudassem este panorama caótico do uso da palavra Sensei.

SHIHAN
Esta palavra também é composta por duas duas ideias:
SHI - "professor, mestre ou pessoa de caráter exemplar"
HAN - "bom exemplo".

Assim, usado de modo tradicional, Shihan é um termo de tratamento dirigido a pessoas a quem se vê como um exemplo a ser seguido.

Atualmente tende-se a pensar que a função de um professor é comunicar informações a seus alunos, porém, o uso tradicional do termo shihan está ligado a um modelo mais antigo de instrução. Nesse modelo, as pessoas que querem aprender uma atividade ou arte ligam-se a um mestre, a que devem observar e imitar. Desse modo, recebem ensinamentos gerais sobre como conduzir suas vidas bem como ensinamentos mais específicos relacionados à técnica de sua arte. Há (diz-se às vezes) uma "transmissão de coração para coração" da arte do mestre ao aluno – uma transmissão que não pode ser realizada a menos que este esteja em contato direto com o mestre.

Empregado para significar mestre, o termo Shihan é simplesmente uma forma respeitosa de tratamento. Em geral, seria endereçado apenas àqueles com grande conhecimento, habilidade, experiência, e habilidade para ensinar – e ainda somente se tivessem vivido vidas exemplares. Ainda assim seria um erro exigir uma definição precisa desse termo de tratamento, assim como seria um absurdo perguntar quantos anos um ceramista teria de exercer a prática de sua profissão antes de poder ser chamado de mestre ceramista.

Shihan é um título normalmente usado em artes marciais. Cada arte ou organização tem requerimentos diferentes para o uso deste título, mas em geral é uma graduação muito alta, que leva décadas para ser atingida. É às vezes associado a certos direitos, como por exemplo o de outorgar graduações DAN em nome da organização.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Senpai e Kõhai



A sociedade japonesa é um tipo de sociedade muito marcada pela hierarquia, Senpai e Kõhai são termos usados na cultura japonesa e são formas de tratamento baseadas no status decidido com base na idade, importância, cargo ou tempo ao qual o indivíduo pertence a uma organização. No Japão se pode encontrar este sistema em praticamente qualquer nível da sociedade, desde a educação, passando pelo trabalho e pelas artes marciais, sobretudo. Senpai é aproximadamente equivalente ao conceito ocidental de “veterano” enquanto kõhai não possui uma tradução certa, mas de um modo geral tem um significado equivalente a “calouro”, embora não implique uma relação tão forte quanto significa no Ocidente.

O sistema Senpai e Kõhai é simples. Entre duas pessoas que habitualmente passam muito tempo juntas num mesmo local, naturalmente uma delas é o mentor (Senpai) e a outra o aprendiz (Kõhai). Na maioria das vezes o Senpai é a pessoa de maior idade e o Kõhai o mais jovem. De forma simples, Senpai é utilizado para se referir a uma pessoa mais velha e experiente, um mentor ou sênior. Já kouhai é uma pessoa mais nova, novata ou inexperiente. Ninguém se sente ofendido ao ser chamado de Kouhai, ao contrario, existe uma grande relação entre os 2.

O Senpai tem a função de passar a experiência que ganhou por estar mais tempo neste local, advertir e aconselhar para que o Kõhai possa progredir mais e melhor. Por outro lado o Kõhai deve guardar respeito a seu Senpai e acatar aquilo que ele lhe disser ou aconselhar.

Senpai não é a pessoa que ensina, doutrina ou que guia os Kõhais, pois este é o papel de um Sensei. A obrigação de Senpai é muito difícil, pois além de coordenar tarefas mais complexas e com mais responsabilidades do que as do kõhai, deve ser um exemplo em todos os aspectos possíveis, para mostrar aos Kõhais qual a postura que deve ser adotada. O Senpai deve possuir habilidades técnicas e de postura que inspirem seus Kõhais a fazer o mesmo.
O Senpai é um estudante sênior (designado pelo Sensei) que se torna responsável por um ou mais Kohâis (estudantes) para ensinar-lhes as informações básicas sobre o Ryû ou escola. Frequentemente esta relação é conhecida como "irmão mais velho / irmão mais novo" dentro do Japão tradicional e deveria ser feito de idêntica maneira dentro das escolas de Artes Marciais.

Num clube de desporto ou artes marciais japonesas, como numa academia de Judô ou uma equipe de baseball, é esperado do Kōhai a execução de tarefas simples para o clube como lavar roupas e limpar equipamentos. Mais do que uma simples divisão de respeito, esta relação estabelece obrigações mútuas. Do Kōhai espera-se o respeito ao seu Senpai, enquanto do Senpai espera-se que este seja um exemplo para o Kōhai.

Há algum tempo, um judoca perguntou como é o tratamento quando ocorre deles serem de mesmo nível, idade e estar pelo mesmo tempo no mesmo lugar, neste caso, os japoneses se chamam por seu nome ou utilizam outros sufixos mais próprios do idioma e não do sistema Senpai e Kõhai (como por exemplo: -Chan, -Kun, -San, etc.) Em outros casos tendem a adicionar no final do nome o sufixo Senpai. Por outro lado, um Senpai se dirige a seu Kõhai por seu nome sem utilizar nenhum tipo de sufixo.

Normalmente não há separação certa de idade entre um kōhai e um Senpai. Mas alunos mais velhos que os do primeiro ano também usam este termo. Esta hierarquia pode continuar depois de saírem da escola, empresa ou organização. Isto é válido particularmente quando haja eventos para reuni-los, tais como a ida para outra escola, empresa, equipe ou simplesmente em momentos de lazer. Em ocasiões mais raras, uma pessoa mais jovem também pode ser considerada Senpai de uma pessoa mais velha, caso a pessoa mais velha tenha entrado depois do mais novo em qualquer organização.

Nas artes marciais japonesas, o termo Senpai geralmente se refere a alunos de um nível mais elevado. Eles são escolhidos para ajudar o sensei com os alunos mais jovens ou menos experientes. A figura do Senpai não é formalizada, ou seja, não é algo obrigatório em dojos. Existem dojos que têm essa figura e outros que não. O Senpai é uma espécie de monitor da turma e deve ser respeitado porque tem a confiança do Sensei, conduz a saudação dos alunos no início e no final das aulas, conduz as aulas quando o Sensei não está presente, faz cumprir as regras do dojo. O Senpai é o elo de ligação entre os alunos e o Sensei, pegando as perguntas, dúvidas, solicitações, reclamações ou observações transmitindo-as para o Sensei. Ser Senpai é uma honra e um privilégio, mas também é uma responsabilidade e um compromisso que nem todos estão preparados para carregar nos seus ombros.

Por esta abordagem, o sistema Senpai e Kõhai parece ser boa ideia, um sistema muito bom. O problema é que, como na maioria das ideias utópicas, muitas vezes o significado original é distorcido. Já foi visto o sistema Senpai e Kõhai bem aplicado, mas na maioria das vezes não é tão bem aplicado, especialmente em escolas, faculdades e universidades, onde normalmente começa a aplicação deste sistema, os Senpais querem tirar proveito de sua condição e muitas vezes maltratam seus Kõhais, se esquecendo daquela parte que diz: proteger e ser exemplo.

Geralmente, se um Kõhai não foi bem tratado pelo seu Senpai, tentará dar o mesmo tratamento quando ele próprio for um Senpai. Ao se tornarem veteranos ao invés se sentirem orgulhosos e fazerem seu máximo para ajudar os novatos que chegarem, passam a achar que podem dar o mesmo tratamento que receberam, fazendo com que a história se repita várias vezes, jogando por terra a aplicação do sistema.

sábado, 9 de setembro de 2017

Judô: O tatami - Agora é mole... Mas já foi dureza



Normalmente em português escrevemos e falamos tatame, mas a escrita e a pronúncia correta é tatami. Este termo deriva do verbo tatamu, que significa dobrar ou empilhar, muito provavelmente porque no início, os tatames eram um piso que caso não estivesse em uso poderia ser dobrado ou empilhado. O tatame (esteira) é um elemento chave da decoração nipônica. Faz parte da milenar cultura japonesa o ato de sentar e/ou deitar diretamente no chão em cima de esteiras. No início a palavra tatami era designada para descrever os objetos dobráveis ou os usados para aumentar a espessura para as pessoas poderem se acomodar em cima.

Sua origem remonta a era primitiva quando os japoneses tinham o hábito de trançar vegetais nativos. Os camponeses costumavam usar muitos trançados feitos com palha de arroz, pois era um material abundante nos campos de cultivo. Os trançados feitos com um junco chamado igusa, uma planta usada na confecção de têxteis no Japão há pelo menos dois mil anos, que por ter uma superfície lisa, resistência, flexibilidade e comprimento ganharam destaque na sociedade antiga e passaram a ser utilizados nas cerimonias religiosas e por nobres, inclusive eles começaram a ser chamados de goza, lugar de sentar, sendo destinados para os deuses e cerimonias antigas.

Foi a partir do período Heian (794-1192), que o tatami começou a tomar a forma conhecida nos dias de hoje. Naquela época as casa dos nobres tinham muitos aposentos e os tatamis (feitos de palhas de arroz firmemente atadas e cobertas com uma fina esteira de igusa) eram colocados sobre o assoalho de madeira nos locais onde eram necessários assentos. Eles ainda não eram utilizados para forrar todo o piso.
Mas só a partir do período Muromachi (1336–1573) os tatamis que originalmente eram um item de luxo exclusivo da nobreza, gradualmente tornaram-se acessíveis e comuns em todas as casas, principalmente também pela popularização da Cerimônia do Chá.

Um tatami tradicional japonês é feito basicamente de três componentes:
Tatami-omote – é o tecido da superfície, capa tecida de Igusa (Juncus Effusus) que é uma planta aquática que cresce melhor na parte sul do Japão,
    
Tatami-doko – é o núcleo, base feita comumente de palha de arroz compactada, pois esta oferece um perfeito grau de firmeza e também é muito durável,
Tatami-beri - é a borda decorativa de acabamento feita de seda, linho ou algodão e que corre ao longo da parte mais comprida. Além de dar o toque de requinte à peça, serve para prender o núcleo à superfície de esteira. No passado, o design multicolorido e atraente expressava o status social de uma família ou a posição social de um individuo na sociedade.
Na época em que Jigoro Kano treinava, os tatamis eram exatamente assim. Hoje em dia, um tatame desses custa uma pequena fortuna por aqui no Brasil, tornando absurdamente custoso manter um dojô de um tamanho razoável. Além da difícil manutenção, tem também o fato de que a palha da esteira dava algumas queimaduras se friccionada contra a pele. Ralar a cara na palha lutando não devia ser um negócio legal.

Aqui no Brasil, quem é mais antigo no judô, deve se lembrar de tatamis confeccionados também com núcleo de palha de arroz, mas recobertos com tecido (lona), no lugar da esteira de igusa. mas segundo os mais experientes, os tatames oficiais eram assim por aqui desde a década de 60.

Os tatamis oficiais de hoje são fabricados na medida de 2x1m com espessura de 40 mm de espuma de alta densidade, constituída de grânulos de poliuretano de 8mm aglutinados com adesivo especial com resistência a compressão de 600 a 400kg/cm², recobertos com uma lona de vinil com textura efeito palha natural com tecido de reforço de poliéster, especial para a pratica desportiva. que imita a textura do igusa no tatami tradicional. Algo parecido com isto, numa visão recortada:
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Já nos dojôs locais, era comum até não muito tempo atrás, o tatame todo ser uma grande área cujo núcleo era feito com raspas de pneu e coberto com uma lona. Ainda existem muitos dojôs de raspa de pneu com certeza.

Atualmente a grande utilização é o tatami fabricado com EVA, (é a sigla de acetato-vinilo de etileno que deriva do inglês: Ethylene Vinyl Acetate ou etileno acetato de vinila). Essa espuma sintética é produzida a partir de seu copolímero termoplástico. O baixo custo de produção deste material o torna muito útil para diversas aplicações, inclusive para a fabricação de tatamis, é uma resina termoplástica derivada do petróleo especialmente desenvolvida para absorção de impactos com ótima memória de retorno, atóxico, resistente a água, revestido com película siliconada antiderrapante, garantindo maior segurança e facilidade na limpeza.

Os tatamis de EVA. são fabricado em placas de 1x1m e 2x1m e apesar de serem apresentados em espessuras de 10mm a 40mm, os recomendados para prática de judô têm no mínimo 30mm de espessura para melhor absorção de impacto e costumam já ter os encaixes tipo “quebra-cabeças” pra facilitar a montagem e ficar com mais firmeza. Embora este material seja relativamente barato e prático, infelizmente não possui uma vida útil muito longa se não for muito bem cuidado. Se for montado e desmontado em todo treino com certeza não vai durar muito. A reclamação de quem utiliza os tatamis de EVA. é que não possuem uma rigidez adequada para que as quedas do judô sejam executadas da melhor forma. Eles têm muito rebote, isto é, você “quica” muito quando cai. Outra coisa que incomoda, é que eles também não oferecem um deslize fluido para o tsuri ashi, o passo arrastado do judoca.

Se você pratica katás num tatami desses, deve saber do que está sendo comentado aqui, mas apesar de tudo, se tem uma coisa que se possa falar com toda convicção sobre qualquer tipo de tatami é que, sem eles, praticar judô seria no mínimo, muito mais doloroso!

quarta-feira, 15 de março de 2017

Judô: A Faixa feminina


O comitê executivo da Federação Japonesa de Judô anunciou nesta data, 13 de março de 2017, nova regulamentação e aboliu a faixa preta feminina com uma listra branca usada em competições internas na terra do judô para diferenciar homens e mulheres no tatame. A partir de agora, tanto homens, quanto mulheres usarão a faixa preta normal, sem listra, nos torneios domésticos, como já acontece nas competições da Federação Internacional de Judô.

A prática de diferenciação de gênero pelo uniforme vem há muito tempo sendo criticada como uma medida sexista. A própria Federação Internacional de Judô aboliu a faixa listrada em 1999 em competições internacionais.

Antigamente as faixas femininas possuíam uma tira branca no meio da faixa no sentido longitudinal para diferençá-las das faixas masculinas, não se sabe ao certo qual a utilidade desse método, mas em algumas escolas japonesas, ainda hoje, se vê essa tradição.

    
Pesquisando um pouco sobre isso, encontrei um pouco sobre o assunto no capítulo II do livro “Mulheres no Tatame: O judô feminino no Brasil”, escrito por Gabriela Conceição de Souza e Ludmila Mourão, o qual reproduzo abaixo:

...Jigoro Kano respeitava os limites e os valores de sua cultura, que pregava ideias como: “As mulheres não são feitas para lutar, e sim, para procriar”; esta ideia também existia no Ocidente. Entretanto, Kano, como educador, questionava esses valores e se interessava em desenvolver uma arte que não tivesse cunho violento e, portanto, não pudesse pôr em risco as condições físicas das mulheres, caso essa fragilidade realmente existisse, ou sobrecarregar seus corpos. Além disso, acreditava que a suavidade e a delicadeza que a cultura feminina trazia para as lutas configuravam-se como características importantes para aquilo que considerava o ideal do espirito judoístico. Partindo desse principio, Kano dá início às aulas de judô para mulheres em sua própria casa (Sugai e Tsujimoto, 2000). Por outro lado, as diferentes características do treinamento feminino e do masculino eram representadas inclusive na vestimenta própria do judô. O quimono utilizado para a prática da luta era o mesmo para ambos os sexos. Entretanto, ao longo da faixa feminina, longitudinalmente, deveria haver uma lista branca, que não existia nas faixas masculinas (Kano, 1994)...

... A primeira aluna do mestre Jigoro Kano foi Sueko Ashiya, em 1893, mas também participavam das aulas a esposa de Kano, Sumako, e algumas amigas (Sugai e Tsujimoto, 2000)...

...Somente em 1926, Jigoro Kano criou uma equipe só de mulheres na escola Koubun Gakuin, em Tóquio – a JoshiBu -, e a primeira mulher faixa preta foi Kozaki Kanoko, em 1933, cuja faixa apresentava a listra branca no meio para diferençá-la das faixas masculinas...

No Brasil não há notícia do uso da listra branca na faixa de judô, se houve já caiu em desuso há muito tempo.


Vamos falar mais um pouquinho sobre faixa de judô:

Por que não se lava a faixa do judô? Essa pergunta quando feita traz respostas das mais variadas, como pelo fato dela desbotar, superstição, etc.

Desbotar é sempre possível, dependendo da qualidade da faixa e a forma de lavagem e em termos de superstição, não se pode lavar porque a faixa demonstra todo seu conhecimento e lavando ele vai embora junto com a água (depois de mais velhos nós sabemos que isso não existe, mas para as crianças funciona bem).

Entretanto, a origem desta tradição tem uma explicação até lógica. Durante muito tempo, no Japão só existiam duas cores de faixa: branca ou preta. No intervalo entre uma e outra não havia como fazer a distinção entre alunos mais graduados e menos graduados. Ou melhor, havia, o judô nessa época era praticado no chão duro, muitas vezes na terra, sendo que, quanto mais suja a faixa, significava que o aluno treinava há mais tempo. Lavar a faixa então representaria um retrocesso.

O aluno só passava da faixa branca quando esta literalmente estava marrom de sujeira, a faixa marrom então significava que o aluno já treinou tanto, que ela ficou daquela cor.

Com o passar do tempo, foi introduzida então mais uma cor de faixa e a escolha da cor é óbvia: a marrom. Até hoje no Japão só existem essas três cores de faixa: a faixa branca japonesa que corresponde até aos quatro primeiros graus brasileiros (branco, azul, amarelo e laranja), a faixa marrom que corresponde aos nossos três graus seguintes (verde, roxo e marrom) e a preta que corresponde igualmente à nossa preta.

A origem das faixas coloridas, bem como, o significado das cores particulares, ainda é encoberta de mistérios, e pode permanecer perdida na história. Embora não tenha deixado nenhuma razão registrada para as várias cores usadas, o Dr. Kano deixou alguns indícios. De acordo com sua doutrina filosófica, não há limites para as melhorias e para o progresso que se pode ter no seu treinamento de judô. Assim, o Dr. Kano acreditou que se alguém conseguisse um estágio mais elevado do que o décimo dan, retornaria consequentemente à faixa branca, terminando desse modo o círculo completo do judô, como o ciclo da vida.

No caso desta eventualidade, deve-se salientar que o Kodokan decidiu que a faixa usada por tal pessoa deveria ser aproximadamente duas vezes mais larga que a faixa comum, para impedir que os novatos confundissem o significado. Até agora, o Dr. Kano é a única pessoa com a graduação de décimo segundo dan e com o título de Shihan.

Eventualmente, a habilidade ou o nível do judoca vieram a ser denotados pelas faixas coloridas usadas em torno da cintura com o judogi. No Japão, as faixas brancas são geralmente usadas por todas as graduações de kyu, embora algumas escolas usem também a faixa marrom para indicar os níveis mais elevados do kyu. As faixas azul, amarela, alaranjada, verde, e roxa, usadas pelos níveis intermediários do kyu tiveram origem na Europa e foram importadas para o sistema dos Estados Unidos durante o início dos anos 50.

As faixas pretas são tradicionalmente usadas pelos praticantes competitivamente graduados, primeiro dan (shodan) até o quinto dan (godan). Uma faixa vermelha e branca é usada pelos níveis merecidos pelo serviço prestado ao judo, sexto dan (rokudan) até o oitavo dan (hachidan), e as faixas inteiramente vermelhas são reservadas para o nono dan (kudan) e o décimo dan (judan).

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Jiu Jitsu, natural da Amazônia


A Origem da moderna arte marcial brasileira deve-se à trupe performática do Conde Koma e às atividades circenses dos primeiros Gracie

No primeiro round entre a tradição brasileira e a modernidade oriental, deu capoeira. Em 1909, o japonês Sada Miuako, instrutor de jiu-jitsu trazido pela Marinha, foi fulminado por um rabo de arraia desferido por um capoeirista negro chamado Cyriaco em um combate-exibição no Centro do Rio de Janeiro (reportagem do Jornal O Malho de 15/05/1909). Mas outros rounds viriam, e a nova arte marcial seria assimilada no país, ganhando características próprias. Um século depois, é conhecida no mundo todo como Brazilian Jiu-jitsu.

Os militares da Marinha, ramo mais aristocrático das Forças Armadas, em contato direto com as inovações globais do início do século XX, foram os primeiro entusiastas da prática do jiu-jitsu. A luta representava para eles um método de educação física moderna, instrumento de aperfeiçoamento eugênico da população brasileira, considerada pelos intelectuais da época como racionalmente inferior. Após sua vitória na guerra contra a Rússia em 1905, o Japão tentava quebrar o monopólio dos americanos e europeus como modelos de civilização para o mundo. A elite brasileira começou a admirar o país oriental como exemplo bem-sucedido de superação das tradições rumo à modernidade. Como a capoeira simbolizava um passado incômodo – estava associada à criminalidade e à escravidão – o jiu-jitsu poderia ser o futuro.

Após tentativas esporádicas, quase exclusivamente no âmbito militar, o jiu-jitsu foi introduzido no Brasil através da Amazônia, durante a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918). Chegou com uma trupe de artistas marciais treinados em um no estilo de Jiu-jitsu. Era o judô. Essa maneira diferente de lutar foi desenvolvida pela escola Kodokan, fundada em 1882, em Tóquio, por um jovem educador chamado Jigoro Kano. O criador do Judô fora influenciado pelo novo currículo das universidades japonesas, introduzido durante o processo de modernização local conhecido como Meiji (1868 – 1912). A escola de Kano era baseada em moldes pedagógicos e filosóficos que combinavam as culturas do Oriente e do Ocidente. De forma análoga, seu judô era uma fusão de movimentos de quedas e luta no solo inspiradas nos estilos tradicionais, obedecendo a uma mecânica corpórea. Seu intuito era transformar uma arte marcial de origem medieval em prática esportiva para formar cidadãos modernos.

Os membros da trupe japonesa em excursão pela Amazônia divulgavam sua cultura no Ocidente. Chegaram a Belém no final de 1915. Teatros, bares e circos eram os palcos de sua performances exóticas. O sucesso da trupe nesse final de Belle Époque tropical foi imenso. Aclamados pela imprensa local como “Hércules Nipônicos”, os japoneses desfilavam paramentados em quimonos ao longo das amplas avenidas de Belém, construídas durante o auge da borracha. Ao contrário do ocorrido anos antes no Rio de Janeiro, um dos mestres de judô venceu com facilidade, em Belém, o capoeirista local. Aos olhos da elite cosmopolita foi o triunfo da civilização sobre a barbárie.

O grupo era dirigido por Mitsuyo Mayeda, mais conhecido pelo nome de guerra, Conde Koma, discípulo do criador do Judô, Jigoro Kano, Mayeda deixou o Japão na época da Guerra Russo-Japonesa para divulgar exatamente esse estilo de luta iniciante. Nos Estados Unidos, na Europa e na América Latina, exibiu-se em espetáculos de luta livre. Na Amazônia, a trupe excursionava pelas capitais da região, apresentando-se em circos locais. Um deles com o nome pomposo de “American Circus”, tinha como sócio Gastão Gracie, membro de uma família aristocrática do Rio de Janeiro, de origem escocesa. As atividades da trupe não se limitavam aos espetáculos: incluíam o ensino de artes marciais em espaços improvisados em Belém e Manaus. Foi assim que os japoneses passaram a divulgar este estilo de jiu-jitsu moderno para jovens da burguesia dessas capitais. Carlos Gracie, filho mais velho de Gastão, foi um dos atraídos pela novidade marcial do Oriente. Ele tinha interesse em esportes de combate em virtude das atividades circenses de seu pai, que incluíam a promoção de espetáculos de luta livre.

O que os alunos brasileiros do Conde Koma não podiam imaginar eram as dificuldades pelas quais passava aquela luta em sua terra natal. Desde o início, o criador do judô, Jigoro Kano, adotara rígidos padrões morais para diferenciar sua escola das artes marciais decadentes, para fazê-la respeitável aos olhos da elite Meiji. Lutas profissionais (pagas) e outras atividades de respeitabilidade duvidosa eram desencorajadas. Em 1909, Kano foi nomeado representante do Comitê Olímpico Internacional para a Ásia. O que endureceu ainda mais sua visão puritana da prática do esporte. Refletindo esta crise, os japoneses envolvidos em lutas profissionais adotaram o termo ”jiu-jitsu” apena um termo genérico para se referir a centenas de estilos de combates corpo a corpo existentes no Japão – para se diferenciar do judô. A estratégia era uma forma de proteger a reputação da escola de Jigoro Kano – já que judô era um dos estilos de jiu-jitsu, era possível praticá-lo profissionalmente sem chamá-lo pelo nome.

O programa ensinado por Conde Koma e seus parceiros na Amazônia refletia esse momento de indefinição: eram técnicas de jiu-jitsu vagamente baseadas nos fundamentos pedagógicos e filosóficos da Kodokan, a escola de Kano. A fragilidade do status de Conde Koma se confirma pelo fato de que nunca concedeu uma faixa preta a discípulos brasileiros. O sistema de promoção em faixas – que se tornaria prática comum em todas as artes marciais – era mais uma inovação de Jigoro kano. Sem alunos graduados ou faixas pretas não haverá possibilidade da transferência integral de conhecimento e perpetuação do judô da tradição Kodokan na Amazônia.

Ao largo dessas nuances japonesas, Carlos Gracie foi treinado por um tempo relativamente curto em técnicas de jiu-jitsu que provavelmente invcorporavam a experiência do Conde Koma em lutas profissionais. Isto fazia dele um praticante de “jiu-jitsu“, e não um discípulo no sentido clássico do judô Kodokan. No começo da década de 1920, Gastão Gracie e sua família se mudaram para o Rio de Janeiro em consequência da penúria financeira e da morte do patriarca Peter (Pedro) McNichols Gracie.

Logo após os Gracie deixarem Belém, Conde Koma iniciou um processo de reabilitação junto à Kodokan. Ele se retirou das lutas profissionais e se tornou o representante de interesses japoneses na Amazônia, responsável, inclusive, pelo assentamento de seus compatriotas na região. O resultado concreto desta mudança foi o recomeço de sua promoção na hierarquia da Kodokan, que estava paralisada havia 17 anos. Em 1935, Conde Koma publicou um manual de judô em português homenageando Jigoro Kano e explicando o uso ambíguo de termos como “judô” e “jiu–jitsu”. O título "Jiudo" assinala a transição do jiu-jitsu para o judô

Enquanto isso, Carlos Gracie abria sua primeira escola de jiu-jitsu no Rio de Janeiro, em setembro de 1930. Perpetuava no Brasil, o nome genérico de uma tradição medieval japonesa. A peculiaridade do aprendizado de Carlos deixou-o livre dos dogmas da Kodokan, abrindo caminho para a aculturação do jiu-jitsu e a criação de um estilo local. Igualmente importante para o futuro do Brazilian jiu-jitsu, a modesta escola de Carlos Gracie se encontrava a poucos quarteirões do centro decisório da capital brasileira. Em novembro de 1930, as tropas gaúchas amarraram seus cavalos no obelisco do centro do Rio de Janeiro , enquanto Getúlio Vargas assumia o poder no Palácio do Catete. O discurso nacionalista da Era Vargas deu suporte fundamental ao processo de invenção de um estilo brasileiro do jiu-jitsu japonês. Além disso, o regime legitimou esta transformação ao adotar o jiu-jitsu como um dos sistemas de defesa pessoal das forças de segurança criadas pelo Estado autoritário na década de 1930. O Brazilian Jiu-jitsu nasce junto com o Brasil Moderno.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Estilos de Judô e outras Artes Marciais (Kosen Judô - Sambô - Kudô)


Kosen Judô

O Kosen Judô se refere a uma série de regras de competição do Kodokan Judô com ênfase em técnicas de solo oaseokomi-waza (técnica de imobilização), kansetsu-waza (técnica de juntas) e shime-waza (técnicas de estrangulamento).

A escola Kosen começou suas próprias competições a partir de 1914, sendo basicamente as regras do Dai Nippon Butokukai e da Kodokan antes de serem mudadas. Nas artes marciais japonesas essas técnicas são conhecidas como ne-waza.

O Kosen Judô, acabou por florescer na região de Kyoto em 1940 e continua até hoje no mesmo formato.

Algumas pessoas chamam hoje o Kosen Judô de um estilo de Judô nascido do treino para as competições Kosen. Conhecendo a história, parece ser inadequado chamar o Kosen Judô de um estilo de Judô. O que há é o mesmo Judô sendo treinado com o mesmo conjunto de técnicas existentes, porém dando uma ênfase maior nas técnicas de ne-waza. No Japão, várias escolas até hoje mantém esse foco no Judô, e ainda existem competições que seguem as regras Kosen. Talvez seja possível chamar o Kosen de um estilo de Judô, mas não como um estilo diferente, mas apenas um estilo que dá enfase diferente nas mesmas técnicas existentes.

Muitas pessoas acreditam que o Judô é uma luta que possui apenas golpes de projeção. Essa falsa crença é alimentada pelo conhecimento popular do Judô esportivo, do Judô olímpico e mesmo as vezes disseminado por praticantes que pouco conhecem o Judô.

A verdade é que o Judô possui, além de golpes de projeção, técnicas de defesa pessoal (goshin jutsu), tecnicas de chute e soco (atemi-waza) e um vasto número de técnicas de chão (ne-waza).

As principais técnicas de luta no solo (ne-waza) foram introduzidas no Judô em 1890, quando um mestre da escola Fusen-Ryu desafiou os alunos da Kodokan e venceu praticamente todos os desafios. Jigoro Kano o chamou para compor a Kodokan, tendo assim absorvido as técnicas de solo de uma escola especialista nessa área.

Em 1914, Jigoro Kano realizou um torneio entre universidades e escolas do Japão, tendo como principal entidade organizadora a Universidade de Kyoto. Esse torneio ficou conhecido como Kosen Takai (Competição Interescolar). As regras dessa competição eram bastante simples: existia apenas o Ippon (a vitória) pelo golpe perfeito, imobilização ou submissão, e o empate. Essa regra ficou conhecida como a Regra Kosen.

Em torno de 1925, a fim de modificar os rumos do Judô, pois Jigoro Kano percebeu que estava ocorrendo um certo abandono das técnicas de projeção, a Kodokan modificou as regras competitivas, dando ênfase de 70% para o Tachi-Waza (técnicas em pé) e 30% para o ne-waza (técnicas no solo). Ao discutir as mudanças de regra com a Universidade de Kyoto, não houve acordo. Assim, as competições Kosen continuaram seguindo as regras originais, permanecendo até os dias de hoje, enquanto que as competições de Judô seguiram com as novas regras.

Nos vídeos abaixo , que documentam os treinos de Kosen Judô, é possível ver as técnicas que até hoje são utilizadas em lutas de solo. Assista do documentário abaixo, com Kimura demonstrando o Kosen Judô:

Kosen Judô - Volume 1 - Parte 1
Kosen Judô - Volume 1 - Parte 2
Kosen Judô - Volume - Parte 3




Sambô

O Sambô é uma arte marcial hibrida de origem russa, que já existia muito antes de artes marciais mistas (MMA). Possui quase todos os movimentos que se possa imaginar e técnicas englobando todas as distâncias de combate: punhos, cotovelos, joelhos, pernas, quedas, projeções, raspagens, estrangulamentos, chaves e todos os tipos de submissões.

O Sambô (em sua versão esportiva) é uma das quatro principais formas de Wrestling amador competitivo praticadas hoje, juntamente com a luta Greco-Romana, estilo livre de luta (luta olímpica) e Judô. É governado mundialmente pela FIAS e no Brasil pela CBAS, Confederação Brasileira Amadora de Sambô.

A palavra Sambô é um acrônimo em russo para “САМозащита Без Оружия“, САМБО, ou “SAMozashchita Bez Oruzhiya“, Sambô, que significa defesa pessoal sem armas.

O Sambô nasceu da necessidade de aparelhar com técnicas de combate as forças armadas soviéticas. Equipes de especialistas surgiram para melhorar o sistema de combate, baseados em viagens aos países de origem de artes marciais consideradas eficientes e em conhecimentos prévios de militares que estiveram nesses países. Estas equipes de especialistas pesquisaram artes marciais de diversas partes do mundo como Japão, China, Europa e Mongólia para integrá-los em um único sistema com uma mistura de um total aproximado de 25 diferentes lutas das repúblicas soviéticas e da estepe russa. Alguns dos sistemas de combate regional incluíam Tuvan Khuresh, o mongol Khapsagai e Bökh, Chuvash Akatuy, o Chidaoba georgiano, o Kurash Kokh armênio e Usbeque. O resultado das pesquisas foi uma seleção das melhores técnicas de disciplinas como Judô, Aiki-JuJutsu, Jiu-Jitsu, Boxe Francês (Savate), e diversos tipos de Kung Fu/Wushu como Shuai Jiao (forma de Wrestling criado pelos chineses), que se fundiram com as lutas nativas e também técnicas de esportes olímpicos como o Wrestling, sempre testando essas disciplinas com base nos conhecimentos de anatomia e dinâmica corporal, o que fez surgir golpes e técnicas especificas de Sambô.

Mas o Sambô não surgiu assim tão linearmente, como pode parecer à principio. Duas variantes principais iniciaram o desenvolvimento do Sambô e depois foram unificadas em um único sistema e, portanto, disputam o título de fonte do Sambô.

O Sambô originou-se da junção de técnicas de autodefesa criadas ao mesmo tempo, porém independentemente, por Vasili Oshchepkov (1892-1937) e Viktor Spiridonov (1881-1943), técnicas estas com o mesmo nome (Sambô) porém com estilos diferentes. O estilo proposto por Spiridonov, um notório pesquisador de lutas, possuía raízes na luta Greco-Romana, lutas eslavas, Aiki-jiu-jitsu japonês e diversas lutas chinesas. Spiridonov foi o primeiro a desenvolver técnicas relacionadas ao Sambô.

A influência Oshchepkov eram os Aiki-jiujitsu, Tenjin Shin’yo Ryu e Kito Ryu, além do Judo. O estilo proposto por Oshchepkov é o que mais se assemelha ao Sambô atual.

Anatoly Kharlampiev (1906-1979), aluno de Oshchepkov, aprimorou o estilo proposto pelo mestre, compilando ainda as técnicas de Spiridinov. Foi também o responsável pelo reconhecimento da arte marcial junto ao comitê de esportes da URSS. Por suas contribuições técnicas e políticas, é reconhecido, por vezes, como criador do Sambô contemporâneo.

Entretanto, não há um consenso universal sobre a existência de um criador único do Sambô.





Daido Juku - Kudô

Daido Juku, pode ser traduzido como “Escola do Grande Caminho”, também conhecido como Karate-do Daido Juku, mais tarde como Kakuto Karate Daido Juku, é uma organização de artes marciais, fundada em 1981 por Takashi Azuma.

O Mestre Takashi Azuma nasceu na cidade de Kesen Numa, na Prefeitura de Miyagi, em 1949. Em 1965, com 16 anos, começou a treinar Judô e a partir daí dedicou a sua vida às artes marciais e aos desportos de combate. Aos 22 anos iniciou o seu estudo do Karate, treinando com Matsutatsu Oyama, o criador do estilo Karate Kyokushinkai.

Azuma dedicou-se inteiramente ao estudo do Kyokushin e participou em praticamente todos os grandes torneios e eventos da modalidade com excelentes resultados.
Em 1975 havia já decidido que queria abrir os horizontes e procurar novas experiências tendo-se mudado para os Estados Unidos da América.
Em 1977 venceu 9º Kyokushin National Tournament, a prova rainha da modalidade, que se disputa anualmente no Japão e que é, hoje em dia, uma prova aberta a todos os participantes Internacionais.

Naquele tempo, Azuma foi campeão de full contact, foi faixa preta de Judô 3º Dan e mestre karate Kyokushin (8º Dan de Kyokushin) e se desligou da Organização Kyokushin para formar o Daido Juku, na cidade de Sendai localizada em Honshu do Norte, Japão.

Azuma criou uma arte marcial híbrida, não restrita às fronteiras de um único estilo, que utilizava técnicas de várias artes marciais, especificamente, ao tempo de sua criação em 1980: Karate e Judô.

No final dos anos 80 e início dos anos 90 o estilo começou a incorporar várias técnicas do Boxe, Jiu Jitsu, Sambô e outras artes marciais, afinando cada técnica para o uso no Daido Juku.

Tendo em mente a elaboração de um estilo de luta versátil e realista que não comprometesse a segurança dos seus praticantes, um dos objetivos fundamentais do Daido Juku, Azuma criou um estilo que incorporou várias técnicas, tanto defensivas quanto ofensivas, que incluem socos na cabeça, cotoveladas, cabeçadas, projeções de Judô, chaves de Jiu-Jitsu e outras técnicas de lutas no chão e em pé. Diferentemente do karatê tradicional ou clássico, o kudô é uma arte marcial praticada com um capacete de acrílico que protege o rosto, luvas, kudô-Gi e coquilha para os homens. O capacete tem o intuito de evitar danos faciais, pois o que conta no kudô é a evolução do pensamento junto com seu adversário.

Em 1981, o Daido Juku fez sua estreia pública no "1981 Hokutoki Karate Championships", também conhecido como "Hokutoki".

Originalmente conhecido como Karate-do Daido Juku e depois Kakuto Karate Daido Juku, o nome do estilo foi, inevitavelmente, modificado para reconhecer suas técnicas únicas e heterodoxas como uma arte marcial misturada. Em 2001, na conferência oficial realizada pela Daido Juku, o fundador Azuma Takashi e o presidente da Daido Juku, renomearam a arte marcial misturada Budo para Kudô. Esta renomeação permitiu ao Kudô a oportunidade de se tornar um esporte oficial da Japanese Cultural Budo, a mesma categoria do Judô, Aikidô e Kendô.

Incansável pesquisador de artes marciais, Azuma vai à Tailândia periodicamente, para incorporar em seu sistema técnicas e conceitos de muay thai, desenvolvendo assim uma arte marcial que abrange todos os campos do combate corpo a corpo: luta em pé, quedas e luta de chão.

O Kudô tem por princípio treinar com a maxima intensidade e disciplina para tornar o lutador um combatente possante com uma forte capacidade física e rigoroso nos seus objetivos de superação. Treinar todo o tipo de técnicas e estilos, sem preconceitos, por forma a permitir ao praticante proteger-se, atacar e contra-atacar qualquer adversário, independentemente do estilo ou técnica com que somos confrontados.

Kudô significa a forma de viver de acordo com os três conceitos:

Ku - é o resumo de três conceitos:
1. Mujou Kan - Tudo quanto é fisico é susceptível de mudar de forma, por isso, as coisas físicas são vazias de significado, não têm valor;
2. Sougo Izonn - O mundo físico é interdependente. As coisas relacionam-se e só existem porque existem outras que as sustentam ou suportam, por isso, não devemos basear a nossa vida nas nossas certezas absolutas e nas nossas convicções;
3. Huenn Hutou - Devemos manter a mente aberta, devemos ser imparciais e liberais, mantendo-nos sempre afastados dos preconceitos.
Do - significa caminho, via, uma forma de viver pela qual nos conduzimos.

Kudô e Daido Juku são marcas registradas e todos os seus instrutores e chefes de filiais são certificados pela Kudô International Federation, também conhecida como K.I.F.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Judô: Ciclo novo, regras novas



judô tem mudanças importantes para 2017

A Federação Internacional de Judô publicou, em seu site oficial, novas regras que regulamentarão as competições de judô para o próximo ciclo olímpico, passando por um período de testes a partir do Aberto Continental da África, em janeiro, até o Campeonato Mundial de Budapeste, em setembro de 2017. Entre as principais propostas de mudanças estão o fim do yuko e a redução do tempo de luta dos homens de cinco para quatro minutos, assim como é na competição feminina. De acordo com o comunicado oficial da entidade, o objetivo dessas adaptações à regra é promover uma disputa mais clara e dinâmica.

"Toda mudança, a princípio, gera uma rejeição, que é natural. Ainda mais quando não há uma discussão mais ampla, envolvendo mais países, técnicos e atletas", ponderou Ney Wilson, gestor de Alto Rendimento da Confederação Brasileira de Judô (CBJ). "Eu entendo que a Federação Internacional tem uma preocupação grande com a imagem, com a divulgação do judô na mídia e, por isso, vem tentando adaptar o esporte à televisão. Diminuir o tempo de luta, por exemplo, é uma medida que visa ao dinamismo exigido pelas transmissões de TV. Ainda é cedo para fazer uma avaliação mais profunda de todas as mudanças, pois precisamos ver essas novas regras como ficarão na prática. O nosso primeiro grande teste será no Grand Slam de Paris, em fevereiro, e teremos um treinamento de campo em janeiro para trabalhar isso com a seleção".

Ainda segundo a FIJ, as novas regras foram elaboradas a partir de propostas de Federações Nacionais e dos 20 diretores do Comitê de Coordenação da FIJ. Em janeiro, elas serão apresentadas no Seminário Internacional de Técnicos e Arbitragem, que acontecerá, em Baku, no Azerbaijão. Durante o período de testes, a nova regulamentação poderá ser corrigida se necessário.

"A forma de preparar o atleta para uma luta de cinco minutos é diferente da forma de preparar o mesmo atleta para um combate de quatro minutos. Eu colocaria, no mínimo, seis meses de adaptação para os atletas, técnicos e os árbitros também", completou Ney.

Veja abaixo os principais pontos das adaptações à regra:

. Duração do combate

- Duração de 4 minutos de luta para homens e mulheres, respeitando a igualdade de gêneros como desejava o Comitê Olímpico Internacional e tempo de luta unificado para a disputa por equipes mistas nos Jogos Olímpicos.
- Apenas pontuações (waza-ari e ippon) decidirão a luta.

. Golden Score

- No caso em que não haja pontuação, ou que haja empate em pontuação, a luta continuará no Golden Score
- Toda pontuação e/ou penalidade do tempo regulamentar permanecerá no placar
- A decisão no Golden Score será pela diferença de pontuação ou shido.

. Avaliação dos pontos

- Fim do yuko. O que era yuko valerá agora como waza-ari. Só haverá pontuação por waza-ari e ippon
- Os waza-aris acumulam, mas não se somam mais. Dois waza-aris não serão equivalentes a ippon
- Imobilização (Osae Komi): 10 segundos para waza-ari e 20 segundos para ippon

. Penalidades

- Máximo de três shidos, no lugar de quatro
- O terceiro shido torna-se Hansoku Make (desclassificação)
- Ações de kumikata (pegada no judogi) não serão mais penalizadas: pegada cruzada, pegada "pistola/torniquete", pegada com dedos por dentro da manga, pegada do mesmo lado.
- Kumikata não será penalizado enquanto o Tori estiver preparando um ataque, mas posições negativas serão penalizadas
- O tempo para fazer uma pegada e um ataque será de 45 segundos
- Em caso de atitude defensiva, será dado um shido
- Catada na perna será penalizada primeiro com um shido e, se acontecer uma segunda vez, será hansokumake.

. Segurança

- Se o Uke tentar evitar uma queda com qualquer movimento que coloque em risco sua cabeça, pescoço ou coluna ele deve ser penalizado com Hansoku Make

. Pontos do Ranking Mundial

- Os pontos serão modificados. Propostas serão feitas em breve.
- Medalhistas de Campeonato Mundial Junior levarão os pontos dessa competição para o Ranking Mundial