quinta-feira, 30 de abril de 2015

Jigoro Kano - o Fundador do Judô


Nascido em 28 de outubro 1860, em Mikage, prefeitura de Hyogo, perto da Cidade de Kobe no Japão, terceiro filho de Jirosaku Mareshiba Kano, alto funcionário da marinha imperial, intendente naval do porto de Hyogo.

Seus pais queriam que seguisse a carreira de diplomata ou político, mas Jigoro Kano preferiu o magistério, foi para Tóquio em 1870 após a morte da mãe, no ano da proibição do porte de espada para os samurais.

Com 14 anos (de acordo com a tradição japonesa seria aos 15) entrou para a Escola de Línguas Estrangeiras que fazia parte do Kasei Gakko para estudar o idioma inglês, então indispensável para o progresso em qualquer sentido e que, possibilitou mais tarde tornar-se professor e tradutor dessa língua e ainda montar sua própria escola em Tóquio, a Kobukan (escola de inglês).

Aos 16 anos decidiu fortificar o corpo, praticando ginástica, remo e basebol. Tornou-se um dos primeiros japoneses a praticar basebol, introduzido um ano antes por dois professores americanos, mas estes esportes eram demasiados violentos para sua débil constituição. Embora de personalidade marcante, possuía físico franzino, medindo 1,50 metros de estatura e pesando uns escassos 48 kg, o que dificultava o seu ingresso na maioria dos esportes. Na convivência entre estudantes era frequentemente alvo de chacota, situação que o perturbava bastante. No entanto, a sua morfologia não lhe permitia impor-se pela força, razão pela qual decidiu fortalecer o corpo através do ju-jutsu, que era conhecido por permitir que um indivíduo pouco robusto conseguisse vencer um adversário mais forte. Quem lhe ensinou os primeiros passos foi o professor Teinosuke Yagi.

Porém, em Tóquio era difícil encontrar uma escola onde pudesse aprender ju-jutsu, porque a Kobusho, escola das artes marciais tinha desaparecido com a restauração Meiji.

Em 1877, após meses de pesquisa paciente, finalmente encontrou um antigo mestre da Kobusho, Hachinosuke Fukuda, proprietário da “Escola do Coração de Salgueiro”, do estilo Tenshin-Shinyo-Ryu, que já não tinha alunos, onde começa a praticar.

Ainda em 1877 Ingressa na Universidade Imperial de Tóquio.

Em 1878 Kano funda o primeiro clube de basebol do Japão, o Kasei Baseball Club.

Em 1879, Jigoro Kano torna-se vice-presidente da escola e Fukuda morre com a idade de 82 anos. Kano herda seus arquivos e toma conta da escola, continuando o seu treinamento com o mestre Masamoto Isso, um sexagenário que possuía os segredos duma escola igualmente derivada do estilo Teshin Shinyo Ryu. Infelizmente Masatomo Isso morreu logo e Kano novamente encontrou-se sem professor.

Contudo Kano continuou a treinar intensamente, mas um bom professor lhe era indispensável.

Em 1881 licenciou-se em letras e ainda nesse ano, procurou o mestre Tsunetoshi Likugo, um especialista em projeções que lhe ensinou a técnica da escola Kito Ryu, mas que dava pouca importância aos katas, com exceção do Koshiki No Kata. Como Kano até então só praticara sempre as lutas corpo a corpo, sempre usando roupas normais, a escola de Kito ensinou-lhe o combate com armadura. Pouco a pouco, Kano fez a síntese das diversas escolas criando um sistema próprio de disciplina, continuando, no entanto a treinar com o mestre Likugo até 1885.

Obstinado na sua vontade e postura, treinou com afinco e aperfeiçoou-se de forma exemplar, tornando-se um excelente combatente, ágil e eficaz, adquiriu grande confiança nele próprio. Apaixonado pelo ju-jutsu questionou os melhores especialistas, estudou antigas obras e devorou todos os manuscritos deixados pelos seus antigos mestres.

Pouco a pouco este ju-jutsuca fez a síntese das diversas escolas. Este estudo completo, teórico e prático, convenceu-o da sua originalidade, da sua habilidade e da sua eficácia excepcional, mas também lhe evidenciou a necessidade de codificar e racionalizar os métodos de ensino discordantes e muitas vezes perigosos para a integridade física. Kano, educador por vocação e convicção, com base no ju-jutsu, elaborou um sistema de educação física e formação do carácter através da disciplina com vista a fazer frente ao relaxamento dos costumes face ao desaparecimento quase completo da tradição cavalheiresca, provocada pela abertura da sociedade japonesa ao ocidente. Assim, fez a síntese das melhores técnicas de ju-jutsu, escolhendo os golpes mais eficazes e racionais e eliminando as práticas perigosas e incompatíveis com o fim elevado que visava, possibilitando uma prática segura e racional. Jigoro Kano aperfeiçoou a forma de cair, desenvolveu as técnicas de amortecimento de quedas (ukemis) e criou uma vestimenta especial de treino (judogui), pois o antigo traje dos ju-jutsucas denominado hakamá era pesado, desconfortável e por vezes causava feridas. Dedicou-se particularmente aos métodos de projeção, aperfeiçoando vários da sua autoria.

A nova arte do mestre tinha duas formas distintas, uma abrangia as técnicas de queda, imobilizações, chaves e estrangulamentos. Essa forma evoluiu para o esporte e a outra parte consistia nas técnicas de golpear com as mãos e os pés, em combinações com agarramentos e chaves para imobilização, inclusive ataques em pontos vitais (atemi-waza). Essa forma evoluiu para a defesa pessoal (goshin-jutsu).

O ano de 1882, em que completou 22 anos de idade, foi marcante para Jigoro Kano. Terminou os seus estudos de ciências estéticas e morais e fundou a escola preparatória Kano Juku com o objetivo principal de desenvolver o caráter dos que nela vivem. Cria também uma escola para o ensino do inglês.

Em Fevereiro de 1882 fundou o Kodokan ((Instituto do Caminho da Fraternidade ou Instituto do Grande Princípio), Tendo se estabelecido, em Maio desse ano, num espaço alugado no segundo andar de um templo budista Eishoji de Kita Inaritcho, bairro de Shimoya em Tóquio, onde havia doze jos (jo medida de superfície, módulo de tatame). O primeiro aluno inscreveu-se em 05 de junho de 1882, chamava-se Tomita Tsunejiro. Depois vieram Higushi, Arima, Nakajima, Matsuoka, Amano Kai e o famoso Shiro Saigo (Sugata Sashiro). As idades oscilavam entre 15 e 18 anos. Kano albergou e ocupou-se deles como se fosse um pai. Foi um período difícil, mas apaixonante, o jovem professor não tinha dinheiro e o shiai-jo media 20m², mas a escola progrediu e em breve tornou-se célebre.

Vivendo nas dependências do templo com uma velha criada e com 9 alunos, dedicou-se pacientemente a elaborar um novo método de Educação Física. Ainda em Agosto, Kano tornou-se professor de política e economia na Gakushuuin, então escola privada para os Nobres. Durante o primeiro ano foram apenas 9 os alunos, estudantes amigos de Jigoro Kano, que seguiram o seu curso que era criticado e escarnecido pelos praticantes de ju-jutsu.

Em 1883 o Kodokan passou para o armazém dum editor, com uma área de 40 m2.

Em 1884 Kano foi adido ao Palácio Imperial. Neste ano apresentou a primeira forma do nage-no-kata, com 10 movimentos, embora o modificasse várias vezes mais tarde. Após 2 anos da fundação do Kodokan, Kano tinha 16 alunos, a sua fama aumentava continuamente e o dojo aumentava para 80 m2. Por essa altura multiplicavam-se os encontros entre escolas de ju-jutsu, que muitas vezes serviam de verdadeiros concursos em que os vencedores se tornavam professores da polícia.

No ano seguinte, 1885, obteve a 7ª categoria imperial.

Em 1886 obteve a 6ª categoria imperial e foi nomeado vice-reitor do Colégio dos Nobres. Nessa época, já tinha mais de 100 alunos. Este ano foi decisivo para Kano e para o judo, uma vez que se realizou um encontro histórico organizado pelo chefe da polícia de Tóquio em razão da escolha anual dos instrutores da Academia de Polícia Japonesa. Uma disputa entre várias escolas de lutas do Japão principalmente entre os principais rivais do Kodokan, os ju-jutsucas da escola Totsuka e os melhores alunos de Kano. Com a esmagadora vitória dos pupilos de Kano, nomeadamente através de Saigo e Yoko-Yama. O evento serviu para comprovar a eficiência e o valor da arte marcial criada por Jigoro Kano, consagrou definitivamente a superioridade do novo judo sobre o antigo ju-jutsu e serviu para ampliar rapidamente a fama do judô pelo país e fazer com que a modalidade fosse aceita pelos japoneses.

Somente um formidável ju-jutsuca chamado Tanabé conseguia vencer regularmente os alunos de Kano. Especialista no combate de solo atirava os seus adversários ao solo onde, aproveitando-se das suas posições, os conseguia estrangular.

Kano rapidamente tirou uma lição: precisava aperfeiçoar a luta no solo e todos os judocas deveriam conhecer a luta tanto em pé como no solo. Foi entre 1886 e 1889, no dojo de Fujimi-Cho, em Tóquio, que a supremacia do judo Kodokan se iria estabelecer, sobretudo depois do grande torneio entre judocas e combatentes selecionados pela escola Yoshin-ryu-ju-jutsu, que foram completamente derrotados. Foi nesta altura também que se realizaram verdadeiras fusões de velhas técnicas sob o impulso de Kano que modificou certas técnicas, à luz das suas primeiras experiências e com a ajuda dos seus primeiros alunos. O Judo iria deixar de ser um esporte de moda exclusiva do Kodokan, cujos principais rivais foram o Butokukai de Kyoto e o Kosen, que eram especialistas no combate no solo e aí obtinham supremacia.

Em 1888 foi nomeado reitor do Colégio dos Nobres.

Em 1889, após a sua primeira viagem pela Europa, como adido ao ministério da Casa Imperial casou-se, vindo a ter oito filhos.

Em Abril de 1891 foi nomeado conselheiro do Ministro da Educação Nacional. Ainda nesse ano foi nomeado “Principal” do colégio Kumamoto.

Em Setembro de 1893 foi nomeado diretor da Escola Normal Superior e, depois, secretário do Ministro da Educação Nacional.

O Kodokan continuou a crescer de ano para ano e foram criados novos centros de ensino.

Em 1894 foi fundado o Conselho do Kodokan que funciona como órgão consultivo.

Em 1895 obtém a 5ª categoria imperial, criou a sociedade Zoshi-kai, fundou os institutos Zenyo Seiki e Zenichi para a cultura dos jovens e editou a revista Kokusiai. Ainda em 1895 fundou uma instituição político/militar o Butokokai, destinada a promover o Budo e elevar o moral do povo Japonês.

Com a ajuda de Yoko-Yama, Yamashita, Nagaoka e Iitsuka, organizou uma pedagogia do judo, o Gokio, classificando as técnicas de projeção em cinco grupos, de forma a facilitar o processo de aprendizagem.

Em pouco tempo o judo passou a fazer parte dos esportes escolares obrigatórios.

Em 1898 foi diretor da Educação Primária, no ministério da Educação Nacional.

Ainda em 1898, em uma de suas conferências, Jigoro Kano, assim se pronunciou: "Eu estudei ju-jutsu não somente porque o achei interessante, mas também, porque compreendi que seria o meio mais eficaz para a educação do físico e do espírito. Porém, era necessário aprimorar o velho ju-jutsu, para torná-lo acessível a todos, modificar seus objetivos que não eram voltados para a educação física ou para a moral, nem muito menos para a cultura intelectual. Por outro lado, como as escolas de ju-jutsu apesar de suas qualidades tinham muitos defeitos - concluí que era necessário reformular o ju-jutsu mesmo como arte de combate. Quando comecei a ensinar o ju-jutsu estava caindo em descrédito. Alguns mestres desta arte ganhavam a vida organizando espetáculos entre seus alunos, por meio de lutas, cobrando daqueles que quisessem assistir. Outros se prestavam a ser artistas da luta junto com profissionais de sumô. Tais práticas degradantes prostituíam uma arte marcial e isso me era repugnante. Eis a razão de ter evitado o termo ju-jutsu e adotado o do judô. E para distinguí-lo da academia Tenshin Ryu, que também empregava o termo judô, denominei a minha escola de Judô Kodokan, apesar de soar um pouco longo."

Em 1899, tornou-se presidente da comissão do Centro de Estudos das Artes Militares, Butokukai.

. No início do século, Kano, o pai do judo e da Educação Física ecléctica, tornou-se o Director da Escola de Formação de Professores, criou um departamento de educação física e começou a utilizar vários esportes como conteúdos da disciplina. Devido a estas atividades que divulgaram o esporte e a educação física, tanto dentro como fora da escola, Kano tornou-se progressivamente conceituado e adquiriu prestigio aos olhos da sociedade.

Em 1900 foi criada a Associação dos Faixas pretas Yudan-Shakai.

Em 1902 e 1905 Kano foi enviado à China pelo Ministro Nacional.

Em Outubro de 1905, obteve a 4ª categoria imperial.

Em 1907 fundou no Butokukai os três primeiros kata do judo.

Em Maio de 1909 modificou os estatutos do Kodokan, transformando-o numa sociedade pública (Fundação). Foi nesta época que os kata, estabelecidos pelo Butokukai, passaram a ser ensinados no Kodokan e formaram os primeiros fundamentos do judo: o nage-no-kata, o kime-no-kata e o katame-no-kata que vieram juntar-se ao ju-no-kata e ao itsusu-no-kata, elaborados em 1887. Em Julho de 1909, após uma semana de negociações entre 17 membros do Butokukai e 4 do Kodokan, o Butokokai aceitou os Kata do Kodokan. Ainda em 1909, o Japão recebeu um convite para participar no Comitê Olímpico Internacional pelo Barão Pierre de Coubertin, o pai dos Jogos Olímpicos da era moderna. Jigoro Kano foi escolhido como o representante do Japão, tornando-se o primeiro japonês a pertencer àquele organismo.

Em 1911 o Kodokan mudou para outras instalações com 370 m2 e foi criado um departamento de ensino. Nesse ano, Kano, fundou a Federação Japonesa de Atletismo, sendo o seu primeiro presidente. Com a evolução do panorama desportivo, em muito devido à obstinação de Kano, foi decidida e aprovada a participação do Japão nos seus primeiros Jogos, os 5º Jogos Olímpicos, realizado em Estocolmo, na Suécia, no ano seguinte, 1912. A partir deste momento originou-se um crescimento e desenvolvimento de toda a variedade de esportes, decorrente da divulgação promovida. Kano continuou o seu trabalho como membro do COI e, devido às suas funções, viajou muitas vezes através do mundo participando em encontros em prol da realização dos Jogos Olímpicos.

Em 1912 e 1913 foi enviado em missão cultural à Europa e à América. Durante os Jogos Olímpicos de Estocolmo. Em 1912, explicou o seu método a Pierre de Coubertain.

Fundou em 1915 a revista do Kodokan. Recebe no mesmo ano, do rei da Suécia, a medalha dos 7º Jogos Olímpicos.

Em 1919 o Kodokan foi reconhecido oficialmente como instituição de âmbito desportivo, enquanto Jigoro Kano desenvolvia o aspecto cultural e científico do judo, criando comitês de estudo especializados, dedicando-se particularmente à formação de professores para dotar o judo com quadros de valor.

Em 1920, Kano consagra-se inteiramente ao judo. Em Julho assiste aos Jogos Olímpicos de Antuérpia, visitando depois a Europa. Visita o Budokwai de Londres, aberto por Koizumi em 1918, ficando a supervisionar a evolução do clube. Foi nesse ano,1920, que o Gokyo foi completamente revisto por uma dúzia dos melhores mestres, permanecendo inalterado até aos dias de hoje.

Em 1921 demitiu-se da presidência da Federação Desportiva do Japão.

Em 1922 passou a ter lugar na Câmara Alta do Japão. É organizou o colégio dos faixas pretas do Kodokan.

Em 1924 foi nomeado professor honorário da Escola Normal Superior de Tóquio.

Em 1928 participou da assembleia-geral dos Jogos Olímpicos e nos próprios Jogos.

Em 1932, deslocou-se aos Estados Unidos para assistir aos Jogos Olímpicos. Tornou-se conselheiro do Gabinete de Educação Física do Japão. Participou duas vezes do Conselho dos Jogos Olímpicos que lançou os convites para os jogos japoneses, em 1932 e 1934.

Entretanto, o Kodokan continuou a crescer regularmente e, em 1934, instalou-se num local propositalmente construído, com um dojô de 2000 m2. Neste mesmo ano, Kano organizou o primeiro campeonato de judo do Japão que alcançou um grande êxito e consagrou o judo como um moderno esporte de combate.

Em 1936 assistiu aos Jogos Olímpicos de Berlim. Após uma estada de Kano em Paris, em Setembro desse sno, Feldenkrais e outros cientistas estabeleceram o Jiu-Jitsu Club da France, tendo Kano aceitado uma posição honorária no clube.

Kano que aplicou todas as suas energias na internacionalização dos desportos no Japão, em 1938, foi o momento de colher os frutos do seu trabalho, altura em que foi decidido formalmente realizar em Tóquio, os 12º Jogos Olímpicos.

No entanto, Jigoro Kano, a 4 de Maio de 1938, com 78 anos, morreu vítima de pneumonia a bordo do navio S. S. Hikawa Maru. Regressava para casa vindo do Cairo, onde havia presidido a Assembleia-geral do Comitê Internacional dos Jogos Olímpicos que tinha aceito a sua proposta de realização dos 12º Jogos Olímpicos em Tóquio, em 1940. Não houve para ele tempo de assistir a Universidade do Judô, mas tinha certeza da sua perpetuação. "Quando eu morrer, o Judô Kodokan não morrerá comigo, porque muitas coisas virão a ser desenvolvidas se os princípios de minha arte continuarem sendo estudados". Recebeu o titulo póstumo de 2º Grau Imperial. Na data da morte de Jigoro Kano, em 1938, havia cerca de 120.000 judocas recenseados no Japão, dos quais cerca de 85.000 a 90.000 eram faixas pretas,

Jigoro Kano nos legou vários manuscritos, nos quais em geral assinava com pseudônimos, dentre estes, um muito usado por ele era "Ki Itsu Sai" que quer dizer, tudo é unidade. Kano também era poliglota, pois falava quatro línguas além do japonês: francês, alemão, inglês e espanhol.

domingo, 19 de abril de 2015

A história do Judô


O significado em japonês, “ju” é suave e “dô” é caminho: CAMINHO SUAVE.

O JUDÔ teve sua origem quando o Professor Jigoro Kano procurou sistematizar as técnicas de uma arte marcial japonesa, conhecida como “Jujitsu” e fundamentar sua prática em princípios filosóficos bem definidos, a fim de torná-la um meio eficaz para o aprimoramento do físico, do intelecto e do caráter , num processo de aperfeiçoamento do ser humano.

Nesse contexto, invariavelmente surge a questão: Porque chamar de judô ao invés de Jujitsu como já era conhecida a arte marcial?

Para poder entender a razão e a dimensão pretendida por essa mudança, deve-se buscar e interpretação no processo histórico que envolve o cultivo do “Budo ” nas antigas formas de artes marciais do Japão. Segundo T.Watariabe (1967): “Budo é uma palavra característica do povo japonês e sua origem se encontra nas formas de autoproteção que permitiram a sobrevivência dos indivíduos e a perpetuação da espécie humana através do tempo”.

Essas formas de autoproteção, que constituíram as artes marciais, nasceram da qualidade de vida que o povo japonês impôs a si próprio, diante da necessidade que tinham de se defender. Daí, então, surgiram os indivíduos com grande habilidade e treinamento nas artes marciais, formando uma casta de guerreiros conhecidos como “samurais”, a serviço dos senhores feudais.

Durante o período medieval japonês, do século XIV ao XVIII, aproximadamente, as artes marciais tiveram grande; importância por seu uso militarista, apresentando evidente progresso técnico, destacando-se os grandes talentos em todas as formas de luta pela preservação da vida, utilizando-se de armas como sabres, lanças e outros instrumentos, bem com métodos de combates com as mãos nuas. Ao mesmo tempo em que aprimorava o físico para adquirir destreza na arte marcial, o “samurai” desenvolvia formas de dominar seus próprios impulsos e controlar sua vontade, em alto grau, para poder enfrentar as adversidades corajosamente “até a morte”. Essa filosofia de vida era a alma das artes marciais e entendiam, os samurais, que ela só poderia ser atingida através de árduo treinamento para desenvolver o espírito de luta – “Budo” – através da busca da serenidade, da simplicidade e do fortalecimento do caráter, qualidades próprias da doutrina ZEN. Um código de honra, ética e moral, o “Bushido”, conhecido como via do guerreiro, foi elaborado com forte influência do Budismo, alicerçando-se na preservação do caráter máximo, tal como honra, determinação, integridade, espírito de fé, imparcialidade, lealdade e obediência; preconizando uma forma de viver pela conduta de cavalheirismo, respeito, bondade, desprezo pela dor e sofrimento.

Como uma das formas de arte marcial surgiu o Jujitsu, luta corporal sem uso de armas, não tendo porém, registro preciso de sua origem. Algumas citações encontradas no “Nihon Shoki”, que é uma crônica antiga do Japão, fazem referência ao início do Sumô que teria alguma relação com o Jujitsu naqueles tempos. Houve, então, evolução desses dois tipos de lutas corporais, em que o Sumô estabeleceu-se à base do uso da força e do peso, sendo orientado no sentido do espetáculo e o Jujitsu na base da habilidade, da astúcia e da ética, foi consagrado como combate real.

A prática do Jujitsu levou à criação de inúmeras escolas, cujas características eram a especialização dos professores em determinadas técnicas, adotando estilos próprios e secretos, cujos princípios de ensinamento se apoiavam no conhecimento axioma empregado pelos “samurais”. “Na suavidade está a força”( Ju = suavidade; Jitsu = arte ou prática). Dentre essas escolas, duas delas foram especialmente estudadas pelo Professor Jigoro Kano, “Kito-Ruy”e “Tenshinshinyo-Ryu”.

A abertura dos portos japoneses em 1865, provocou intensas transformações do ponto de vista político-social, marcando a era “Meiji”, quando foi abolido o sistema feudal, com rejeição da cultura e das instituições antiquadas, introduzindo-se os conhecimentos dos países ocidentais, ocorrendo acentuado declínio das artes marciais, em completo desuso no país. O Jujitsu não foi exceção, pois as escolas ficaram privadas das subvenções dos clãs e, ainda a modernização das forças armadas levaram essa arte marcial a ser considerada parte do passado e em total decadência.

Jigoro Kano, um jovem de físico franzino, graduado em filosofia pela Universidade Imperial de Tóquio, tendo conhecimento do Jujitsu, observou que suas técnicas poderiam ter valor educativo na preparação dos jovens, no sentido de oferecer ao indivíduo oportunidade de aprimoramento do seu autodomínio para superar a própria limitação. Assim, passou a ter como meta transformar, aquela tradicional arte marcial num esporte que pudesse trazer benefícios para o homem, ao invés de utilizá-la como arma de defesa pessoal simplesmente.

Aprofundou seus estudos, pesquisando e analisando as técnicas conhecidas; o Professor Kano organizou-as de forma a constituir um sistema adequado aos métodos educacionais, como uma disciplina de educação Física, evitando as ações que pudessem ser lesivas ou prejudiciais à sua prática por qualquer leigo. Com esse intuito, em 1882 fundou sua própria escola e, para distinguir, de maneira evidente, das formas que identificavam o antigo Jujitsu, denominou de JUDÔ KODOKAN, destinada à formação e preparação integral do homem através das atividades físicas de luta corporal e do aperfeiçoamento moral, sustentada pelos princípios filosóficos e exaltação do caráter, que era a essência do espírito marcial dos samurais, o “Budo”.

Jigoro kano transformou a arte marcial do antigo Jujitsu no “caminho da suavidade” em que através do treinamento dos métodos de ataque e defesa pode–se adquirir qualidades mais favoráveis à vida do homem, sob três aspectos: condicionamento físico, espírito de luta e atitude moral autêntica.

A primeira qualidade, condições física, é obtida pela prática do esporte que exige esforço físico extenuante, de forma ordenada e metódica para proporcionar um corpo forte e saudável. Pois todas as funções corporais tornam-se melhor adaptada pela atividade que promove aumento de força muscular geral, da resistência, da coordenação, da agilidade e do equilíbrio. Devido ao treinamento rigoroso, também, o indivíduo tende a tomar mais cuidado com a sua saúde, prevenindo doenças e condicionando a reagir reflexivamente para evitar acidentes.

A segunda qualidade, espírito de luta, significa que pela prática das técnicas do Judô e pela incorporação dos princípios filosóficos durante os treinamentos, o indivíduo se torna mentalmente, condicionado a proteger seu próprio corpo em circunstâncias difíceis, defendendo-se quando ameaçado perigosamente. Com o treinamento, adquire autoconfiança e autocontrole, não para fugir do perigo, mas para adotar medidas e iniciativas em qualquer situação. Em outras palavras, o Judô é uma arte para a autoproteção total.

Por último, a atitude moral autêntica é concebida através do rigor do treinamento, que induz a humildade social, a perseverança, a tolerância, a cooperação, a generosidade, o respeito, a coragem, a compostura e a cortesia. As experiências obtidas durante o treinamento, por tentativa e erro e pela aplicação das regras de luta, impõem mudanças de atitudes, elevando o poder mental da imaginação, redobrando a atenção e a observação e firmando a determinação. Quanto falhas do conhecimento social e de moralidade constituem-se em problemas, um método de ensinar a cortesia entre as pessoas e melhorar a atitude social torna-se importante e, por isso, o Judô, desempenha papel relevante nesse contexto, como instrumento de formar e lapidar os verdadeiros caracteres morais do ser humano.
(Fonte: www.fpj.com.br)

sábado, 18 de abril de 2015

Judô e Fundamentos


O Judô

O Judô foi fundado em 1882 no Japão pelo professor Jigoro Kano, que conhecia a pedagogia moderna e os ideais físicos.
O Judô tem sua origem no Jiu-Jitsu, antiga técnica japonesa de combate praticada por Kano, o professor Kano devotou a sua vida a educação e a popularização do Judô, que hoje faz parte dos Jogos Olímpicos (o único esporte Olímpico que tem origem Asiática).
O significado de Judô é JU=Suave e DO=Caminho.

Fundamentos

PREPARAÇÃO / AQUECIMENTO (TAISÔ)

Deve-se tomar cuidado para não entrar “frio” em um treino ou competição, pois as chances de sofrer um estiramento, uma torção ou mesmo um súbito é grande.
É indispensável uma preparação na qual vá gradativamente se aquecendo e preparando o corpo para uma carga de esforço maior e mais prolongada.

ROLAMENTOS E QUEDAS (UKEMI)

Quando estava na preparação para o lançamento de seu estilo de luta, Jigoro Kano deu uma especial atenção à integridade física do atleta, já que os outros estilos de luta mostravam-se negligentes nessa área e incentivavam golpes perigosos.
Na impossibilidade de eliminar as quedas, consequência natural dos golpes de arremesso, o mestre aperfeiçoou técnicas que praticamente anulam as possibilidades de acidente.
A prática do UKEMI proporciona um excelente senso de equilíbrio e proteção, mesmo uma queda fora do tatame terá seus efeitos sensivelmente diminuídos ou até anulados. Quando fazemos o ukemi, devemos oferecer a maior área possível para o impacto (as costas) e fazer o batimento de mãos e braços para emitir uma contra onda de choque, a fim de atenuar a batida das costas contra o tatame. Quanto às quedas com rolamento, o ideal é tornar o corpo uma bola e aproveitar o impulso para rolar, diminuindo ou eliminando o impacto.
Mesmo depois de ter recebido a ambicionada faixa preta, um grau avançado de prática e conhecimento, o praticante deve continuar a ter o Ukemi como preocupação constante.

PEGADAS (KUMI-KATA)

O Kumi-kata pode ser aplicado pela direita ou esquerda (migi ou Hidari), dependendo do braço que se distende e segura a gola do quimono (judogi) do adversário. O outro braço deve ficar por fora e segurar a parte externa da manga (sodê).
Pela pegada um adversário pode dominar neutralizar ou abortar um ataque em formação ou já iniciado, em toda a sua extensão.
Para uma boa pegada é necessário ter uma boa base e força nos braços, nos pulsos, nas mãos e nos dedos. A base é o posicionamento dos pés, pernas e tronco, quando em posição de defesa tornam-se um bloco firme, coeso e resistente.

DESEQUILÍBRIO - POSICIONAMENTO - ARREMESSO (KUZUSHI-TSUKURI-KAKE)

O Kusushi casa-se perfeita e harmoniosamente com a máxima de Jigoro Kano: um mínimo de força para o máximo de eficiência.
Alguns estudiosos da obra do grande mestre acreditam ter sido a sua maior contribuição o fato de ter analisado, dividido e dado nome às fases de projeção, ou seja, Kusushi, Tsukuri e Kake. Isso teria possibilitado o aprimoramento das técnicas já existentes e a criação de outras que viriam enriquecer a arte.
Na aplicação de um golpe há duas possibilidades, uma é escolher a técnica e depois preparar o adversário para recebê-la, e a outra é aproveitar um eventual desequilíbrio para aplicar a técnica mais conveniente e oportuna. Em ambos os casos, a quebra de equilíbrio do adversário ou a preparação, recebe o nome de Kuzushi e pode ser direcionada pra qualquer um dos pontos cardeais ou colaterais, proporcionando oito direções possíveis.
Continuando seu esforço, o judoca se coloca em posição para o arremesso. Essa posição ideal para o lançamento do adversário, é chamada de tsukuri.
O próprio momento do arremesso, a execução final do golpe é o kake.

TREINAMENTO (GUEIKO)

- TENDOKU-RENSHIU – Sombra ou treinamento solitário, com ou sem espelho ou aparelhos em que se procura lapidar os golpes e melhorar a rapidez.
- UCHI-KOMI- Possível aos pares e também em trio. Visa o aprimoramento das técnicas, da rapidez e da força localizada. Dá-se vulgarmente o nome de “entrada”, porque faz o Kuzushi e o tsukuri, para e volta ao início, sem completar o arremesso.
- YAKO-SOKU-GEIKO – Treino aos pares, livre e bem leve, sem defesa com o movimento “solto”. Explora toda e qualquer chance de golpe. Visa principalmente condicionar os sentidos para o aproveitamento das oportunidades que se oferecem durante o combate.
- KAKARI-GEIKO- É o ataque consecutivo de esquerda e direita, com defesa leve do companheiro que apenas utiliza o Tai-sabaki. Este treinamento também é excelente para o condicionamento físico.
- RENRAKU-RENKA-WAZA- Este treinamento permite o estudo e aperfeiçoamento das técnicas que se concatenam e se completam, se combinam.
- KAESHI-WAZA – É o treinamento dos contragolpes.
- RANDORI – É o treinamento livre e completo, onde o atleta emprega todo o seu conhecimento e capacidade. É onde se testa a própria eficiência para conhecer os pontos negativos e possibilidades. Pode-se dizer que é a prova final antes do Shiai. - SHIAI- É o combate, a meta final para a qual o atleta se prepara por longos períodos. É onde em poucos minutos ou mesmo segundos todo o esforço pode ser coroado com êxito, ou momentaneamente posto por terra. No caso da derrota, o judoca deve raciocinar procurar a falha e corrigi-la, para na próxima tentativa obter a vitória almejada.

PEGADAS NAS POSIÇÕES DE DEFESA (FUSEGUI)

Dicas para as pegadas:
1 - Fique em posição de defesa semelhante à do oponente. Por exemplo: se ele estiver na posição direita, fique também na direita e vice-versa. Também é importante manter a posição oposta à do adversário.
2 - Os braços devem ficar tensos e o corpo deve estar flexível e descontraído. Os principiantes sentirão dificuldades, mas com o tempo irão se acostumando a controlar os braços.
3 - Ao mesmo tempo em que o judoca aplica as várias técnicas que conhece, ele deve mudar de posição no confronto com o oponente. O objetivo é desenvolver a variedade e versatilidade das técnicas.
4 - Ao iniciar o confronto, segure o casaco do adversário mantendo sempre o dedo mínimo e o anelar juntos. Outra recomendação: ao agarrar o casaco comece pelo dedo mínimo e anelar. Na hora de puxar, acrescente o indicador e relaxe o polegar. É recomendável deixar o polegar descansar ligeiramente no casaco do oponente para que a movimentação dos pés não seja perturbada pela tensão sobre esse dedo.
5 - Um procedimento errado que muitos judocas costumam colocar em prática é fazer a puxada segurando no colarinho do oponente. O certo é segurar pelas mangas.
6 Os veteranos sabem que o importante é antecipar e ler os movimentos do oponente, as ações e variações empregadas através da pele, da carne, do osso e do clima do momento. Esta habilidade, no entanto, só será notada com muito treinamento.

MOVIMENTOS DE ESQUIVA (TAI-SABAKI)

A perfeição e a habilidade com que o judoca aplica o golpe dependem muito dos movimentos de avanço e recuo (SHINTAI) do corpo. Se eles estiverem corretos, a posição ideal será alcançada sem esforço. O controle dos movimentos de esquiva envolvem cinco partes:
1 - Cabeça (ATAMA) - Manter a Postura da cabeça de modo que ela se apoie sobre o corpo todo e não apenas sobre o ombro.
2 - Respiração (IKI) - Ordenando a respiração, o raciocínio flui corretamente e os golpes terão a eficácia desejada. Se a respiração não estiver em ordem, é recomendável manter-se afastado do adversário, respirando profundamente e tranquilizando o espírito. Voltando ao estado normal, contraia o abdômen e concentre sua força.
3 - Tronco (DOO) - O lutador pode torcer o tronco, dobrá-lo para frente ou incliná-lo para traz a fim de escapar dos ataques do adversário. Esses movimentos podem ser usados também para o ataque.
4 - Mãos (TÊ) - Se o oponente agarra seu pulso, você pode se libertar aplicando-lhe um simples movimento de mão.
5 - Pés (ASHI) - Realizado conjuntamente com os movimentos do resto do corpo. Os pés se movimentam para frente, viram no ar, golpeiam, etc. Sempre que estiver lutando, o judoca deve utilizar os movimentos corporais conjuntamente. Só com perfeito domínio de todos os elementos os golpes atingirão a perfeição. Se algum golpe não funcionar, é porque alguma parte do corpo não está respondendo ao controle da mente.

A FORÇA

A força é necessária ao judô, mas não é o mais importante. Ela deve ser usada com método e discriminação. Se o judoca for privilegiado e tiver um corpo musculoso, deverá usar essa massa seguindo os preceitos de harmonia contidos na filosofia de Jigoro Kano. Só assim poderá transformar-se num campeão. A força bruta sozinha nunca servirá como canal, para que, de um judoca surja um grande mestre.
A força do espírito deve estar acima do uso da força física. Esta máxima do judô significa que você deve sempre conservar o espírito calmo, mas nunca demasiadamente relaxado, a ponto de perder a noção do que está ocorrendo à sua volta no TATAME. Significa também que dar preferência à força bruta tira a liberdade do corpo e restringe o progresso das pessoas nas técnicas.

OS SEGREDOS DA FORÇA

1 - Se o adversário empurrar puxe-o, se puxar empurre-o.
Suponhamos que o oponente tenha uma força igual a seis e você uma força igual a quatro. Se um estiver se esforçando para puxar o outro, em direções opostas, é lógico que o quatro perderá para o seis, mas se o mais fraco puxar em vez de tentar compensar a força do adversário estará somando quatro com seis e poderá derrubá-lo facilmente.
Tenha cuidado: Não tente puxar o oponente depois que ele o empurrou, pois será tarde demais. Do mesmo modo, não tente empurrá-lo quando ele ainda não o puxou, ou você ficará completamente vulnerável.

2 - Mantenha sempre o equilíbrio.
Como aplicar a força contra seu oponente com três variantes:
a) Empurrar, depois relaxar e em seguida puxá-lo.
b) Puxar, depois relaxar e então empurrar. O empurrão deve acontecer sem precipitação, no momento que ele revidar a puxada.
c) Arremessar o oponente é o modo mais eficaz de derrubar o adversário quando a proximidade é tanta que não se pode puxar ou empurrar.
Todo o corpo deve ser usado para revirar o oponente e desequilibrá-lo, levantando-o do chão. Nesta ação usa-se a força dos dois braços e o impulso das pernas, joelhos e quadris. Você não deve colocar-se numa posição que o oponente não possa derrubá-lo, mas manter-se nesta posição desde o começo.

3 - Desequilibre o oponente com mínimo esforço.
Para concentrar a força em determinada parte do corpo, é necessário primeiro relaxar com a consciência alerta, sem afrouxar.
A regra vital do desequilíbrio (KUZUSHI), ou seja, a ação que deixa o oponente numa postura fácil de derrubá-lo ou arremessá-lo: a chave é desequilibrar ou quebrar a postura do oponente. Daí pode-se derrubá-lo com o mínimo esforço.
Você pode deixá-lo numa posição instável deslocando o peso do corpo para fora da base de sustentação. Se ele tentar manter o equilíbrio enrijecendo o corpo, ficará em condições desvantajosas e não poderá recuar nem avançar.

WAZA é baseado nos princípios fundamentais do Judô, “O máximo de eficiência no uso da mente e do corpo”.

As teorias do KUZUSHI, TSUKURI e do KAKE são expressões dos princípios do ponto de vista do Waza. O Tsukuri é construído a partir do Kuzushi, que significa destruir a postura de equilíbrio do seu oponente, e “estando você equilibrado” torna seu ataque mais eficiente. O Tsukuri consiste na preparação do golpe para a sua aplicação, o Kake.
O Kuzushi, Tsukuri e o Kake são os princípios técnicos do Judô, você pode aprender o princípio que pode ser aplicado a todas as fases da vida humana.

O ATAQUE (TORI)

Preparar-se para o ataque significa preparar o próprio corpo e o do oponente para o golpe que virá.
Os principais pontos incluídos nas ações corporais preparatórias são:
1 - Não permitir que o oponente perceba claramente as ações que você está realizando.
2 - Desequilibrar o adversário com pequenos movimentos, forçando-o a fazer grandes movimentos. Esse é o princípio da força centrífuga: você se coloca no centro da ação e, com o mínimo de esforços, obriga o adversário se mexer à sua volta.

AS MELHORES OPORTUNIDADES

É preciso escolher a oportunidade certa para cada tipo de ação preparatória.
Aqui estão as melhores chances para o ataque ao adversário:
1 - Ele está para vir à frente.
2 - Ele está para recuar.
3 - Ele vai desviar-se para direita ou para esquerda.
4 - Ele vai aplicar-lhe um golpe.
5 - O corpo dele está tenso e ele está tentando preparar uma ação.
6 - Ele se movimenta de modo apressado e impaciente.
7 - Ele aplicou um golpe.
8 - Ele tentou aplicar um golpe que falhou.
9 - Ele tentou aplicar um golpe e está agora procurando recobrar a posição.
10 - No exato momento no que ele recobrou a posição inicial.
Lembre-se de um ponto importante: depois de realizar os movimentos preparatórios e ter levantado o oponente no ar, execute um movimento de arremesso, assim o golpe surtirá o efeito desejado.

O ATAQUE É A MELHOR DEFESA

O importante é você não ficar na defensiva. Se o oponente não pode atacar é porque está ocupado em se defender, isto significa que você está levando vantagem atacando. O ataque é uma defesa e a defesa deve ser um ataque.

Disciplina e hierarquia no judô


Para a formação do judoca (aluno) ou de qualquer praticante de arte marcial é necessária uma rígida disciplina e o absoluto respeito à hierarquia. Esses são os pontos fundamentais do JUDÔ e a eles fazem referencias expressas os regulamentos. Não devemos esquecer que o JUDÔ além de ser praticado em conjunto é um esporte de luta e somente poderá ser um bom lutador quem for disciplinado.

O judoca deve sempre:
Manter silêncio;
Sentar-se corretamente: Agura (sentado com as pernas cruzadas) ou Zarei (sentado sobre os joelhos);
Cumprimentar ao entrar e sair do DOJO;
Pedir autorização do professor para sair do DOJO;
Respeitar o professor e os colegas;
Ajoelhar em ordem quando da chegada do professor;
Estar atento às instruções do professor;
Conservar o DOJO sempre limpo e em ordem.
Obs.: Pontualidade é um hábito que deve ser seguido rigorosamente nas aulas, assim como nos eventos ou competições.

O DOJO ou DOJÔ (pronuncia-se Dô-Jô) é o local onde se treinam artes marciais japonesas. Muito mais do que uma simples área, o DOJO deve ser respeitado como se fosse a casa dos praticantes.
Por isso, é comum ver o praticante fazendo uma reverência antes de adentrar, tal como se faz nos lares japoneses. Antigamente no Japão, havia uma tradição que consistia em desafiar uma academia (no caso o dojo). Caso a academia perdesse, o visitante poderia levar a placa na qual estava escrito o nome do DOJO como recompensa. O DOJO é uma área onde os praticantes confrontam-se para treinar ou para exibir as suas técnicas que formam uma área retangular de medidas satisfatórias para a prática do JUDÔ, este por sua vez é composto pela junção de várias peças chamadas TATAMES. Essas peças anteriormente feitas de palha de arroz, esteira e coberta de lona são agora mais modernas e fabricadas de placas de material sintético que possibilitam uma melhor prática do JUDÔ.

O TATAME antigo possuia como medida o comprimento de 1,80m por 0,90m de largura e de 5 a 10cm de espessura, os atuais sintéticos vão de 1 x 1m até 2,20 x 1,10 m e de 10 a 40 mm de espessura e são bem mais leves. Há ainda DOJOS feitos de peça única, isto é, um só TATAME na medida do DOJO,

O judoca deverá, tanto na entrada quanto na saída do DOJO prestar reverência, pois este é um local considerado sagrado de acordo com as tradições, deverá também, prestar reverência ao SHIHAN, SENSEI ou ao portador de mais alto grau de faixa que estiver presente. Este fará sua saudação de pé ou ajoelhado de acordo com as disposições deste.

A reverência ou saudação é a forma de mostrar o respeito entre os praticantes do JUDÔ, seus professores e mestres, cada esporte tem sua forma de saudação, ou seja reverenciar seu mestre, professor e local onde são praticados. Existem duas formas de saudações:
RITSU-REI – Saudação de pé – nesta forma de saudação o Judoca deverá ficar de pé na posição inicialmente de sentido (SKEI), depois cumprimentar abaixando a cabeça e inclinando o tronco para a frente.
ZA-REI – saudação de joelhos - nesta forma de saudação o Judoca deverá ficar de joelhos, depois cumprimentar inclinando suavemente a cabeça e o tronco para a frente.

O comando do início ou término da aula será evidentemente daquele que maior grau possua, porém no caso de dois alunos de mesma graduação, ela caberá ao mais antigo, a não ser que haja determinação especial por parte do SENSEI.

O judoca deve entrar no DOJO devidamente composto, isto é, com seu JUDOGI (uniforme de JUDÔ) limpo, seco e sem odor desagradável, apresentando o sadio aspecto de um verdadeiro desportista. A higiene pessoal é uma das qualidades que o judoca deve possuir em elevado nível, assim sendo, quando um judoca se apresenta para uma aula ou competição deve estar de banho tomado, com as unhas dos pés e das mãos aparadas e/ou cortadas curtas, bem como com os cabelos cortados e/ou presos (amarrados com elásticos) de modo a evitar incomodar seu colega. Deve tomar o cuidado para não portar celular dentro do JUDOGI, bem como evitar o uso de aparelhos odontológicos, pulseiras, anéis, brincos, colares, relógios, etc., a fim de resguardar a sua integridade física e a dos seus colegas.

O JUDOGI - uniforme do JUDÔ - Consiste numa vestimenta ampla, branca, quase branca ou azul, de algodão ou outro material semelhante, em boas condições (sem remendos nem rasgões), composta de três peças: Wagui, Shitabaki e Obi.
WAGUI ou BAGUI – é a parte superior do JUDOGI que deverá ter comprimento suficiente para cobrir os quadris e deverá ser amarrado à cintura pela faixa. As mangas deverão suficientemente compridas para cobrir os antebraços, admitindo-se de 1 a 5 cm a partir do pulso e ter folga de 10 a 15 cm nos braços.
SHITABAKI ou ZUBON – é a parte inferior do JUDOGI que deverá ser folgada e ter comprimento suficiente para cobrir a perna, admitindo-se de 1 a 5 cm entre o tornozelo e a bainha.

OBI – é a faixa que representa seu nível de aprendizado, deverá ser amarrado com duas voltas em torno da cintura com um nó duplo e suficientemente apertado na altura da cintura para que o wagui não venha a se soltar, deixando duas pontas livres de 20 a 30 cm a partir do nó.