sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Cumprimentos no Judo




A prática do judô é regida por cortesia, respeito e amabilidade. A saudação é o expoente máximo dessas virtudes sociais. Através dela expressamos um respeito profundo aos nossos companheiros.

Por que temos que nos curvar em cumprimento? Esta é uma pergunta muito comum entre os novos judocas. O cumprimento não tem nenhum significado religioso. É simplesmente uma forma de demonstrar respeito e humildade. O cumprimento em japonês é “rei” e o padrão Kodokan de etiqueta para o Judô é que “O Judô começa com um cumprimento e termina com um cumprimento” (“re hajimari ni, rei ni owaru“). O rei personifica o segundo princípio de Kano Shihan – Jita Kyoei, ou seja, o respeito e benefício mútuo, o respeito que cada judoca mostra ao outro. É respeito pelo seu parceiro de treinamento e respeito por qualquer adversário, não importa qual o nível de habilidade. Ele demonstra apreço e humildade de um judoca para outro judoca que está lhe permitindo ter alguém para praticar.

É um sinal de respeito que faz parte da etiqueta do Judô permitindo a todos nós praticar e melhorar nossas habilidades de forma segura e de ensinar e transmitir conhecimento de uma forma respeitosa. A adesão de cada dojo para esta etiqueta formal do cumprimento varia muito, na costa leste [dos EUA]. Alguns fazem o cumprimento em pé, alguns se cumprimentam ajoelhado, enquanto outros não se curvam em nada. Alguns dojos exigem que se cumprimente quando se entra e sai do dojo e outros não. Na Costa Oeste [dos EUA], onde há uma forte herança japonesa, a maioria dos dojos adere às regras rígidas de etiqueta do judô e cumprimentam da maneira formal, incluindo o cumprimento, ao entrar e sair da área de treino.

A adesão ao cumprimento formal define o tom de respeito do dojo. Quando a tradição do cumprimento é relaxada, então a atitude e disciplina do dojo segue o exemplo. É recomendável que o cumprimento na etiqueta apropriada seja parte da experiência de judô em cada treino.

Como o cumprimento deve ser realizado? Começamos com a “posição de atenção” a posição chamada “Kiotsuke“, com a cabeça erguida e voltada para a frente, com as palmas das mãos voltadas para dentro, nas laterais do corpo. Além disso, há o “sentar-se em atenção”, que é a posição chamada “Seiza“.

O cumprimento tem duas posturas diferentes. O primeiro é o cumprimento de pé, chamado de “ritsu-rei” em japonês. O cumprimento em pé é iniciado a partir da posição em pé de Kiotsuke deslizando as mãos para cima do joelho ou ao lado do corpo e a cabeça inclinada para a frente em cerca de 20-30 graus. Ritsu-rei é comumente usado quando se pratica com um parceiro o tachiwaza.

O segundo cumprimento, a maneira mais educada e formal de se curvar sobre o tatame, é referido como “O cumprimento ajoelhado” ou Za-rei, que começa a partir da posição seiza kiyotsuke, a postura formal, ajoelhado. Aqui começamos ajoelhados na posição de atenção, seguimos em frente com as palmas das mãos sobre as coxas, viradas para dentro. Za-rei é feito através de, lentamente, abaixar a cabeça para frente e colocando as mãos sobre o chão, voltadas para dentro, com as palmas para baixo na frente dos joelhos. O Za-rei é comumente usado quando se pratica com um parceiro o newaza.

No início da aula, todos os alunos se alinham de frente para o sensei. A classe, em seguida, assume a posição de seiza, a posição de atenção ajoelhada. O estudante mais graduado pode então anunciar “kiyotsuke” e depois “sensei ni rei“. No final da aula todos os alunos se alinham com o aluno mais graduado anunciando “Kiyotsuke” seguido de “Mokuso“. Então o sensei bate palmas ou dá o comando de Yame e o aluno mais graduado anuncia “sensei ni rei“. Em alguns clubes, o comando “jyozan-ni-mukate” é o seguinte. Mais uma vez, todos cumprimentam no comando “rei” e, posteriormente, os alunos voltarão a se direcionar para o sensei e concluir a aula, curvando-se. Este cumprimento final é simplesmente uma forma de agradecer. Dependendo da tradição do clube, diferentes etiquetas de cumprimento são usadas.

Em competições, o cumprimento de pé é necessário no início da luta e no final. Este é formalizado nas regras da FIJ de competição.




Mas o que significa cada um dos termos ditos durante o início e final das aulas? A ordem e os termos apresentados abaixo não são necessariamente realizados igualmente por todos os dojos do mundo. De acordo com a região, cultura local, formação dos senseis, existem variações na forma como se iniciam e finalizam os treinos. Portanto, se seu dojo não executa como descrito abaixo, não tem problema, é só uma variação cultural.

Em geral os treinos em grande parte dos dojos de judô espalhados pelo mundo usam esta forma, normalmente, no início do treino, o sensei solicita a todos que alinhem, por ordem de faixa. Em seguida, o sensei ou o mais graduado no momento inicia o procedimento de saudação, conforme abaixo:

Kiotsuke ! – Significa “atenção!”. Quando o sensei diz “kiotsuke“, todos devem parar, estar em formação e esperar pela próxima fala do sensei.

Shomen ni ! – Significa “virem-se de frente para a parte principal do dojo!”, o que significa olhar para o lugar de honra (“joseki“). A parte principal do dojo (shomen) é onde se encontra a bandeira do japão ou é onde a imagem do fundador do Judo, Jigoro Kano, é exibida, ou ainda, alguma outra homenagem aos principais mestres e fundadores do judô. A mesma ordem é dada em dojos de outras artes japonesas como o Karatê, então é na área principal do dojo (shomen) em que se encontra a homenagem aos fundadores da arte.

Rei ! – Significa “cumprimentem!”. Alguns dojos realizam as saudações ajoelhados (za-rei). Outros realizam as saudações em pé (ritsu-rei).

Sensei ni ! – Significa “virem-se para o Sensei!”. Neste momento, todos viram-se de frente para o sensei principal que se encontra no dojo.

Rei ! – Novamente, uma ordem para que todos cumprimentem o sensei. Neste momento, por ser o início do treino, os alunos cumprimentam e juntos falam: “onegai shimasu”

Onegai Shimasu – É um termo às vezes difícil de traduzir literalmente para o português. Uma tradução próxima seria algo como “Por favor, permita que eu treine e aprenda com você”. É um termo que é carregado de valores como respeito, humildade e honra. Quando isso é dito no dojo pelos alunos, em direção ao sensei principal, significa que o aluno está se colocando na condição de aprendiz, que está aberto para ver, ouvir e prestar atenção em cada detalhe do que é ensinado pois ele reconhece a autoridade e experiência de quem está ensinando, e ele sabe que precisa caminhar muito para chegar neste nível.

Às vezes é possível também dizer “onegai shimasu” antes de fazer um randori ou um treino com um colega. Nesse caso, significa “estou disposto a aprender com você com muito respeito, honra e dignidade”. Alguns dizem que o termo “Oss” é uma abreviação de “onegai shimasu“, mas pela forma com que o termo “oss” é utilizado, principalmente no Brasil, isso não parece proceder.

Após o cumprimento ao sensei, a aula inicia-se de acordo com a dinâmica de cada dojo (aquecimento, alongamento, etc).

Novamente, ao final do treino, o sensei solicita que todos voltem à formação inicial, e o sensei ou o mais graduado inicia o procedimento para finalizar a aula:

Kiotsuke ! – “atenção!”.

Mokuso ! – É o comando que significa algo como “meditem!”. Mokuso” é o comando para fechar os olhos e começar uma forma de respiração e de meditação que visa a reduzir a freqüência cardíaca e limpar a mente. Muitos atletas relaxam e recordam as lições do dia e outros apenas relaxam da prática. Alguns dojos realizam o mokuso no início do treino também.

Yame ! - É o comando de voz para encerrar o Mokuso.

Kiotsuke ! – “atenção!” (novamente, para finalizar o mokuso).

Shomen ni ! – “Virem-se de frente para a área principal do dojo!”

Rei ! – “Cumprimentem!” – Novamente, pode ser za-rei ou ritsu-rei.

Sensei ni ! – “Virem-se de frente para o Sensei principal presente no dojo”

Rei ! – “Cumprimentem!”

E nesta hora, quando cumprimentam o sensei, os alunos cumprimentam e respondem “Arigatou Gozaimashita”.

Arigatou Gozaimashita – O termo “arigatou” significa um “obrigado” informal. Mais formalmente, ele pode vir acompanhado de “gozaimasu” ou “gozaimashita”. O que muda é apenas o tempo verbal. “Gozaimasu” é presente e “gozaimashita” é passado. Portanto, “arigatou gozaimashita” significa algo como “muito obrigado pelo que foi feito”. Dentro do contexto do dojo, esse termo é, assim como “onegai shimasu”, um termo carregado de valores. Significa algo como “Sensei, muito obrigado pela oportunidade que me deu de ter treinado e aprendido com você. Sou muito grato por isso.”

Terminado o cumprimento, em geral as pessoas cumprimentam umas as outras, e depois, começa o “Soji no jikan“, ou seja, a hora da limpeza. O momento em que todos os que usaram o dojo para treinar ajudam a varrer e limpar o dojo, para que ele esteja sempre limpo e higienizado.

Em geral, esta é a sequência de início e término de aula em dojos de artes marciais japonesas como Judô, Karatê, Aikido, Jiu-Jitsu, etc. Com algumas variações culturais, mas o procedimento geral se mantém, independente do lugar do mundo em que você se encontre.

Vocês sabem por que quando temos mais de um sensei no dojo, a saudação é feita com as palavras “Sensei Kata ni“?

Quando se diz “Shomen ni”, basicamente está se dizendo: “ao shomen” (parte frontal do dojo). Mas está implicito no comando que é para todos virarem-se em direção à parte frontal do dojo, para em seguida, vir o comando “rei”, para o cumprimento.

Então, também temos os seguintes comandos que podem ser utilizados durante o treino:

Sensei ni (ao professor) ou Senpai ni (ao mais velho). E, quando precisamos nos referir no plural, entra a palavra kata:

Sensei kata ni (aos professores) ou Senpai kata ni (aos mais velhos), ou seja, neste contexto é basicamente o plural.

Mas não se pode sair aplicando “kata” a todas as palavras para se tornar plural. Kata também possui diversos significados, como direção, um lado, um, etc. Exemplo: Kata-ha jime: estrangulamento com uma asa.

Não confundir “kata” com “kata”. Esse outro “kata” significa ombro: kata-guruma, giro sobre os ombros. Kata gatame, imobilização de um ombro.

Ah, e claro, para confundir mais um pouco:

Não confundir “kata” e “kata” com “kata”.

Este último significa “forma”: nage no kata – formas de projeção.

Parece confuso (e é) mas a lingua portuguesa também é cheia de armadilhas assim.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Judô: Técnicas de Sacrificio (Sutemi-Waza)


Baseado no artigo Técnicas de Sacrifício publicado por www.judoctj.com.br/

No Judô, existem várias técnicas de sacrifício que são as técnicas em que aquele que aplica o golpe (tori) precisa sacrificar sua posição de vantagem caindo junto com o oponente (uke). As Tecnicas de sacrifício (Sutemi-Waza) se dividem em dois grupos: As de sacrifício para a frente (Mae-sutemi-Waza) e as de sacrifício para o lado (Yoko-sutemi-waza).

O grupo das técnicas de sacrifício para a frente, conhecidas como Mae-Sutemi-Waza é composto pelas cinco seguintes técnicas:

Tomoe-Nage – Significa “arremesso circular”. O tori, ao sacrificar a sua posição, arremessa o uke na sua direção frontal.

Sumi-Gaeshi – Significa “reversão pelo canto”. Diferentemente do Tomoe Nage, o tori não coloca o pé no abdomem do uke, mas sim, o peito do pé na parte interna da coxa do uke, levantando-o e projetando-o em sua direção frontal.

Ura Nage - Significa “arremesso para trás”. Essa provavelmente foi uma técnica importada do Wrestling pelo Sensei Jigoro Kano, assim como o Kata-Guruma. Exige bastante força, e é muito utilizada até hoje também pelos Wrestlers.

Hikikomi-Gaeshi – Significa “puxada invertida”. Muito semelhante ao Sumi Gaeshi. Alguns dizem que a diferença é que as duas mãos do tori encontram-se no mesmo braço do uke, ou que para ser Hikikomi Gaeshi, é preciso segurar na faixa do uke. Alguns chamam esse golpe de obi-tori-gaeshi, por segurar na faixa. A Kodokan reconhece o obi-tori-gaeshi como Hikikomi Gaeshi.

Tawara-Gaeshi – Significa “reversão do saco de arroz”. Pelo nome da técnica, podemos imaginar uma pessoa carregando um caminhão com sacos de arroz. A forma como ele pega o saco de arroz e joga para dentro do caminhão é praticamente o mesmo movimento do tawara gaeshi. Excelente técnica para ser usada como contra ataque, quando o oponente ataca com um morote-gari.



O grupo das técnicas de sacrifício para o lado, conhecidas como Yoko-sutemi-waza era originalmente formado por quinze técnicas mas com a proibição das técnicas: Kani Basami e Kawazu Gake tanto para aplicação em Randori como em Shiai, acabou sendo composto pelas seguintes técnicas:

Uki-waza – Significa algo como “técnica flutuante” ou “técnica de flutuar”. Ao realizar um movimento semelhante ao yoko-ukemi na frente do oponente, ele “flutua”, é projetado pela força e peso do nosso próprio corpo ao cairmos no chão. O detalhe importante que caracteriza o uki-waza é que o oponente é projetado na direção frontal do seu próprio corpo.

Yoko-otoshi – Significa “queda de lado”. É uma técnica basicamente igual ao uki-waza. É o movimento do nosso corpo ao realizarmos o a queda lateral que projeta o oponente. A única diferença em relação ao uki-waza é a direção em que o oponente é projetado: enquanto que no uki-waza o oponente é projetado para a sua própria frente, no yoko-otoshi ele é projetado na direção lateral.

Tani-otoshi - Significa “queda no vale”. Exatamente a mesma mecânica do uki-waza e yoko-otoshi. O que o diferencia é a direção da projeção do oponente. Nessa técnica, o oponente cai para trás. A direção em que cai o oponente é a única diferença entre essas três técnicas.

Yoko-wakare – Significa “separação lateral”. Nessa projeção, utilizamos o peso do nosso corpo na frente do oponente para projetá-lo para o outro lado do nosso corpo. Como se o nosso corpo realizasse uma separação lateral: jogamos o oponente de um lado para o outro.

Yoko-gake - Significa “gancho lateral”. Uma técnica muito rara na prática, visto apenas em katas. Uma espécie de de-ashi-barai onde os dois caem juntos, lateralmente, sendo que a força da projeção está justamente no sacrifício realizado por quem aplica o golpe.

Daki-wakare – Técnica que significa “levantar e separar”. É uma técnica muito semelhante a técnica do wrestling. Como Jigoro Kano estudou muito o wrestling, inserindo movimentos dessa luta no Judô, é possível que essa técnica tenha sido aperfeiçoada tendo como inspiração essa luta, apesar de ser um golpe bastante intuitivo e natural.


Continuando...
Yoko Guruma – Significa algo como “giro de lado”. A sua aplicação lembra as técnicas de amortecimento laterais, como o Yoko Ukemi. Esta técnica é muito eficiente em lutas de jiu-jitsu, sendo que no jiu-jitsu, é importante que o tori não perca a posição, partindo para a montada (tate-shiho-gatame) logo após a projeção.

Soto-Makikomi – Significa algo como “enrosque por fora” O termo makikomi pode ser traduzido como enrosque, giro, volta, rodeio. A idéia é que o tori efetua a projeção utilizando um movimento circular em seu próprio eixo enrolando o uke em seu corpo, projetando-o.

O-Soto-Makikomi - É uma variação de Soto Makikomi quando a técnica é realizada com a perna do tori por fora do lado do uke.

Uchi-Makikomi – Enquanto “Soto” significa “por fora”, o termo “uchi” significa “por dentro”. É a mesma técnica, tendo como diferença mais significativa a posição do braço que auxilia o giro, que neste caso, estará por debaixo do braço do uke.

Hane-Makikomi – É uma técnica de makikomi que parte da posição e da movimentação técnica do Hane Goshi, ou seja, assim como no Hane Goshi, o uke é jogado para cima principalmente pela força do quadril, sendo que no hane makikomi, a partir daí, o tori passa o braço e realiza o giro de sacrifício.

Harai-Makikomi – É uma técnica de makikomi que parte da posição e da movimentação técnica do HaraiGoshi, ou seja, assim como no Harai Goshi, o uke é levantado e varrido pela perna do tori, mas a partir daí, o tori passa o braço e realiza o giro de sacrifício.

Uchimata-Makikomi – Assim como as duas técnicas acima, ele parte da posição e movimentação técnica do Uchimata.

Observação: O yoko-tomoe-nage é apenas uma variação do tomoe-nage. Ao invés de projetar o uke frontalmente, projeta-se lateralmente.



Algumas dessas técnicas são bem interessantes e podem ser utilizadas inclusive sem o judogi, como o yoko-wakare. Agora é só partir pra o treino e repetir muito, pois sem repetição, não há perfeição.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Judô: Fases de Aplicação de uma Técnica (golpe) e As Formas de Treinamento


As fases de aplicação de uma técnica são: Kuzushi (desequilíbrio), Tsukuri (preparação) e Kake (arremesso).


As teorias do Kusushi, Tsukuri e do Kake são expressões dos princípios do ponto de vista do Waza. O Tsukuri é construído a partir do Kuzushi, que significa destruir a postura de equilíbrio do seu oponente, e estando você equilibrado torna seu ataque mais eficiente. O Tsukuri consiste na preparação do golpe para a sua aplicação, e o Kake é o golpe em si.

O Kuzushi, Tsukuri e o Kake são os princípios técnicos do Judô, você pode aprender o princípio que pode ser aplicado a todas as fases da vida humana.

Na aplicação de uma técnica (golpe), há duas possibilidades: uma é preparar o adversário para receber a técnica escolhida puxando-o ou empurrando-o, conforme a direção em que se pretende projetar. A outra é aproveitar um desequilibro eventual ou aproveitando a própria força do oponente para aplicar a técnica mais oportuna.

Seja qual for o caso para essa quebra de equilíbrio do adversário, a essa preparação dá-se o nome de “kuzushi” que casa perfeita e harmoniosamente com a máxima que nos deixou Jigoro Kano – um mínimo de força para o máximo de eficiência – o “kuzushi” pode ser direcionado para qualquer um dos pontos cardeais ou colaterais, portanto pode ser realizado em oito direções possíveis:
- Mae kuzushi (à frente);
- Ushiro kuzushi (atrás);
- Migui-yoko-kuzushi (à direita, ao lado);
- Hidari- yoko-kuzushi (à esquerda, ao lado);
- Migui-uchiro (direita para trás);
- Hidari-uchiro (esquerda para trás);
- Migui-mae (frente à direita);
- Hidari-mae (frente à esquerda).


Este início (kuzushi) é muito importante, pois há uma técnica bem definida que virá a seguir, esta é a diferença entre uma bela projeção e uma projeção infeliz.
Continuando seu esforço, o judoca se coloca em posição para o arremesso, essa posição ideal para o lançamento do adversário se chama Tsukuri.
E o próprio momento do golpe, a execução final, damos o nome de Kake.
Uma vez dominado o Kuzushi, passa-se ao Tsukuri, que é o início do Kake. Após o atleta dominar uma técnica, automatizando-a, estas três fases não são notadas distintamente, tornando-se um todo, devido à rapidez na execução do movimento.

Preparar-se para o ataque significa preparar o próprio corpo e o do oponente para o golpe que virá.

Os principais pontos incluídos nas ações corporais preparatórias são:

1 - Não permitir que o oponente perceba claramente as ações que você está realizando.

2 - Desequilibrar o adversário com pequenos movimentos, forçando-o a fazer grandes movimentos. Esse é o princípio da força centrífuga: você se coloca no centro da ação e, com o mínimo de esforços, obriga o adversário se mexer à sua volta.
É preciso escolher a oportunidade certa para cada tipo de ação preparatória e aqui estão as melhores chances para o ataque ao adversário:
a - Ele está para vir à frente
b - Ele está para recuar
c - Ele vai desviar-se para direita ou para esquerda
d - Ele vai aplicar-lhe um golpe
e - O corpo dele está tenso e ele está tentando preparar uma ação
f - Ele se movimenta de modo apressado e impaciente
g - Ele aplicou um golpe
h - Ele tentou aplicar um golpe que falhou
i - Ele tentou aplicar um golpe e está agora procurando recobrar a posição.
j - No exato momento no que ele recobrou a posição inicial.

Lembre-se de um ponto importante: depois de realizar os movimentos preparatórios e ter levantado o oponente no ar, execute um movimento de arremesso, assim o golpe surtirá o efeito desejado.

O importante é você não ficar na defensiva. Se o oponente não pode atacar é porque está ocupado em se defender, isto significa que você está levando vantagem atacando. O ataque é uma defesa e a defesa deve ser um ataque:

1 - Se o adversário empurrar, puxe-o. Se puxar, empurre-o.
Suponhamos que o oponente tenha uma força igual a seis e você uma força igual a quatro. Se um estiver se esforçando para puxar o outro, em direções opostas, é lógico que o quatro perderá para o seis, mas se o mais fraco empurrar quando o outro está puxando em vez de tentar compensar a força do adversário estará somando quatro com seis e poderá derrubá-lo facilmente.

Tenha cuidado: Não tente puxar o oponente depois que ele o empurrou, pois será tarde demais. Do mesmo modo, não tente empurrá-lo quando ele ainda não o puxou, ou você ficará completamente vulnerável.

2 - Mantenha sempre o equilíbrio.
Como aplicar a força contra seu oponente com três variantes:
a) Empurrar, depois relaxar e em seguida puxá-lo.
b) Puxar, depois relaxar e então empurrar. O empurrão deve acontecer sem precipitação, no momento que ele revidar a puxada.
c) Arremessar o oponente é o modo mais eficaz de derrubar o adversário quando a proximidade é tanta que não se pode puxar ou empurrar. Todo o corpo deve ser usado para revirar o oponente e desequilibrá-lo, levantando-o do chão. Nesta ação usa-se a força dos dois braços e o impulso das pernas, joelhos e quadris. Você não deve colocar-se numa posição que o oponente não possa derrubá-lo, mas manter-se nesta posição desde o começo.

3 - Desequilibre o oponente com mínimo esforço.
Para concentrar a força em determinada parte do corpo, é necessário primeiro relaxar com a consciência alerta, sem afrouxar. A regra vital do desequilíbrio (kusuchi), ou seja, a ação que deixa o oponente numa postura fácil de derrubá-lo ou arremessá-lo: a chave é desequilibrar ou quebrar a postura do oponente. Daí pode-se derrubá-lo com o mínimo esforço.
Você pode deixá-lo numa posição instável deslocando o peso do corpo para fora da base de sustentação. Se ele tentar manter o equilíbrio enrijecendo o corpo, ficará em condições desvantajosas e não poderá recuar nem avançar.

O valor real do Judô somente aparece como resultado da prática regular. Para obter-se os benefícios físicos e mentais do Judô, a prática regular e contínua deve ser observada.

Existem várias formas de treinamento para as técnicas que compõem o Nage-waza, as quais são:

TENDOKU-RENSHIU - é a forma de treinamento solitário ou de sombra utilizando aparelhos ou espelho onde se procura lapidar os golpes e melhorar a rapidez.

UCHI-KOMI - é a forma de treinamento geralmente trabalhada aos pares, podendo ser em trio, onde o objetivo é aprimoramento das técnicas, da rapidez e da força localizada, é conhecida vulgarmente como entrada, pois realiza o trabalho de kuzushi e tsukuri, para e volta ao início rapidamente, sem entanto finalizar o movimento (kake).

YAKU-SOKU-GEIKO – é a forma de treino aos pares, livre e bem leve, sem defesa, movimentando-se solto, aproveitando toda e qualquer oportunidade de golpe. O objetivo principal é condicionar os sentidos para o aproveitamento das oportunidades que vierem a surgir durante o combate.

KAKARI-GEIKO - é a forma de treino onde ocorre o ataque consecutivo de esquerda e direita (hidari e migui) com leve defesa do companheiro que apenas utiliza o Tai-Sabaki. É excelente para o condicionamento físico.

RENRAKU-HENKA-WAZA – é a forma de treinamento que permite o estudo e o aperfeiçoamento das técnicas que em sequência se concatenam, se completam e se combinam.

KAESHI-WAZA - é a forma de treinamento que utilizam as técnicas usadas nos contragolpes, é quando o adversário depois de um ataque insuficiente abre a guarda e oferece oportunidade para ser contragolpeado.

RANDORI - é a forma de treinamento livre e completo, é onde o atleta emprega todo o seu conhecimento e capacidade. É onde se testa a própria eficiência e estuda as suas potencialidades e falhas. O Randori pode-se dizer que é a prova final para a luta em si, para o combate (shiai), é a meta final para a qual o atleta se prepara por longos períodos. É onde em poucos minutos ou mesmo segundos todo o esforço pode ser coroado de êxito ou momentaneamente posto por terra. No caso de derrota o judoca deve raciocinar, procurar a falha e corrigi-la, para na próxima tentativa obter a vitória.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Aquecimento no Judô – com certeza uma necessidade




Os exercícios de aquecimento são utilizados em todas as atividades esportivas e na dança como preparatórios ou introdutórios à atividade principal. Apesar dos atletas de baixa idade que ainda não assimilaram o espírito do judô achar que a atividade é só lutar e alguns instrutores, em função do treino que aplicam ser leve, não gostarem e acharem perda de tempo. Embora se discuta na literatura qual a melhor forma para "aquecer" parece ser consenso que ativar o organismo com exercícios gerais e/ou específicos antes da atividade principal em situação de treinamento, competição ou lazer é fundamental para um melhor desempenho esportivo e também para evitar lesões.

O aquecimento assegura a passagem do organismo do atleta da tranquilidade relativa ao estado de trabalho, superando dessa forma a inércia natural do organismo. Entre outros fatores os exercícios de aquecimento alteram: o volume circulante de sangue por minuto, a ventilação pulmonar e o consumo de oxigênio, que somente atingem seu nível máximo cerca de 3-5 min. após o início da atividade.

Na linguagem corrente dos atletas aquecer significa apenas evitar lesões, no entanto, participar da competição ou treinamento sem o devido aquecimento pode significar chegar ao final do combate com um resultado inferior ao seu potencial. Uma entrada em calor prévia com o aquecimento integral do corpo a uma temperatura ótima para a realização da atividade principal se justifica principalmente por trazer as seguintes vantagens:

a) Passa a existir menos perigo de lesões devido ao aumento da elasticidade do aparelho músculo-ligamentar e da mobilidade das articulações;

b) As reservas energéticas são mobilizadas para a carga que vem a seguir;

c) As reações bioquímicas são aceleradas pela atividade das enzimas para poder ressintetizar mais rapidamente a energia necessária para realizar a carga;

d) As funções orgânicas são elevadas a um nível mais favorável de forma que o organismo possa adaptar-se mais rapidamente à carga seguinte;

e) Prepara os processos nervosos para à carga através da repetição de reflexos específicos ao esporte praticado, bem como de ações voluntárias;

f) Prepara o organismo para ativar o metabolismo aeróbico para retardar o cansaço.

De acordo com o estabelecido acima o aquecimento pode cumprir diversas funções e portanto deve-se levar em conta: o tipo de atividade principal para a qual estaremos preparando os atletas, o nível dos atletas, seu estágio de preparação, em quanto tempo ele deverá ser submetido aos esforços máximos e ainda características individuais dos atletas como categoria de peso, técnica preferida (Tokui-Waza) etc. Assim um aquecimento antes de uma competição de alto rendimento deve diferir de um aquecimento de treino, bem como uma atividade de aquecimento no início de temporada deve ter intensidade diferente de uma pré competitiva. Outros aspectos importantes a serem considerados são o nível de treino dos atletas, idade dos mesmos, as condições de temperatura e pressão e ainda se for o caso de uma competição se é o aquecimento inicial ou entre combates.


Poucos autores se referem a um aquecimento específico para judô, sugere-se que um aquecimento siga em linhas gerais os seguintes passos.

1) Mobilização articular e alongamento - todas as articulações devem ser trabalhadas ordenadamente de cima para baixo (braços, cintura escapular, tronco, quadril e pernas e pé - 4 a 5 vezes cada) e a amplitude dos movimentos deve ser gradativa, os alongamentos musculares devem seguir uma ordenação e uma metodologia específica; nesta primeira fase sugere-se apenas a movimentação das articulações e não exercícios que exijam alongamentos sub-máximos [Tempo aproximado 1-2 min.] Obs: Esta fase é especialmente importante em temperaturas baixas;

2) Aquecimento orgânico (geral) que deve elevar a frequência cardíaca (F.C.) a pelo menos 120-130 batimentos por minuto (bat/min.), isto vai requerer um controle individual do esforço e pode ser feito com corrida, saltitamentos ou exercícios mistos como por exemplo alternar corrida com ukemi e ainda uchi-komi de sombra ou treinamento sombra que é o equivalente ao uchi-komi (entrada de golpes) porém sem parceiro - Tandoku-renshuo [Tempo aproximando 5-8min.];

3) Aumento da temperatura corporal e ativação da via energética anaeróbica lática - a intensidade deve aumentar de forma a ativar (exigir) a utilização da fontes de energia anaeróbica lática, que no judô é predominante no combate. Algumas atividades devem ser propostas com frequência cardíaca elevada próxima de 160 bat/min., são recomendadas atividades específicas de Uchi-komi com variações na intensidade (número de entradas, velocidade e repouso entre as séries). Neste ponto deve-se orientar a atividade de forma que atinja objetivos de preparação das habilidades motoras específicas e individuais, como Uchi-komi do Tokui-waza e em sequência (Renraku) -parado, em movimento e c/ projeção – após essa fase o atleta já pode executar exercícios de força, velocidade e flexibilidade sub-máximos; [Tempo aproximado 4-6 min.];

4) Ativação da via energética anaeróbica lática através de atividades de explosão de até 6-8 segundos e com intensidade máxima (Uchi-komi de velocidade e ou exercícios mistos de tachi-waza e ne-waza), nesta fase deve-se observar um repouso ativo maior para evitar a fadiga; [Tempo aproximado 2-3 min.];

5) Ainda quanto as habilidades motoras parece ser importante que sejam executadas algumas habilidades no solo (Katame-komi, viradas e passagens de guarda), disputa de pegada e ações de defesa de forma a ativar os processos nervosos para estes movimentos específicos. [Tempo aproximado 2-3 min.];

6) Finalmente o atleta deve estar preparado psicologicamente para a luta e este fator deve ser levado em conta durante o aquecimento, o que quer dizer que deve-se saber a ordem dos combates e o atleta que luta em primeiro lugar já entra em preparação para o combate, nesse caso o atletas deve antecipar (mentalizar) os seus primeiros movimentos na área de combate levando em consideração inclusive a adaptação de seu jogo com o do adversário - preparação tática.[Tempo aproximado 1-2 min];

7) O aquecimento deve encerrar com uma atividade de relaxamento, nos casos em que o atleta ainda deva esperar algum tempo antes de seu próximo combate ou de ativação individual e massagem quando for participar do combate nos próximos minutos. [Tempo aproximado 2-3 min.];

A temperatura corporal deve ter sido elevada (1 a 2 graus) de forma que as enzimas sejam ativadas devidamente.

Os resultados de Waldemar Sikorsky e colaboradores (pesquisadores poloneses) indicam que em média em um combate os períodos de ataque não são superiores a 30 segundos de atividade para 10 segundos de intervalo. As atividades propostas no aquecimento devem necessariamente incluir as ações que o atleta utiliza predominantemente, Tokui-waza, renraku-waza e também as atividades de ne-waza, pois somente dessa forma atingiremos o objetivo de preparar os processos nervosos para a carga específica – com exercícios específicos Uchi-komi - Nague -komi - kumikata - e Ne-waza pode-se atingir esse objetivo.

Essas são as linhas gerais que se acredita serem importantes para um aquecimento pré-competição. Sugere-se ainda que em alguns aspectos o aquecimento deva ser individualizado como, por exemplo: observar as diferença que existem entre os pesos pesados e os ligeiros e a preferência pelo combate em pé ou no solo, tipos de pegada e postura etc.

A padronização e a monitorização do aquecimento traz diversas vantagens para o treinador e sua equipe. Em primeiro lugar orienta o atleta de forma que assegure que a entrada em calor seja suficiente e ampla com a abrangência necessária conforme o estabelecido no planejamento. Depois de aprendido o aquecimento padrão, e na falta de um preparador físico, este pode ficar ao encargo dos próprios atletas. Seguindo-se as linhas gerais do aquecimento os atletas podem adaptá-los as suas reais necessidades, como Tokui-Waza, peso, condição física atual e o momento real de entrada em combate. Ainda que não possamos contar com um preparador físico específico no evento deve-se orientar/monitorar o aquecimento pela frequência cardíaca, pelo tempo das atividades propostas e/ou número de repetições de cada exercício. No caso de aquecimentos de treino é recomendável que ele seja variado na sua forma e também na dinâmica para evitar o "stress" mental da repetição constante de uma mesma atividade.